Ismar Madeira é graduado em Comunicação Social-Jornalismo pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), mestre em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e ex-coordenador do curso de Jornalismo da Fundação Mineira de Educação e Cultura (Fumec). É repórter da TV Globo desde 1990, com passagens pelo “Globo Esporte”, “Esporte Espetacular”, “DFTV”, “Globo Repórter”, “MGTV”, “Bom Dia Minas”, “Jornal Hoje” e “Jornal Nacional”. Desde 2019, é correspondente internacional em Nova York.

Antes de iniciar o curso de Comunicação Social você tinha algum outro interesse ou sempre soube a área que gostaria de atuar?
O curso de Comunicação Social tinha dois anos de Comunicação geral, que todos os alunos cursavam, e depois tinham que escolher uma opção entre Jornalismo, Publicidade ou Relações Públicas. Eu optei pelo Jornalismo, mas na verdade entrei pensando em fazer Diplomacia. Essa área me atraia bastante e eu precisava de dois anos de qualquer curso superior para poder prestar o concurso do Instituto Rio Branco. Assim, comecei o curso de comunicação pensando em publicidade e acabei me apaixonando pelo Jornalismo a ponto de me esquecer da Publicidade e do Rio Branco.
Você começou estagiando na Rádio Nacional e na assessoria da FUNAI. Logo em seguida, foi contratado pela TV Brasília, afiliada a extinta TV Manchete. Em qual momento da sua faculdade você fez os estágios? E como eles influenciaram a sua entrada no mercado de trabalho?
Acho fundamental, durante o curso, aproximar-se do mercado e fazer algum tipo de ativade dentro do Jornalismo e conhecer pessoas. No meu caso, interessei-me muito por publicidade e cheguei a trabalhar na área. Estava indo para o último ano da faculdade, mas ainda não tinha nenhuma experiência, então comecei a buscar um estágio. Iniciei na assessoria de comunicação da FUNAI, aprendi coisas básicas como o que é um Lead, o que é escrever uma informação e como entrar em contatos com fontes. Foi excelente. Foi aí que começou o exercício de buscar a notícia mesmo onde ela não é tão evidente porque uma assessoria tem como função mostrar os projetos de maneira interessante. Em seguida, fui para a Rádio Nacional onde tive uma experiência fantástica e até cheguei a pensar em trabalhar com rádio de tanto que gostava. Lá mesmo, sendo estagiário eu consegui ser setorista do Palácio do Buriti, sede do poder executivo do Governo do Distrito Federal. Era um momento crucial para o DF, pois não possuía eleições para governador. Mas passaria a ter depois da Constituinte promulgada no mesmo ano.
Você atuou em várias áreas como jornalismo esportivo, assessoria e reportagem. Essa transição nas editorias foi de forma gradual ou de maneira determinada, do tipo “Agora vou deixar de fazer o esporte e vou mudar de rumo”?
Na época em que eu trabalhei na Rádio Nacional eu conheci algumas pessoas da TV Brasília e fui convidado para trabalhar lá, logo que me formei. No ano seguinte, o Chefe de Reportagem da Rádio Nacional que também era editor de esportes da TV Globo lembrou de mim pelo trabalho como estagiário e me convidou para preencher uma vaga na Globo, só que na área do esporte. Depois de um ano nessa área, fui migrando para o jornalismo local e fui setorista do Congresso Nacional para o Jornal Hoje e para o Bom Dia Brasil. Nessa época eu estava pegando o que tivesse de trabalho, tanto que eu começava de manhã cedo como editor do Tele Manhã, da Manchete, depois ia para a TV Educativa do Rio de Janeiro como repórter e por fim fechava o dia de volta na TV Brasília organizando o programa do outro dia. Então, de certa forma, eu fui migrando aos poucos para cada área de trabalho.
Em 1995 você mudou de Brasília para Belo Horizonte e, na Globo Minas, saiu de repórter para apresentador. Além disso, você teve que se adaptar a características de Minas Gerais que possui maior variedade de telespectadores, como os que moram na divisa com a Bahia, os que estão próximos de São Paulo e com interesses distintos. Como foi para você lidar com essas mudanças?
Em Brasília eu estava no Jornal Hoje, onde cobria Economia e Política, que eu gostava muito. O convite para Minas foi para ir trabalhar com a equipe do Jornal Nacional e tinha uma proposta muito legal que era cobrir reportagem de campo, uma coisa muito diferente do que eu fazia no Distrito Federal. Lá, eu ia para o Congresso, Ministérios e o Palácio do Planalto todos os dias. Mudar para Minas se apresentava como uma opção que fechava meu ciclo em Brasília, em que pude aproveitar cada experiência de trabalho. Quanto a essas diferenças de telespectadores, no meu caso foi muito boa. Pois cada região tem suas riquezas de histórias e poder contar isso para o Brasil foi um desafio incrível. Não foi à toa que eu fui pensando em ficar quatro anos e acabei ficando 20 anos.
Você falou como a reportagem de campo foi um diferencial para a sua decisão. Há duas coberturas diferentes que me chamaram muito a atenção, uma do Globo Reporter e outro do Jornal Nacional – a do Vale do Peruaçu e a do incêndio da igreja do Carmo, em Mariana. Gostaria de saber como foi fazer essas duas coberturas, uma no meio da mata, com difícil acesso e tempo para produzir, e a outra uma tragédia repentina que necessitava de cobertura rápida e precisa?
O Peruaçu fica no meio do Parque Nacional e lá em 2002 nós tivemos que levar os equipamentos com a ajuda de animais de carga, pois a travessia era muito difícil. Ficamos uma semana acampados para conseguir mostrar todas cavernas, suas belezas e a vida das comunidades indígenas que vivem por lá. No caso da igreja de Mariana, eu estava na redação em BH e recebi a notícia de que a igreja já estava pegando fogo. Em pouco tempo, entrei no helicóptero para Mariana, pousamos, fizemos algumas imagens. Enquanto isso, minha produção entrava em contato com pessoas que tinham vídeos do incêndio. Eu gravei uma passagem para mostrar o que estava acontecendo, conversei com algumas pessoas, peguei o material que estava lá e voltamos para Belo Horizonte. Isso tudo em cerca de meia hora. Algo muito semelhante foi o rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, para o qual mandamos um helicóptero para fazer imagens enquanto eu escrevia a reportagem, sendo que fomos para o local na mesma noite e acabamos passando 1 mês morando em Mariana para cobrir todo o desdobramento do desastre. Porque você tem a notícia de campo, pensada, planejada e produzida e a outra que tem que ter agilidade para produzir pois ela vem de repente.

Uma coisa é mudar de estado; só que mudar de País deve ser uma experiência profissional inigualável. Desde 2019, você está atuando como correspondente internacional da Globo em Nova York. Como foram esses desafios?
Achei incrível quando recebi o convite para mudar de país, pois eu já tinha alguma ideia de me tornar correspondente internacional. E eu sempre estou pronto para mudanças de novos lugares, novas pautas e buscar ação na vida. Isso me fez ser Jornalista. Em 2019, foi a descoberta da cidade, onde fizemos muitas reportagens mostrando o dia a dia. No ano seguinte enfrentamos a Pandemia. Com escritórios e estúdios fechados, tivemos que trabalhar de casa fazendo reportagens e entradas ao vivo de casa, mudando completamente a logística do trabalho. No mesmo período, tiveram as manifestações do Black Lives Matter que vieram após o caso de George Floyd, homem negro assassinado por policiais brancos, depois, veio a eleição presidencial em que Donald Trump perdeu para Joe Biden. Em 2025, fui para Los Angeles cobrir o Globo de Ouro, a vitória da atriz Fernanda Torres pelo filme Ainda Estou Aqui, sendo que apenas dois dias depois já estava cobrindo algo em uma situação totalmente diferente. Eu estava no “no meio do fogo” que devastou muitos bairros de Los Angeles e outras cidades. Ser correspondente internacional me proporcinou muitas mudanças desde o lado político com os protestos, Pandemia, entrevistas com grandes estrelas.

Qual a sua perspectiva para o futuro da Comunicação? E como você vê a função dos novos jornalistas em preservar o profissionalismo na área?
Eu acho que cada vez mais é necessário estar pronto para cobrir qualquer coisa. Hoje, a tecnologia permite isso e um exemplo para mim foi a cobertura dos incêndios em Los Angeles, na qual eu entrei ao vivo no Jornal Hoje usando o celular, bem difernente do ocorrido na igreja do Carmo, em que tivemos que ir para o local para conseguir informações e voltar. A velocidade com que as notícias chegam é algo que os novos jornalistas têm que lidar. Porém, sem perder a noção do que é Jornalismo, porque esse é o grande desafio: todo mundo pensar que com uma câmera na mão e uma história para contar, pode virar Jornalista. O Jornalismo profissional tem um padrão de trabalho e um compromisso com a apuração da informação, sendo essa a maior diferença. O grande desafio das novas gerações a meu ver é ter paciência para ter uma formação adequada e pensar o Jornalismo de modo a preservar a sua credibilidade.
Meu pai e eu fomos entrevistados pelo Ismar Madeira na década de 1990, quando ele estava no Globo Esporte e logo depois ele foi para Minas Gerais.
Muito legal ler o relato dele e toda a sua história, que acaba ficando no nosso inconsciente como parte das nossas.
Excelente entrevista realizada pelo Fernando Silveira, podemos ver o interesse dele pela profissão em ficar sabendo o que lhe espera para o futuro.
Parabéns!