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Antônio Carlos Belchior, mais conhecido como Belchior, foi um cantor, poeta, compositor, músico, produtor, artista plástico e professor. Ele nasceu em Sobral, no Ceará, em 26 de outubro de 1946, e faleceu aos 70 anos, de forma misteriosa, em 30 de abril de 2017, em Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul. Coincidência ou não, suas músicas eram apreciadas e tocavam os corações de fãs do Ceará ao Rio Grande do Sul. Devido a sua importância, o então governador do Ceará, Camilo Santana, decretou luto oficial de três dias. Nos últimos anos de vida, Belchior desapareceu por duas vezes, sendo encontrado no Uruguai.
A qualidade de suas letras e músicas não surgiram por acaso. O pai era um respeitado juiz e delegado da cidade, a mãe foi cantora do coral da igreja e a família tinha vários músicos. Belchior frequentou boas escolas e cursou medicina na Universidade Federal do Ceará, mas não concluiu. Além disso, no início da carreira, teve excelentes companhias musicais, como as de Fagner, Ednardo e Amelinha, que refinaram seu repertório. Pelo seu estilo, sua forma de cantar e excelência das letras das suas músicas, chegou a ser comparado com o Bob Dylan.
A singular obra de Belchior vem sendo redescoberta por uma nova geração de fãs, principalmente após a interpretação de suas músicas por artistas como Los Hermanos e Emicida, a volta dos discos de vinil e o contexto sócio-político-econômico atual.
Seu álbum denominado Alucinação, de 1976, é considerado, por vários críticos musicais, como um dos mais revolucionários da história da MPB e um dos mais importantes de todos os tempos da música brasileira. Em uma única noite o cantor gravou todas as músicas deste álbum na casa da Elis Regina. Após escutar as músicas, Elis Regina escolheu duas canções para interpretar. Coube a ela revelar Belchior para o mundo.
A primeira canção, Velha Roupa Colorida, é um poema cheio de citações. Quando cita o poeta Edgard Allan Poe, Belchior se refere ao poema O Corvo, que trata de uma dor ainda não sentida devido a perda de um amor. O sofrimento se confunde com o pássaro que emerge do passado para o presente, e que, em nome da sobrevivência, precisa ser superado.
Belchior consulta, então, dois pássaros: o pássaro negro, Blackbird, da música dos The Beatles, e o Assum Preto, da música de Luiz Gonzaga.
Blackbird se refere a luta pelos direitos civis nos anos 60, principalmente dos negros. Assum Preto se refere a um pássaro que é livre, mas que não pode voar por ter tido os olhos perfurados. A comparação com a vida dos negros libertados e pobres dos anos 20 no Brasil é trazida para o brilhante cenário musical do Belchior.
Belchior evoca a imagem do corvo em outras canções e parecia querer que a ave devorasse a carniça das velhas estruturas sociais.
Essas reflexões levam Belchior a dizer: “que uma nova mudança em breve vai acontecer, e o que há algum tempo era novo, jovem, hoje é antigo e precisamos todos rejuvenescer”.
Na música Velha Roupa Colorida, Belchior compartilha suas referências, como Edgard Allan Poe, Beatles e Luiz Gonzaga. Em Como Nossos Pais Belchior aborda as angústias contidas no seu coração em um papo reto, refletindo sobre os conflitos entre as velhas estruturas de poder e a juventude que poderia derrubá-las.
No entanto, admite a derrota quando diz: “minha dor é perceber, que apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos, ainda somos os mesmos e vivemos, como os nossos pais”. Viver como nossos pais seria viver no sistema que quebrou as asas do Blackbird e furou os olhos do Assum Preto. Tudo em troca de um certo conforto material e do vil metal.
Em 2009, a canção Como Nossos Pais foi considerada pela Rolling Stone Brasil, como uma das 100 maiores músicas brasileiras, ficando, injustamente, na posição 43.