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O segundo mês do ano, o qual também é o mais curto, marcado pelas chuvas de verão e a festividade, carrega um dos maiores festivais culturais do mundo: o Carnaval. Jorge Ben Jor, em País Tropical, estabelece características fundamentais à brasilidade, como a tropicalidade, as riquezas culturais e o mês de fevereiro.
Ao se deparar com os desfiles de escolas de samba, os trios baianos, os carnavais de ruas paulistas e o frevo pernambucano, a moda, assim como a celebração, é marcante. A moda quando interliga-se ao carnaval imediatamente remete aos brilhos, cores e fantasias. Fantasias essas que vão desde as vestimentas até mesmo às narrativas belíssimas da festividade brasileira. Celebrando, assim, cultura e arte.
É uma sensação única, um amor que sentimos, a arte do samba faz nos sambistas amar tanto esse meio, é uma sensação incrível desfilar! Carnaval é amor, harmonia, curtição e responsabilidade! Carnaval é vida, aprendemos muito nesse meio: como amar, respeitar e valorizar tudo e todos!”, comenta a passista da Escola de Samba Beija- Flor, Thata Gávea, sobre o significado da festa.
Carnaval: origem e fundamentos
A origem da festa é controversa, posto que há diversas hipóteses de seu fundamento. Ademais, devido a miscigenação cultural tão presente na cultura brasileira, o ponderamento acerca do surgimento dessa festividade no país, bem como de quais povos foram herdados, torna-se insustentável.
O nome Carnaval remete ao Carnavale, comemoração realizada durante o apogeu do Império Romano devido à Saturnália – uma espécie de réveillon romano- em que as pessoas se embriagavam, andavam nuas e a gula era vangloriada.
Porém, precisamente pela influência ocidental do cristianismo, o Carnaval possui raízes cristãs. “A origem do carnaval vem da quaresma. As instituições eclesiásticas tinham muito poder de controle social, então durante o período da Quaresma era proibido danças, comemorações, o álcool ,certos tipos de condutas e alimentos. Assim, tudo que o povo desejava fazer era realizado na terça feira , um dia antes da Quarta de Cinzas, a qual dá início ao período de resguardo da Quaresma. Esse dia destinado aos prazeres carnais era conhecido como “terça feira gorda”, discorre o historiador e pesquisador em festividades brasileiras, Milton Araujo, sobre as origens cristãs carnavalescas.
Com a colonização, os princípios eclesiásticos, assim como a “Terça-Feira Gorda”, se estruturaram no povo brasileiro. “Quando a festa chega ao Brasil, precisamente em Salvador e no Rio de Janeiro, estabelece o que chamamos de Entrudo, o qual é tudo aquilo que hoje ponderamos como condutas anti políticas. O carnaval, então, é um exagero, muita fartura e muita festança.O carnaval é a exaltação do liberou geral, pode tudo!” , continua o pesquisar pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Milton Araujo. Assim, nota-se a predominância e aceitabilidade dessa festividade no contexto cultural, já que o Brasil é a maior referência da festa, atraindo turistas e estudos por todo mundo.
“Mikhail Bakhtin, filósofo russo, afirma que o carnaval é a festa da inversão, invertendo a ordem cultural, bem como das roupas. Na época, homens poderiam vestir-se de vestimentas femininas, mulheres poderiam ousar com as roupas. Havia um grande uso de máscaras como uma forma de ocultar, podendo assim realizar todas as piruetas e brincadeiras possíveis.O importante no carnaval é a fantasia, entrar no personagem.” finaliza Milton acerca da essência carnavalesca.
A moda carnavalesca
Primeiramente, afirmar que há moda dentro do carnaval é uma concepção equivocada, uma vez que a moda, dentro do parâmetro dos desfiles de escolas de samba, dificilmente baseia-se em estudos de comportamento social e análises de tendências. Posto que, as fantasias carnavalescas dos desfiles baseiam-se em estruturas já estabelecidas.
Sendo assim, as fantasias possuem características únicas e imutáveis , as quais independente do clima, pessoa, enredo e comportamento perpetuarão nos desfiles devido à culturalização dessas características. “Não há tendências e análises de comportamento humano. Então não há compromisso com os princípios básicos da moda.” , afirma o professor de moda e cultura brasileira pela Universidade Estadual de Goiás, Teo Junior, sobre a relação moda e carnaval.
Assim, as fantasias carnavalescas sustentam-se em princípios já estabelecidos a partir de uma regulamentação, uma vez que todas as escolas de samba, seja Rio ou São Paulo, partem do princípio do uso de brilhos, peças arquitetônicas, excessos e uma ampla variedade de texturas têxteis. “A partir do momento que há uma regulamentação dos desfiles, surge uma necessidade de regulamentação também dessas fantasias, da maneira mais maravilhosa! Trazendo sempre o encanto do carnaval. “, continua o estilista sobre a concepção de moda no carnaval.
Já no viés cultural e representativo, de fato, ao observar outras composições vigentes à festa, nota-se a predominância de características culturais dos povos africanos, bem como a influência das religiões de matrizes africanas em músicas, sambas enredos, como também nas vestimentas. “Os ritmos musicas do carnaval, desde o clássico samba enredo ao axé, são ritmos negros. Eles trazem referências de pretos notáveis que a história omitiu, as escolas foram as primeiras a trazerem isso, e as fantasias, neste caso, são fundamentais em transmitir essas histórias.”, continua Teo sobre a influência africana no carnaval.
Já nas vestimentas, neste caso em Salvador, os blocos de origem preta trazem essas questões culturais estampadas à folia. “Em Salvador, devido a 80% de sua população ser descendente de africanos, decide-se criar blocos de rua em que saem às ruas com roupas que remetem às vestimentas africanas. Sendo, fantasias uniformizadas, coroas, estampas e turbantes.” , finaliza o pesquisador Milton Araujo sobre as vestimentas na folia baiana.
No carnaval de rua, o uso dos brilhos está interligado à liberdade das pessoas em vestir o que quer, agir como quer ,dentro dos limites, e extravasar!”,encerra o professor de moda, Teo Junior, acerca da essência brilhosa e festiva da festa brasileira.
Logo, o importante do carnaval é extravasar! Expressar sua alegria, liberdade consciente e a cultura brasileira. Dessa maneira, transmitir essa alegria e euforia é fundamental às roupas como artifícios expressivos da humanidade.
FOLIA, BRILHO E FANTASIA
A moda é agente social, político e artístico, bem como no carnaval, ela também ganha destaque principal . Devido à festividade e à brasilidade, a moda é responsável por transmitir as essências carnavalescas aos foliões, atribuindo pertencimento e reconhecimento dentro das narrativas. “Pedraria, tem que ter brilho! A característica do carnaval é o luxo, então terá pedras, paetês, plumas e o corpo desenhado.”, afirma o estilista carnavalesco, Daniel Zarmano, sobre os elementos fundamentais das fantasias.
As fantasias são relacionadas, majoritariamente, aos enredos das escolas de samba, os quais são estabelecidos pelo carnavalesco, definindo, assim, o protótipo a ser desenvolvido em colaboração com os ateliês e estilistas independentes das escolas.”A criatividade vem do carnavalesco e não da confecção, a qual somente é responsável por preparar a fantasia para os participantes que desfilarão na avenida”, afirma um dos presidentes têxteis da Escola de Samba Mocidade Independente, Marcos Mendonça, sobre o processo criativo nas confecções para a folia
Por outro lado, ao analisar a realidade de estilistas independentes, a questão criativa e compositora das fantasias para os desfiles é diferente. “Quando um cliente realiza uma encomenda de uma fantasia, eu me arrisco no desenho! Tiro ideias da minha cabeça! Porém, sempre há um diálogo, pois algumas vezes essas ideias não caem muito bem na composição da fantasia e no resultado final.” continua o renomado estilista carioca, Daniel Zarmano, sobre as produções de fantasias.
Erika Januza, feita por encomenda e ela solicitou que eu fizesse a fantasia! As artistas geralmente gostam de fazer parceria, mas não foi nesse caso. Foi muito gratificante, me deixou muito satisfeito com o resultado. É uma roupa muito conceitual, muito fashion!, responde o estilista sobre seu trabalho recente
A indústria da moda durante o mês de fevereiro não para! As produções acontecem constantemente, sendo atentos a todos os possíveis detalhes para deixar a celebração brasileira ainda mais especial. Afinal, são milhares de vestimentas por escola de samba. “Possuímos dois ateliês separados para a confecção de fantasia. Os ateliês não param! Começam às 8 da manhã e encerra meia noite. Quando o carnaval se aproxima o ritmo aumenta ainda mais, pois a festa possui dia e hora para acontecer, não existe dia seguinte, ou seja, não há segunda chance!”, continua Marcos Mendonça, sobre os ateliês em tempos carnavalescos.
Assim, de fato, a moda carnavalesca, assim como a festividade, gera emprego, renda, diversão e visibilidade aos inúmeros artistas que compõem a ludicidade do carnaval.
“O carnaval não para durante os 365 dias do ano! A gente vive em prol do carnaval, trabalha por ele o ano todo. Quando se encerra um ciclo já se inicia outro. O carnaval do Rio é o parâmetro e vitrine da maior festa popular do mundo”, finaliza Marcos sobre a representatividade do carnaval à cultura da moda brasileira.