O PL 221/2023, de autoria dos deputados Fred Costa (Patriota-MG) e Bruno Lima (PP-SP), propõe que em caso de morte de cachorro ou gato de estimação, o dono do animal tenha direito a pelo menos um dia de licença do trabalho para lidar com o luto e assuntos relacionados à morte do pet. O projeto ainda não tem previsão para ser votado, mas já foi responsável por levantar uma questão: até que ponto o afeto por um animal doméstico afeta a vida das pessoas?
O Brasil é o 3º país com a maior quantidade de pets
Em pesquisa feita em todo o território nacional, o Instituto Pet Brasil (IPB) apurou que o país encerrou o ano de 2021 com um total aproximado de 149,6 milhões, com aumento de mais de 5 milhões de animais sobre o ano anterior.
Com os estimados 207 milhões de brasileiros pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2022, cerca de 70% da população possui um animalzinho em casa ou conhece alguém que tenha. Ainda segundo o IPB, o setor de pets gerou 2,83 milhões de empregos em 2021, e o número total de empresas ultrapassou 285 mil
Embora se comuniquem de uma maneira diferente dos humanos, donos de pets não enxergam isso como um problema; para campos como a Psicologia e a Sociologia, um animalzinho de estimação pode carregar a mesma importância de um parente de sangue. Segundo estudos, a humanidade caminhou de forma a dar espaço para uma nova composição familiar: a família multiespécies. Nela, gatos, cachorros, pássaros, tartarugas e tantos outros animais domesticados assumem um lugar indispensável dentro das casas das pessoas, e por isso o peso emocional que carregam deve ser levado em consideração.
Pets e saúde
Para muitos especialistas, ter um animalzinho em casa traz diversos benefícios para a saúde humana. Pontos como o incentivo à prática de atividades físicas, quando se reconhece a necessidade de levar um cachorro para passear, por exemplo, e o desenvolvimento de sensos de responsabilidade e compromisso são destaques no que de proveitoso um amigo de quatro patas tem a oferecer.
Em entrevista o Lab Notícias, a psicóloga Mayara Costa confirma: “Estudos já comprovaram que a convivência com um pet promove a seus tutores o sentimento de bem-estar, que a sua companhia e gestos espontâneos e engraçados promovem liberação de hormônios importantes para a alegria, como endorfina, dopamina e serotonina.” Segundo ela, a convivência com animais auxilia na redução de pensamentos negativos, e, por consequência, ameniza sintomas de estresse, ansiedade, angústia, tristeza e solidão.
O luto
Flávio Alves perdeu Lua, sua companheira de casa, trilhas, caminhadas e aventuras em setembro de 2022, sem aviso prévio.
Ele, que na época estava de férias, precisou de um tempo para se adaptar à ausência de uma de suas melhores amigas, e ainda hoje procura pelas patinhas na frente do portão de casa, lugar em que ela costumava por ele todos os dias, na volta do trabalho. Lua adoeceu rápido, e de igual forma partiu. Para o técnico em informática, a saudade continua presente. Como viviam sozinhos, só os dois, segundo ele, a casa ainda parece meio vazia, mesmo após meses do acontecido, porque Lua fazia parte da família.
Na maioria dos casos, pessoas que perdem seus pets não têm muito tempo para absorver o fato como Flávio teve. Para Mayara Costa, o Projeto de Lei 221/2023 se faz necessário neste sentido, de reconhecimento e assimilação da ausência.
“Mediante a perda [do animal], o tutor fica abalado. Nessa fase do luto é muito importante respeitar o momento, e esse afastamento [do trabalho, proposto pelo projeto de lei] é essencial para o processo de cura. Devemos respeitar todos os tipos de dores”, comenta ela.
Apesar disso, muitas são as opiniões controversas à aprovação da lei. Nas redes sociais, as pessoas expressam o que acham:
Outras pessoas concordam com o que é proposto pelo PL e demonstram seu apoio:
Em outros comentários, alguns questionam o fato de apenas cães e gatos serem mencionados pelo projeto de lei, ao invés de qualquer animal doméstico.
Apesar de o projeto de lei ter sido apresentado recentemente, existem iniciativas como a PETernidade, fundada pela empresa Petlove e adotada por companhias como Vivo, MARS e Royal Canin no ano de 2022, que oferece a tutores de pet exatamente o que o PL 221/2023 proprõe: uma licença no caso de morte de um animal de estimação.
Enquanto o projeto ainda está em seus trâmites iniciais, ficam em aberto questões sobre como funcionaria a comprovação de tutoria e óbito do animalzinho em questão, os critérios para se encaixar no benefício e uma forma de verificar todas essas informações.
Foto em destaque: Flickr/Reproução
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