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Vandana Shiva é uma ativista ambiental, filósofa e física indiana, nascida em 1952, autora de diversos livros, sendo Terra Viva o mais recente deles.
Publicado pela primeira vez em 2022, Terra Viva: Minha vida numa biodiversidade de movimentos, foi editado em português pela Editora Boitempo e lançado em 2024. O livro traça um panorama da vida da autora, desde sua infância na fazenda dos pais, em uma zona rural da Índia, até a construção de movimentos em defesa do meio ambiente ao redor do mundo.
A narrativa de Vandana une literatura autobiográfica com uma complexidade de informações sobre os problemas ambientais, formas de resistência e perspectivas contra-hegemônicas de coabitação neste planeta. Para quem se interessa pelo tema, é uma fonte riquíssima de dados e indicações de leituras para se aprofundar nos assuntos. Além de suas histórias pessoais, a autora entrega para o público uma série de pesquisas e fontes para se informar sobre a destruição dos ecossistemas em diversos lugares do planeta, especialmente na Índia, seu país natal.
Além disso, a autora também se preocupa com as histórias das pessoas que estão ao seu redor e que ajudaram a construir sua própria identidade, fugindo da linha individualista e de exaltação do “eu” para propor uma construção coletiva: cada um de nós é formado por uma diversidade de interações com o mundo e com as pessoas que nos cercam.
Assim, conhecemos a histórias das grandes ativistas ambientais indianas que lutavam pela proteção das florestas com todas as forças desde a anexação de vários distritos do Himalaia pelo Império Britânico, no século XIX. Conhecemos a história de mulheres que deram suas vidas pela proteção das florestas e de suas comunidades, contra a sanha destrutiva dos colonizadores europeus.
Além de trazer a história de sua vida, Vandana Shiva nos conta a história do ativismo ambiental na Índia e o histórico de processos ecocidas que foram sucessivamente impostos por grandes empresas estrangeiras, com o aval dos governos nacionais, ao meio ambiente. A luta ferrenha entre as comunidades tradicionais afetadas pela ambição desmedida dos grandes capitalistas do mundo toma corpo nas páginas da autora. “Diga-lhes que quando bebem Coca-Cola, bebem o sangue do meu povo” é a mensagem que as indianas e os indianos que lutam contra a multinacional passam através da autora. Em vários estados do país, a Coca-cola é acusada de roubar e contaminar a água que abastece as comunidades.
Vandana Shiva caminha por várias frentes do movimento ambientalista, nos oferecendo, em seu livro, uma perspectiva profunda e muito bem fundamentada desses vários campos de luta. A trajetória da implementação dos chamados “pacotes tecnológicos” durante a “Revolução Verde” é desvelada pela autora como um processo de contaminação, destruição da biodiversidade e aprisionamento das camponesas e dos camponeses, na Índia e no Brasil. A história se volta para as terras tupiniquins em diversos momentos pelas similaridades que guarda com a terra natal da autora. Vandana nos conta a nossa própria história através da luta pelos direitos da natureza e dos povos que ainda não foram alienados de suas relações com ela.
Além de conhecer a história da autora, de diversos movimentos de luta na Índia, o livro também traz uma perspectiva sobre a obra bibliográfica da autora, que conta com mais de 20 livros – nem todos traduzidos para o português, infelizmente. A autora faz uma breve apresentação de seus livros, mostrando o que a levou a escrevê-los, os processos que foram vividos para chegar ao livro e os que foram despertados por ele. Terra Viva é o tipo de leitura que gera uma nova lista de leituras, além de despertar um profundo desejo de transformação, uma mistura de esperança com ansiedade pelo que pode ser ou não ser nosso futuro, enquanto humanidade.
Por fim, o percurso de Vandana Shiva ao longo de sua vida, de cientista à ativista (sem deixar de ser cientista) descrito no livro nos entrega uma valiosa lição de como transitar entre academia e sociedade – uma dificuldade que permanece para muitos acadêmicos hoje em dia, cuja superação é necessária e urgente.