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Stefane Amaro
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Ensaio técnico do Salgueiro na Sapucaí para o Carnaval 2025. Foto: Allan Duffes, 2025.
Ensaio técnico do Salgueiro na Sapucaí para o Carnaval 2025. Foto: Allan Duffes, 2025.

Quando é fevereiro, eu me lembro do que ouvi uma vez e nunca me esqueci: samba não é brincadeira. O vento quente, as milhares de pessoas reunidas e misturadas sendo parte de uma coisa só, profana e sagrada: o Carnaval. Nesse ano, o sagrado se apresenta para lembrar que o samba não canta, o samba invoca: nos enredos, vozes e energia de muitas escolas que passarão pela Sapucaí, está a força e resistência de uma cultura que se recusa a morrer: o Candomblé.

Vejo as escolas abrindo alas para o sagrado e me lembro das vezes que, na porta de um terreiro, ouvi que “precisava procurar Deus”. Como se ali, com os pés descalços, sentindo a força do atabaque e dos meus irmãos, houvesse apenas o vazio. Procurei, e encontrei. No vestir branco, no pedir licença ao entrar em uma cachoeira, na fumaça do incenso que sobe como prece.

Agora, vejo novamente esse encontro na avenida. Cada escola que passa, cada tambor que ressoa, cada saudação a um orixá é um lembrete da fé de um povo que nunca se apagou e não irá.

“Mais do mesmo”, dizem alguns. Mas, no país em que mães e pais de santos veem seus terreiros destruídos diariamente, invocar a justiça de Xangô é mais que um tema, é afirmar: “estamos aqui e daqui não sairemos”. 

Se Exu matou um pássaro ontem com uma pedra que só jogou hoje, é porque, nesse instante, passado e futuro se cruzam: o que um dia tentaram calar, hoje ressoa mais alto do que nunca – e a resposta não vem dos homens, mas do próprio tempo.

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