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Daniel Mynssen
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Imagem: Instagram @nikolasferreira

Nos últimos dias, um vídeo do deputado Nikolas Ferreira viralizou ao denunciar a fiscalização e a suposta “taxação do Pix”. Em questão de horas, a repercussão foi tão intensa que o governo precisou se manifestar às pressas para se posicionar em relação à informação dada pelo deputado. Mas a questão central não é apenas a veracidade da denúncia. O ponto-chave aqui é como um único vídeo, bem estruturado e direto, conseguiu desequilibrar um debate nacional e colocar o governo na defensiva. Enquanto Nikolas dominou a narrativa, o governo reagiu tarde, de forma confusa e sem a clareza necessária para tranquilizar a população. Esse episódio não é um caso isolado, mas um retrato da total ineficiência do governo em se comunicar com seu próprio povo.

A comunicação política eficaz não se trata apenas de falar, mas de ser entendido. Nikolas Ferreira estruturou seu vídeo com um tom acessível, usou um discurso envolvente e conectou-se diretamente com o sentimento de indignação popular. Sua mensagem foi clara: o governo quer taxar ainda mais o cidadão trabalhador, mesmo que não seja agora. Se isso realmente ia acontecer ou não, pouco importou. O estrago já estava feito. O governo, ao invés de antecipar a crise e esclarecer a questão antes que o caos se instalasse, foi obrigado a responder na defensiva. E quando finalmente se manifestou, o fez de maneira burocrática, com comunicados técnicos que não conversam com o público. O resultado foi previsível: a população ficou ainda mais desconfiada e a oposição saiu como a grande vitoriosa.

Essa fragilidade na comunicação não é um problema recente. O governo já havia enfrentado dificuldades semelhantes quando emplacou a taxa das blusinhas. Naquela ocasião, a medida foi anunciada de maneira desorganizada, gerando um desgaste imenso. Isso aconteceu em 2024, quando o Senado aprovou a cobrança de 20% de imposto de importação sobre compras internacionais de até 50 dólares, uma decisão que gerou ampla insatisfação popular e reforçou a percepção de que o governo não consegue articular bem suas propostas antes de anunciá-las. O padrão se repete: decisões impopulares são tomadas sem qualquer trabalho prévio de convencimento da população por meio de uma narrativa estruturada. Quando a rejeição explode nas redes sociais, o governo é obrigado a correr atrás do prejuízo. O resultado é sempre o mesmo: desinformação, instabilidade e um governo que parece não ter o controle da sua própria comunicação.

Mas o problema vai além da comunicação: reflete uma crise de autoridade. Quando o Banco Central, a instituição mais importante do país em termos de estabilidade econômica, adota uma comunicação que oscila entre a seriedade e tentativas de engajamento digital, o sinal que se passa é de amadorismo. Em um cenário econômico delicado, com inflação persistente e juros altos, atualmente em 13,25%, segundo o Banco Central, a população espera um discurso firme e transparente. No entanto, em meio a esse contexto, algumas publicações nas redes sociais do Banco Central geraram críticas por adotarem um tom descontraído em momentos de alta volatilidade econômica. Esse tipo de postura mina a credibilidade da instituição, que deveria atuar como um pilar de confiança para investidores e cidadãos. Enquanto a oposição aproveita cada falha para construir narrativas que mobilizam milhões, o governo desperdiça seu espaço com postagens irrelevantes.

E essa falta de estratégia não se limita à comunicação: ela escancara um governo que perdeu o controle sobre sua própria imagem. Se não consegue controlar a narrativa, como pode controlar a economia ou o futuro do país? No fim, a população já está percebendo a incapacidade do governo de administrar crises, seja na economia, comunicação ou em qualquer outro âmbito.

A resposta do governo a essa crise de comunicação segue a mesma lógica de sua política econômica. Se o presidente já disse “Está caro? Não compra”, sua abordagem para lidar com críticas segue o mesmo raciocínio: “Está pegando mal? Finge que não existe.” O governo não consegue se comunicar? Então age como se não precisasse. Enquanto Nikolas Ferreira e a oposição dominam as redes e ditam o ritmo do jogo, o governo assiste passivamente à goleada sofrida. Sem estratégia, sem reação, sem rumo. Mas o placar dessa derrota não afeta apenas quem está no poder. No fim, quem realmente perde esse jogo é o povo brasileiro, que fica refém de um governo incapaz de controlar sua própria mensagem, a economia, a estabilidade e o futuro do país.

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