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Às cinco e meia embarco em uma verdadeira aventura, com passe na mão e de olhar atento, cumprimento o motorista com um bom dia, porém às vezes o respeitável trabalhador se mantém em silêncio ou me devolve o cumprimento com o seguinte enigma, “bom dia para quem?”.
Tomado o assento, se inicia a trajetória, logo observo os desgarrados, ou melhor atrasados, correndo desesperadamente como se não houvesse amanhã. Embarcado os corredores, a comovente explicação pelo atraso levanta muitas dúvidas quanto a estranheza do horário oficial de Brasília, que hora está adiantado do Atheneu ao Marilísia e atrasado do Fabiana ao Laranjeiras.
Provada a ineficiência do relógio brasileiro, o contador de giros nas curvas deixa Toreto e Brian no chinelo. Em resposta ao racha inesperado, um jornalista com informações privilegiadas quanto a privacidade do motorista, destaca a seguinte manchete: “Está carregando porco seu corno!”.
Avistado um cadeirante, o transporte avança a todo vapor, a multidão inconsistente levanta o clamor: “por que não parou motorista?”, porém se estaciona o veículo, o elevador clama tão alto quanto o passageiro, “para que tanta demora, vamos embora!”.
Chegando ao terminal, desembarca a boiada. É chifrada para lá, berro para cá e, é claro, uma mão de macaco para acompanhar.
Imaginando-se que acabou, à frente tem segundo round. Dessa vez é futebol americano, nesse campo não se tem direito a ser de idade e não existe preferência. Na disputa por assento, vale-tudo fica para trás se comparado a esse cenário. Mais uma vez embarcado, se inicia um novo translado.
Pensar que esta é uma realidade cotidiana que se repete duas até três vezes ao dia é simplesmente desanimador. O consolo vem de saber que existe gente em situação ainda pior, imagina o quanto esse pessoal que embarca em quatro ônibus por dia deve ser feliz.
Frente a essa realidade desgastante, o jeito é suportar e sonhar com um dia em que o transporte coletivo vai deixar de ser um campo minado. Deixo como dica, força, foco, fé e o mais importante: programe o relógio, porque o ônibus não espera.