- A Vida em Movimento: Entre o Cansaço e a Esperança - 26 de fevereiro de 2025
- ‘Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer’: álbum de BK’ é testemunho de introspecção e experimentação sonora - 24 de fevereiro de 2025
- Nas vésperas do Oscar, ‘Ainda estou aqui’ já ganhou 38 prêmios - 20 de fevereiro de 2025

O rapper BK’ retorna em 2025 com Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer (DLRE), e se reafirma como um dos maiores nomes do rap nacional. Arriscamos dizer que o motivo pelo qual essa obra foi tão bem recebida pela crítica e pelo público reside na proximidade do artista com seus fãs, ao assumir um tom bem mais introspectivo neste álbum. Além disso, a experimentalidade presente nos samples que uniram a Música Popular Brasileira (MPB) com beats africanos e samba proporcionou uma atmosfera melancólica, orgânica, mas também épica e motivante aos seus ouvintes.
BK’ iniciou sua carreira no Nectar Gang, no Rio de Janeiro, e consolidou-se com seu álbum Castelos & Ruínas (2016), um marco do rap brasileiro, que foi eleito o melhor álbum de rap nacional daquele ano pela Red Bull e pela Genius Brasil. Assim como em DLRE, Castelos & Ruínas tem a dualidade como tema central, e ambos transformam as contradições e contrastes de um jovem preto de favela em poesia. A dualidade está presente na própria natureza do hip hop, a corda bamba entre “lutar contra o sistema” e estar inserido nele, ser ferido por ele e ao mesmo tempo ser financiado por ele.
Agora, Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer surge como um disco autobiográfico. O disco é mais uma imersão de BK’ nas suas dicotomias. Ele explora os dilemas entre individualismo e coletivo, ascensão social e fidelidade às raízes, além de seu próprio legado na música brasileira. O álbum revisita elementos de seus trabalhos anteriores, como Castelos & Ruínas, Gigantes (2018) e O Líder em Movimento (2020). Uma das referências diretas está na evolução de sua visão sobre sucesso e longevidade no rap: em Quadros (2016), ele questionava se preferia “viver pouco como um rei ou muito como um Zé”, enquanto agora, em Só Eu Sei, ele responde: “viver muito como um rei”. Versos nos quais ele faz referência à música Vida Loka Pt. II, do Racionais Mcs.
A produção do álbum se destaca pelo uso de samples como elementos narrativos, dando continuidade à história da música brasileira e do próprio BK’. A escolha de gravar um curta-metragem na Etiópia, terra natal do maratonista Abebe Bikila (de quem o rapper recebeu seu nome), reforça o tom pessoal e a busca por suas raízes.
A introdução da obra se dá com “Você Pode Ir Além”, faixa motivacional que carrega uma atmosfera épica, estimulando o ouvinte a superar desafios. Essa temática do crescimento pessoal permeia grande parte do disco. Já “Não Adianta Chorar” é um dos pontos altos, ao mesclar rap com samba, em um instrumental orgânico e melancólico. Esse encontro entre gêneros também aparece em “Abaixo das Nuvens”, parceria com Luedji Luna, cuja suavidade vocal contrasta com a densidade dos versos de BK’.
A faixa “Só Eu Sei” se destaca pela carga emocional intensa, abordando perdas e superação de maneira confessional. Em “Caco de Vidro”, BK’ incorpora um sample de Evinha, demonstrando sua curadoria sofisticada na seleção de referências da MPB. Essa valorização da música brasileira também se manifesta em faixas que utilizam elementos de Milton Nascimento, Pretinho da Serrinha e Djavan – este último chegou a ser creditado como feat, embora não tenha cantado diretamente no álbum.
O projeto leva a assinatura da AKQA Coala Lab. Apesar de possuir uma extensa ficha técnica, há uma unidade estética que se mantém ao longo do disco. Os samples e as referências à MPB e ao samba criaram uma camada de profundidade e originalidade no álbum. A recepção a Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer tem sido amplamente positiva, tanto por parte do público quanto da crítica especializada. O álbum é elogiado por sua riqueza sonora, que combina rap com elementos de MPB, jazz e samba, e pela maturidade lírica de BK’. A crítica do Kolmeia, portal de cultura pop brasileira, destaca que o trabalho é “cheio de camadas”, transitando entre introspecção e grandiosidade sonora.
Já o site Pop Fantasma, que incluiu DLRE entre os melhores álbuns nacionais do ano, reforça que o disco foi bem recebido dentro da cena musical, consolidando BK’ como um dos principais nomes do rap no Brasil. No entanto, apesar do alto nível da produção, segundo eles, as letras poderiam aprofundar-se ainda mais em certos momentos, trazendo maior complexidade narrativa.
BK’ demonstra sua habilidade em transitar entre o pessoal e o coletivo, o íntimo e o grandioso, sem perder a contundência de sua narrativa. O álbum se constrói como um espaço de reflexão, onde cada faixa contribui para um mosaico de vivências, dores e conquistas. Com uma produção sofisticada e letras que ressoam em diferentes áreas de seu cotidiano, BK’ reafirma sua posição como um dos nomes mais importantes e respeitados do gênero no Brasil.