‘Todo Dia a Mesma Noite’: série marca os 10 anos do incêndio na boate Kiss

A minissérie ‘Todo Dia a Mesma Noite’, lançada pela Netflix, revive o incêndio da boate Kiss após 10 anos do ocorrido.
jan 28, 2023
Tempo de leitura: 5 min

Há 10 anos, na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013, uma tragédia marcou a cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Ocorreu um incêndio na boate Kiss durante a festa ‘Agromerados’, evento que reuniu estudantes de seis cursos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O desastre matou 242 pessoas e deixou 636 feridos.

‘Todo Dia a Mesma Noite’

Foto: Divulgação/Netflix

A minissérie ‘Todo Dia a Mesma Noite’, lançada pela Netflix, revive uma das maiores tragédias do país de forma dolorosa e respeitosa. Inspirada no livro escrito pela jornalista Daniela Arbex, publicado em 2018, a obra é dividida em cinco episódios.

No decorrer das páginas escritas por Daniela é perceptível a escrita direta, objetiva, documental e jornalística, proporcionando às diretoras da série Julia Resende e Carol Minêm, a possibilidade de desenvolver um cenário detalhado e comovente.

Independentemente de retratar um desastre que ocorreu, a minissérie altera o nome dos personagens e da banda, em razão de ser uma versão ficcional. Sendo assim, a banda passou a se chamar Guapos Baladeiros, quando na realidade possui a denominação de Gurizada Fandangueira.

Durante os episódios a obra consegue fazer o telespectador sentir a angústia das vítimas, o sofrimento dos familiares, e o desespero dos profissionais envolvidos. A produção foca na trajetória dos familiares em busca de justiça nesses últimos dez anos. Sob essa perspectiva, as cenas são intensas e os acontecimentos são difíceis de assistir, uma vez que, apesar de ser uma série, ela ainda mostra de maneira fiel um fato que realmente aconteceu.

Nas redes sociais, a obra está sofrendo críticas por rememorar a dor sentida pelos familiares, sendo chamada por alguns telespectadores de “apelativa” e “desnecessária”. Em entrevista ao Portal Splash, Daniela Arbex desabafa:

“O que a gente está fazendo aqui é dar voz a esse acontecimento, não deixar cair no esquecimento. Acho que a gente precisa que as pessoas saibam do que aconteceu ali. Famílias foram processadas pelo Ministério Público. Isso é um acontecimento inacreditável, e ninguém sabe”

A jornalista ainda conta que reencontrou os pais das vítimas, que também conheceram os atores da série. “Os pais estavam numa grande ansiedade para conhecer os atores e estreitar a relação”

O lançamento da obra ‘Todo Dia a Mesma Noite’ é de suma importância para que o caso ganhe mais visibilidade e gere indignação no público, já que os envolvidos ainda estão soltos, mesmo após 10 anos da tragédia — o que coloca pressão sobre as autoridades judiciais envolvidas. Além disso, a série permite que a história não seja esquecida e que outras tragédias como essa não se repitam no Brasil.

Incêndio na boate Kiss

O evento, que ocorreu dia 27 de janeiro de 2013, começou a receber público à meia noite. Após algumas horas de festa, por volta das duas e meia da manhã, a banda ‘Gurizada Fandangueira’ utilizou dispositivos pirotécnicos, os quais geraram fagulhas que atingiram a espuma acústica que revestia o teto, dando início ao incêndio.

As pessoas do local, que inclusive estava superlotado, se desesperaram e tentaram sair da boate, sendo impedidas por alguns minutos pelos seguranças. Os indivíduos conseguiram derrubar a porta e sair, no entanto, muitos caíram e foram pisoteados.

De acordo com bombeiros que estavam no estabelecimento, o lugar em que mais havia corpos era o banheiro. Devido à falta de sinalização, e à escuridão, muitos pensaram que aquela era a saída, fazendo com que os indivíduos ficassem presos e fossem a óbito.

Muitas pessoas conseguiram sair e ajudar a tirar quem ainda estava preso lá dentro, entretanto, muitas também morreram mesmo após se retirarem do local, devido à inalação da fumaça. Todos os hospitais da região receberam vítimas do incêndio.

Os familiares começaram a fazer o reconhecimento das vítimas no Centro Desportivo Municipal e, logo após, houve o velório coletivo das vítimas. Na segunda-feira posterior ao incidente (28) foram realizados os primeiros sepultamentos.

Velório no Centro Desportivo Municipal de Santa Maria – Foto: AFP

Dez anos após a tragédia

Dez anos se passaram desde a tragédia e ninguém está preso. Após quase 9 anos de espera, no dia 10 de dezembro de 2021, foram condenados pelas mortes das 242 pessoas: os sócios Mauro Londero Hoffmann e Elissandro Callegaro, e os integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão. Nessa conjuntura, o julgamento durou 10 dias, até que o Tribunal do Júri do Foro Central de Porto Alegre condenou os quatro réus acusados do incêndio.

Foram aplicadas penas que variavam de 18 a 22 anos de prisão. Todavia, após quase dez meses desde a tomada da decisão, a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul acolheu parte dos recursos das defesas e anulou o júri que condenou os quatro réus. A decisão foi tomada no dia 3 de agosto de 2022.

Está previsto que um novo júri seja marcado.

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