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Foto original: Carlos Júnior
Goiânia, hora do almoço. Estou no ponto de ônibus da T-63 como em todos os outros dias, mas neste mês as coisas estão um pouco mais insuportáveis do que de costume. O calor infernal que chega aos 36 °C me faz sentir como se estivesse dentro de uma sauna enrolada em um cobertor. Para completar o cenário, o cheiro forte da fumaça das queimadas ajuda a compor a cena do que é Goiás em agosto, no auge do nosso inverno. Esperando o ônibus, rolo a tela do celular com as notícias animadoras do dia: o estado bateu um novo recorde de desmatamento. Maravilha! Parece o cenário perfeito para o fim do mundo.
O 025 passa cortando a avenida às 12h10 e para no ponto, mas essa não é a sucata em que eu estou acostumada a andar. O ônibus é grande, sanfonado assim como os do Eixo, só que novo em folha, ao contrário dos dinossauros de metal que atravessam a cidade pela Anhanguera. Em tons de verde, com vidros e insulfilm preto, o veículo se aproxima devagar e quase sem nenhum ruído. Vendo a minha confusão, a senhora que também esperava ao meu lado explica a situação inusitada:
— Isso daí é os ônibus elétricos que o Caiado comprou. Diz que é pra ajudar o meio ambiente, mas quero ver se presta ou se é só bonito mesmo.
Na entrada, mais surpresas. O teto é repleto de saídas de ar condicionado, ao lado de cada assento tem entradas para carregar os celulares e, o melhor de tudo, quando o motorista dá partida, quase não se escutam e sentem os choramingos e solavancos, tão característicos do transporte público da Capital.
Quando viramos a 2ª Radial rumo ao ponto final, o terminal, na plataforma de embarque os passageiros olham admirados, levantam celulares para tirar fotos, um homem vem correndo com o filho nos ombros apontando para o ônibus verde, que é um dos destaques da agenda ambiental do governo. Homens de terno também estão entre eles, peito inflado como o dos pombos que vivem perambulando pelas plataformas.
O circo estava armado, só faltava o pão. Uma pequena frota de ônibus elétricos reluzentes que custam milhões aos cofres do estado como uma medida de preservação ambiental. Parece realmente revolucionário quando a maior parte da população não sabe que mais de 70% das emissões de carbono em Goiás tem mais a ver com bois, soja e agroboys do que com o transporte coletivo.
Parte do encantamento se esvai quando pisamos na plataforma. O calor volta com força, a fumaça faz lacrimejar os olhos e queimar a garganta. Na lateral do ônibus verde lê-se: Ar mais puro. Como exatamente esses ônibus podem ser a solução se a poluição que produzimos aqui vem de outro lugar? Sem querer acusar a idoneidade dos políticos goianos, que são praticamente guardiões da floresta, mas parece uma manobra para ter o que exibir no PowerPoint.
Com os efeitos do ar condicionado abandonando nossos corpos, os passageiros seguem juntos pela faixa de pedestres atravessando o terminal, cada um em busca do seu destino. A senhora do ponto começa a andar ao meu lado, dá uma risadinha e me cutuca com o cotovelo, antes de dizer:
— Muito devagar, hein? Parece que é só pra boniteza mesmo.