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A jornalista Fernanda Ribeiro, formada em rádio TV com uma trajetória de 15 anos na televisão Anhanguera, migrou para o mercado de assessoria de comunicação em 2011, após se graduar em Jornalismo e fazer pós-graduação em Assessoria de Comunicação e Marketing pela UFG. Além disso, se destacou no campo acadêmico, começando a lecionar em 2009 e continuando sua formação em Comunicação e doutorado em Antropologia pela UFG.

Imagem fornecida pela entrevistada.

Ao longo desta entrevista, exploraremos a trajetória profissional de Fernanda Ribeiro e sua vasta experiência no jornalismo e na assessoria de comunicação. Ela também compartilhará sua vivência no ambiente acadêmico, desde o ensino até a pesquisa sobre comunicação nas redes sociais dentro do contexto da Antropologia, além de reflexões sobre o impacto da educação e da formação contínua para os profissionais da área.

Como foi a sua trajetória no jornalismo?

Eu me graduei em 1997 em Rádio TV. Eu já trabalhava enquanto cursava a faculdade, fiz vários estágios e, quando estava no meu último ano, fui contratada na televisão Anhanguera. Fiquei lá por 15 anos. Em 2005, eu retorno à universidade e curso Jornalismo, e, em seguida, faço uma pós-graduação em Assessoria de Comunicação e Marketing, também pela UFG.


Trabalhando na redação, percebi que existia outro mercado, igualmente promissor para os profissionais de jornalismo, que era o setor de assessoria de comunicação. Como a gente não tinha tido muita formação nas disciplinas de planejamento, voltei para a faculdade para me capacitar e poder também atuar nesse segmento.

Fiquei na televisão por quase 15 anos. Migrei para o mercado de assessoria de comunicação em 2011, deixando a TV para assumir a comunicação do município de Aparecida de Goiânia. Permaneci lá por quase dois anos, trabalhando e estruturando a assessoria. Foi um trabalho muito desafiador, mas muito gratificante; me orgulho bastante do que realizei lá.

Nesse meio tempo, crio minha empresa, que se chama Espelho Meu Consultoria de Imagem e Mídia Training. Estudei mais e comecei a ministrar cursos de mídia training, além de atender clientes pela minha agência. Atendi profissionais da área da saúde, da educação e da construção civil. Hoje, além da docência, mantenho minha agência e atendo esses clientes na área de consultoria em planejamento de comunicação e produção de conteúdo, que é uma demanda crescente no mercado. É uma atividade que desempenho com muita tranquilidade, graças à minha formação em jornalismo, principalmente na produção de conteúdo audiovisual. Atuo bastante nesse ramo.

A docência entra na minha vida em 2009, por acaso. Precisei substituir meu marido, que dava aulas no curso de Publicidade da Católica. Era para ser apenas por dois meses, mas acabei ficando dois anos, e gostei muito da experiência de lecionar, pela oportunidade constante de estudar e se atualizar, além da convivência com os alunos, que sempre trazem novidades. Gostei muito da docência, mas senti que, apenas com a pós-graduação, faltava um pouco de base teórica para dar aula. Então, em 2012, voltei para a faculdade e fiz o mestrado em Comunicação na UFG. Toda a minha formação é pela UFG.

Em 2018, retorno mais uma vez para cursar o doutorado, desta vez em Antropologia. Na época, ainda não existia o doutorado em Comunicação na FIC, e já fazia muito tempo que eu havia terminado o mestrado. Eu queria voltar a estudar, tinha uma filha pequena, meu trabalho, minha agência, e não tinha condições de sair para fazer doutorado fora. A Antropologia me acolheu. Acabei estudando também Comunicação nas redes sociais, mas dentro da Antropologia.

Desde então, dou aulas. Já lecionei na Católica, na Unialfa, na UniAraguaia, na UFG como substituta por um ano, e estou como professora na Unifasam, onde leciono há quase 13 anos para os cursos de Jornalismo, Relações Públicas e Publicidade.

Quais foram as suas maiores dificuldades ao longo da sua trajetória como jornalista, antes e depois de se formar na área?

Eu nunca tive dificuldades ao longo da minha carreira. Sempre fui muito aplicada desde a faculdade, estudei bastante, prestei muita atenção nas aulas e fiz muito networking. Saí da faculdade já empregada. Quando quis trocar de emprego, quando decidi sair da TV Anhanguera, também já deixei com outro local de trabalho em vista.

Então, nunca enfrentei dificuldades. Sempre aproveitei as oportunidades que surgiram, sempre atenta ao mercado para acompanhar as novidades. Assim, não tive grandes obstáculos. Graças a Deus, há um mercado muito amplo de atuação. Nunca fiquei sem trabalho.

É uma profissão que me trouxe muitas recompensas, tanto pessoais quanto financeiras. Não tenho do que reclamar da minha profissão.

Como é trabalhar na área de comunicação governamental?


Trabalhar com comunicação governamental é sempre uma emoção. É gerenciar crises de manhã, à tarde e à noite, mas é um grande desafio conseguir estabelecer uma comunicação eficaz com os públicos, com os stakeholders, para divulgar também as ações positivas.

Por mais que existam problemas nas administrações municipais e estaduais, há também realizações importantes. O desafio é gerenciar as crises relacionadas às questões negativas e, ao mesmo tempo, comunicar as iniciativas positivas.

É muito trabalhoso atuar na comunicação governamental, mas também é muito prazeroso. Foi algo que eu fiz e gostei muito da experiência. Trabalhei ainda em outras iniciativas governamentais, como no consórcio intermunicipal da APA do João Leite.

Como foi sua experiência descobrindo qual área do jornalismo você queria atuar profissionalmente?


Desde a faculdade, eu sabia que queria trabalhar com rádio, mas, por esses acasos da vida, acabei atuando com televisão. Na TV, com o contato com colegas das assessorias, fui descobrindo esse outro universo. Comecei a me preparar para trabalhar nesse novo campo, fiz uma pós-graduação e realizei pequenos trabalhos com colegas que já atuavam na área, para adquirir experiência e depois atuar de forma independente.

Sempre procurei me preparar e estar atenta ao movimento do mercado, para poder acompanhar as mudanças. Trabalhar com televisão foi um sonho, foi a grande escola da minha vida, mas chegou um momento em que eu quis mudar, explorar novas áreas que oferecessem mais tranquilidade, com finais de semana e feriados livres. Assim, fiz essa migração para a área da comunicação organizacional.

Como foi sua participação como jornalista no Rosa Parks?

Dentro do coletivo Rosa Parks, eu não atuo como jornalista. Eu sou uma pesquisadora, porque a criadora do coletivo, a professora Luciana Dias, foi minha orientadora no doutorado. Então, lá, atuo como pesquisadora, junto com as outras participantes.

Qual sua opinião sobre o jornalismo aqui na região de Goiás?

Eu acho que temos coisas boas e ruins, como em qualquer lugar. Existem boas iniciativas, e acredito que estamos evoluindo muito na área de comunicação organizacional. Já temos agências muito estruturadas, bastante segmentadas, que cuidam de eventos, tráfego pago, comunicação interna e gerenciamento de crise. Hoje, essa segmentação do mercado é algo que também precisa ser observado pelos profissionais, porque a comunicação é tão complexa que dificilmente um único local conseguirá atender um cliente em todas as suas demandas.

Essa segmentação já está muito ativa aqui em Goiânia. Faço críticas em relação a alguns veículos de comunicação que são dependentes das verbas governamentais e, por isso, acabam oferecendo um jornalismo de péssima qualidade. Mas isso ocorre em qualquer lugar. Sempre teremos veículos que realmente trabalham com jornalismo e outros que produzem matérias influenciadas economicamente por ligações políticas. Então isso existe em qualquer lugar.

O que te levou da comunicação para a pesquisa em antropologia?

Bom, a Antropologia entra na minha vida porque ainda não existia doutorado na área de Comunicação na FIC, e eu queria muito fazer um doutorado. Já haviam se passado quatro anos desde que terminei o mestrado, então fui para a Antropologia, mas estudando, ao mesmo tempo, viés da Comunicação.

Minha tese se chama “Não é um paraíso: a desromantização da maternidade nas narrativas sobre ser mãe” no Instagram, onde analiso a comunicação dessas mulheres dentro da rede social. Estudo como essas vozes dissidentes utilizam as plataformas para popularizar seus movimentos.

Quais as principais diferenças entre atuar na comunicação pública e na privada?

A gente só tem um foco diferente de comunicação. Quando você está na assessoria de comunicação privada, quase não gerenciamos crises — elas existem, mas são muito poucas — então trabalhamos muito mais com uma comunicação proativa, focada nas ações positivas da empresa. Atuamos também na comunicação interna, cuidando dos canais próprios, porque hoje não podemos depender apenas de rádio, televisão e jornal para divulgar nosso cliente. Nós temos nossos próprios meios e precisamos abastecê-los, além de estabelecer esse relacionamento com os stakeholders.

Já na comunicação governamental, as demandas são outras, principalmente o gerenciamento de crises. Mas eu gosto muito dos dois tipos de atuação. Sempre gostei. Meus colegas até brincam: “Fernanda, você adora um abacaxi, né?” E eu adoro mesmo. Gosto muito da comunicação governamental, gosto de gerenciar crises, de estruturar departamentos de comunicação. Então, gosto muito dessa área também.

Quais os maiores desafios dos estudantes de comunicação hoje?

Eu acho que o maior desafio do estudante de comunicação hoje é saber aproveitar positivamente as novas tecnologias. Tenho uma preocupação muito grande com a dependência dos estudantes em relação à inteligência artificial, pois acredito que isso tira um pouco da criatividade e da iniciativa.

Vejo muito no mercado o pessoal utilizando a IA para fazer textos e materiais, e não como uma ferramenta de colaboração ou de levantamento de informações. Então, acredito que a grande dificuldade hoje é saber usar esses recursos de forma positiva.

Outro ponto importante é fazer networking. A gente precisa criar essa rede de contatos desde a faculdade e saber aproveitar os novos mercados que existem, como a mineração de dados e o mercado de comunicação organizacional, tanto privada quanto pública.

Vejo que temos um universo muito amplo de atuação profissional no jornalismo, mas talvez falte ao estudante o conhecimento para observar o mercado e participar mais ativamente dos eventos da universidade, buscando contato com os profissionais da área e entendendo o que está sendo feito agora para já se preparar desde cedo para o novo cenário que se apresenta.

Então, o conselho que eu dou é este: faça networking, faça estágio — é fundamental. O que a gente aprende na faculdade é necessário, é a base, mas o estágio e a convivência com o mercado vão complementar esse conhecimento. Estar em contato com os profissionais é algo muito valioso para o estudante de comunicação hoje.

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