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Rolando pelo feed do Instagram, me deparei com um vídeo curioso. No centro da cena, um prefeito gesticulava com empolgação enquanto propunha soluções para um problema em Sorocaba (SP). O vídeo seguia o formato típico das redes sociais: edição ágil, legendas dinâmicas e até um desses memes para prender o espectador. A publicação já acumulava milhões de visualizações, conquistando engajamento muito além das fronteiras da cidade. O detalhe? Eu não sou de Sorocaba, não pesquiso sobre política local e, ainda assim, lá estava eu, assistindo. Será que o algoritmo enlouqueceu ou os políticos finalmente descobriram como viralizar?
A essa altura, a fórmula já não é novidade. Prefeitos e governadores estão trocando gabinetes por roteiros de conteúdo e a gestão pública se tornou um grande palco de trends. O feed político agora precisa ser estrategicamente planejado, e Goiânia entrou de vez nessa onda. O prefeito Sandro Mabel tem levado a sério essa abordagem, gravando vídeos em que repreende descarte irregular de lixo, fiscaliza obras e até resolve pequenos problemas urbanos, como tampas de bueiro desalinhadas. Tudo no melhor estilo reels – dinâmico, direto e com uma boa dose de atuação. Parece eficiente, engajado, moderno. Mas o que realmente está sendo feito?
A questão não é apenas sobre comunicação. É sobre uma nova forma de convencer. Governar, hoje, não é só fazer – é ser visto fazendo. E aí está o segredo. Como disse Ambrose Bierce, “A diferença entre um herói e um covarde? O herói é só aquele que teve mais testemunhas.” No jogo da política digital, essa lógica nunca fez tanto sentido. As redes sociais transformaram a percepção dos eleitores: uma cidade bem administrada já não é medida por infraestrutura ou qualidade de vida, mas pelo número de postagens diárias do prefeito. O feed impecável vale mais do que a cidade funcional.
E o problema? Entre um corte bem editado para o Instagram e a realidade nas ruas, a política virou um jogo de aparências. No fim das contas, não são os buracos tapados, os hospitais equipados ou o transporte público eficiente que garantem votos. São os reels. São as visualizações. São os comentários exaltando a postura “ativa” do gestor.
Se há algo que esses vídeos provam, é que a política se digitalizou de vez. E os eleitores, seduzidos pelo dinamismo das redes, muitas vezes não votam pelo que veem na cidade, mas pelo que assistem na tela do celular. Afinal, se está no explorar, deve ser verdade, não é?