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O frio na barriga antes de entrar em um avião para começar um novo capítulo, a dor e o choro de uma despedida, o famoso abraço no aeroporto ou a alegria do reencontro, são sentimentos que em algum momento vamos vivenciar. Aquela sensação de “anestesiamento”, vagando rumo ao seu portão, também é muito comum, mas tinha enfrentado tudo isso e finalmente estava sentada na poltrona 30C, da classe econômica, aguardando o fim dos procedimentos de embarque e a decolagem para um voo de 12 horas. 

Enquanto algumas lágrimas escorriam pelo meu rosto, começo a prestar atenção na comissária, que entrega um cinto para um pai sentado na poltrona à minha frente, no corredor do meio, daqueles que os bebês precisam usar e é anexado ao cinto do responsável, e pergunta “você sabe usar?”, enquanto dá as instruções e entrega uma pelúcia para a criança. Me pego sorrindo para a neném, que aproveita toda oportunidade para se virar para trás e brincar com os passageiros.

Paro de repetir o abraço e o último beijo de despedida, que passavam como um filme em minha cabeça, e, os meus pensamentos dão lugar ao sonho de casar e ter filhos. Acreditem, quando você está em uma latinha de sardinha a dez mil pés do chão, muitas coisas passam pela cabeça. Nesse momento, me dou conta que o medo de ser mãe na adolescência não é mais real, pois já sou uma quase adulta responsável. Porém, outros medos e julgamentos sempre vão surgir na vida de uma mulher. 

Quando somos mãe na adolescência, todos os dedos são apontados à medida que julgam nosso valor. É como se a vida tivesse acabado e nossa única utilidade e função fosse ser mãe a partir daquele momento, muitas vezes solo – ser pai, afinal, é uma escolha. Não obstante, somos taxadas de promíscuas, o sexo é motivo de orgulho só entre homens. Mas em caso de abuso, você deve ser mãe, não importa a idade. 

De qualquer forma, eu não engravidei na adolescência. Então, tá tudo bem, né? Porém, o julgamento, como eu disse, não para por aí. E se eu, ou qualquer outra mulher, escolhermos priorizar o trabalho e a  vida profissional? Mais uma vez seremos alvos de críticas, taxadas de feministas ou modernas demais. Não vamos esquecer, ainda, que os cargos mais altos geralmente são ocupados por homens, até mesmo porque eles são mais capacitados e nunca vão precisar de uma licença de maternidade. Essa é nossa “função”: ser mãe e cuidar da casa. 

Atualmente, consigo conciliar a minha vida amorosa com a profissional. Tive a sorte de encontrar alguém que me apoia a conquistar os meus sonhos e respeita meu tempo e limites, mas, e se quando finalmente eu tiver “chegado lá”, eu for velha demais para ser mãe? Aos poucos uma mulher vai perdendo o seu valor, aos 30 você já não é a mais bonita ou a melhor opção de um homem. 

E digamos ainda que eu conquiste um emprego e uma família dos comerciais de margarina… Nossas escolhas como mãe e a forma como decidimos criar e educar os filhos ainda serão alvos de críticas e, talvez, esse seja um reflexo da nossa sociedade. 

Escuto a voz do piloto falando “tripulação vamos iniciar o procedimento de pouso”,  e percebo que me perdi completamente em meus pensamentos durante o voo. Quando finalmente pousamos no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, dou um último sorriso para a neném em minha frente, como uma despedida e agradecimento. Meu sonho não mudou: quero ser mãe um dia, independente dos julgamentos e, se em algum momento, sentir que já não caibo mais na realidade à minha volta, sempre vou poder entrar num avião e começar um novo capítulo. O frio na barriga e a sensação única em um aeroporto são a passagem para fugir dos julgamentos, pelo menos por um breve momento. 

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