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A Língua Portuguesa é fascinante! Me lembro que, no Ensino Médio, em determinado momento, estava obcecado pelo estudo dos tempos verbais na gramática. Sabia recitar os verbos de cor e salteado nas mais diversas conjugações.

Porém, teve uma classificação em específico que mais me chamou a atenção, desde que a li escrita no quadro pela professora. “Futuro do pretérito: indica uma possibilidade que aconteceria no futuro em uma situação passada.” Em seguida estava o exemplo uma qualquer oração, na qual o verbo era “seria”.

Após uma reflexão aprofundada, percebi que essa conjugação é confusa, pois vivemos em constante relação com o verbo ser. Uns se projetam pelo futuro (será), outros se contentam com o passado (foi). Há aqueles que idealizam a existência (que seja) , para outros existir já basta (sou).

A forma mais complexa de lidar com o verbo “ser”, no entanto, era aquela escrita no quadro, conjugada no futuro do pretérito: uma perspectiva agora inexistente, que só teve forma no passado e nunca viu a possibilidade de se tornar presente. Ora, não cabe na limitação gramatical o peso do que “seria”.

O tempo se compõe em constante viagem pro futuro e em cada bifurcação, cada esquina, cada quimera morre uma realidade que poderia um dia ter sido. A existência é, portanto, um objeto quantitativo, no qual para que algo exista, vários outros precisam necessariamente não existir.

Pense, você pode um dia ter esbarrado em quem poderia vir a ser o amor da sua vida, pode ter rejeitado o emprego dos seus sonhos ou ter deixado passar qualquer outra oportunidade de alcançar seus objetivos.

Uma máxima que define muito bem o futuro do pretérito foi cantada na década de 80 por Renato Russo. “O que aconteceu ainda está por vir e o futuro não é mais como era antigamente”. A frase, aparentemente paradoxal do cantor traz um direcionamento claro de pensamento.

O curioso é que na época em que estudei o Futuro do Pretérito, tinha meu caminho todo desenhado e rigorosamente programado na cabeça. Hoje, percebo que nenhum caminho é mais linear. As amizades são construídas virtualmente, trabalhamos em casa, salvamos as coisas na nuvem. Aprendemos a ser em distância.

No entanto, vejo que há um grande benefício da dúvida. Nenhuma possibilidade define. Devemos prestar conta somente àquilo que É. A existência é só uma e só acontece uma vez. E, claro, só é possível existir se deixarmos as inexistências de lado.

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