
Existiu uma época em que eu ficava empolgada ao ir ao centro de Goiânia. Com a desculpa de comprar os materiais escolares do ano, eu passeava pelas ruas, engolindo cada detalhe dos prédios antigos, a conversa das pessoas, o movimento dos ambulantes, contracenando com minha mãe, apressada para sair logo dali.
Depois, talvez pela melancolia que todo mundo desenvolve na adolescência, entendi por que ela evitava o centro. Minha mãe já tinha estado ali antes, em outra época, quando ela era outra pessoa e aquele, outro lugar. O Cine Ritz que ela conhecia era mais colorido. As ruas por onde caminhava estavam sempre cheias de pessoas interessantes e olhares curiosos. Se perguntasse, ela não se lembraria de tanto mofo escondendo o art decó dos prédios.
As memórias de sua juventude não encontram mais os lugares que as originaram. Sua alma de empresária se enche de uma angústia sem tamanho quando vê tantos comércios de portas fechadas. Eu não tenho alma de empresária, mas sinto o pesar que paira no ar. Penso nos relatos que já li, que já ouvi, sobre um centro que não vou conhecer.
Naquela época, todas as placas “aluga-se” seriam desconhecidas. A falta de lugar para estacionar não seria um problema para as centenas de pessoas que queriam estar ali. Tinha música, tinha vida, tinha sabor de capital. Tinha jovens e velhos. Tinha revistas e bugigangas e churrasco grego.
Hoje, vejo esqueletos. Prédios abandonados que nunca foram mais do que o grande sonho da vida de alguém. Um BRT que faz as pessoas passarem por ali, mas não pararem. Mal há luz para iluminar o que já foi uma das partes mais pulsantes do Estado. Só se encontra o cheiro de nostalgia triste no ar, uma aura cinza que deixa tudo ali cinzento também.
Não posso deixar de pensar no Setor Central. No que poderia ter acontecido. No que aconteceu. Nas memórias enterradas sob as obras de trânsito. No lugar esquecido que já foi o mais importante da cidade. E para onde estamos caminhando, se não sabemos valorizar o passado.
O que se espera que aconteça com o corpo da cidade quando seu coração para de bater?
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