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Alexia Finazzi
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“Por que você está procrastinando isso?”  

A pergunta me pegou de surpresa, no meio de uma conversa informal no carro, voltando para casa. Eu sabia que estava adiando uma tarefa simples—ou pelo menos aparentemente simples—e que poderia abrir portas para novas oportunidades profissionais. Mas não havia parado para refletir sobre os motivos da minha demora. Ou talvez apenas não quisesse admiti-los.  

Uma grande marca havia demonstrado interesse no meu trabalho como artista de murais. Pediram uma proposta de orçamento e receberam, da minha parte, um silêncio constrangedor. Um vácuo, como diriam. “Que absurdo! Você está perdendo uma baita oportunidade”, alguém poderia pensar.  

Eu poderia justificar minha hesitação de várias formas. Dizer que meus dias estavam corridos—afinal, organizar um casamento em meio à pressão do último ano da faculdade não é exatamente um cenário tranquilo. Poderia argumentar que estava focada no jornalismo e que, no momento, não havia tempo para projetos artísticos. Ou ainda, que estava apenas aguardando o melhor jeito de apresentar a proposta, já que nunca havia feito algo semelhante antes.  

Mas no fundo eu sabia que nenhuma dessas respostas explicava o real motivo da minha procrastinação. Então, simplesmente respondi: “Não sei”. A verdade é que eu sabia muito bem. Só não queria verbalizar um sentimento que já conhecia bem: o medo. Mas medo de que, afinal? Medo do novo. 

Medo de sair da zona de conforto. Medo de encarar o perfeccionismo que me paralisa quando as circunstâncias não parecem perfeitas. Medo de ter expectativas frustradas. Medo de expor algo no qual ainda estou me aprimorando. Medo da opinião alheia. Medo de fracassar.  

E esse medo não é só meu. Ele nos atravessa a todos, em diferentes momentos e situações. Lucas gaguejou ao chamar uma garota para sair pela primeira vez. Rebeca se sentiu deslocada ao ir ao cinema sozinha. Giovana hesitou antes de dar sua primeira aula, mesmo depois de anos estudando para aquilo. Daniel evitou ao máximo ir ao hospital sem os pais. Flaviane quase desistiu de começar a vender seus produtos na feira do bairro. Rafaela passou horas pensando se deveria postar o vídeo de abertura de seu canal no YouTube. Ricardo teve receio de se arriscar no primeiro treino de futevôlei depois de anos jogando tênis.  

Talvez a verdadeira pergunta que devêssemos nos fazer seja : o que temos a perder ao tentar?

Conforto? Uma imagem imaculada? Algumas horas do nosso tempo? Sim. Mas quem disse que perder é sempre algo ruim? Ousar tentar algo novo também pode nos fazer perder o peso de buscar perfeição, a necessidade de aprovação, a monotonia dos dias previsíveis e, quem sabe, a falsa sensação de controle na qual nos agarramos a todo e qualquer custo.

A possibilidade de falhar existe e pode doer. Mas não seria o fim do mundo. Na verdade, talvez esse seja um lembrete de que a vida não foi feita para ser controlada milimetricamente, mas para ser vivida—com todos os riscos e surpresas que vêm no pacote. No fim das contas, o peso de viver preso ao “e se?” sempre será maior do que o de se arriscar.

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