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Essa reportagem foi escrita a partir de estatísticas e estudos do Instituto Mauro Borges sobre o perfil de pessoas em situação de rua no estado de Goiás. Para o informe, foram utilizados dados do Cadastro Único de Goiás. Os números apresentados correspondem a dados coletados em 2020, logo, estão desatualizados, mas continuam sendo de extrema importância para o estudo e compreensão desse grupo populacional.
Como funciona o Cadastro Único ?
O Cadastro Único é um registro que permite ao governo saber quem são e como vivem as famílias de baixa renda no Brasil, possibilitando benefícios sociais . Ele foi criado pelo Governo Federal, mas é operacionalizado e atualizado pelas prefeituras. Vale lembrar que os dados do Cadastro único são coletados de forma autodeclarada, de modo que dificilmente se alcança todas as pessoas em situação de rua e, provavelmente, há um número ainda maior que os captados pelo cadastro.
O impacto da pandemia
Em junho de 2019 havia 2.136 pessoas em condição de rua em Goiás. Já em dezembro de 2020, totalizava-se 2.575, o que indica, sinalizando um crescimento de 19% durante esse período.
Dentre os diversos motivos, destaca-se o início da pandemia do Covid-19. Vanilson Torres passou 27 anos nas ruas de Natal e hoje é representante do Movimento Nacional da População em Situação de Rua. Em entrevista para a Fiocruz Brasília, apontou que durante este período, muitos indivíduos da classe trabalhadora, que não estavam conseguindo arcar com os custos de aluguel e despesas, se dirigiram às ruas em busca de comida.
O perfil da população de rua em Goiás
O que leva as pessoas às ruas ?
Entre os principais motivos apontados, encontram-se o desemprego, problemas familiares, alcoolismo e a perda de moradia:
Com o objetivo de quebrar paradigmas e preconceitos, o movimento Goiânia Invisível desempenha um papel importante na conscientização da sociedade acerca da população em situação de rua. O Labnotícias entrevistou uma das cofundadoras e coordenadoras do projeto, Ludymilla Lima, que afirmou que o único padrão que vê entre as pessoas em situação de rua é a falta de estrutura e suporte familiar, o que os leva à reclusão social.
“Muitos acham que nas ruas todas as pessoas são usuárias de drogas ou alcoólatras, e isso é uma mentira. Existem várias situações. Já conhecemos, por exemplo, um biomédico e um piloto de helicóptero. Conhecemos até mesmo pessoas que tem apartamento no setor Bueno alugado e usa o valor que recebe para pagar a faculdade dos filhos.”
Ludymilla Lima
Onde estão localizados
As cidades que registram um elevado contingente de indivíduos em situação de rua estão concentradas nas maiores áreas urbanas do estado, principalmente nas duas principais regiões metropolitanas: a Região Metropolitana de Goiânia (RMG) e a região próxima ao Distrito Federal. Observe no mapa os munícipios que registraram os maiores números em Goiás:
Goiânia lidera em termos de quantidade de indivíduos em situação de rua registrados no Cadastro Único, totalizando 1.185 pessoas. Vale ressaltar que a Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS) estima que o número real de pessoas nessa condição chegue a 1,3 mil. O mapa apresenta os setores do município de Goiânia com maior aglomeração de pessoas vivendo nessa condição:
Moradores de rua em Goiânia
Você sabe a diferença entre uma pessoa em situação de rua e um morador de rua? A explicação a seguir foi gerada por uma IA, o ChatGPT.
Essa expressão é mais ampla e busca enfatizar a situação temporária e complexa em que essas pessoas se encontram. “Pessoa em situação de rua” reconhece que há uma variedade de razões pelas quais alguém pode estar vivendo nas ruas, incluindo desemprego, problemas familiares, questões de saúde mental, entre outros. Essa terminologia tende a enfatizar a humanização da pessoa e a considerar as circunstâncias que a levaram a essa situação.
Essa expressão é mais específica e se concentra na condição atual da pessoa, destacando o fato de que ela reside nas ruas ou em locais públicos. “Morador de rua” pode implicar uma abordagem mais descritiva, ressaltando a falta de um lar permanente.
O 2º Censo da População em Situação de Rua mostrou que em Goiânia existem 353 moradores de rua. O Censo foi feito pela Universidade Federal de Goiás (UFG), em parceria com a Prefeitura de Goiânia, por meio da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Políticas Afirmativas (SMDHPA), e contou com parceiros, como as Polícias Civil e Militar.
Observe mais infográficos
Distribuição por gênero e cor – Goiás – junho/2020
Distribuição por escolaridade – Goiás – junho/2020
Distribuição de acordo com a Unidade da Federação de nascimento-Goiás – junho/2020
Periodicidade de contato com familiares fora da condição de rua – Goiás – junho/2020
O olhar de um especialista
A reportagem entrevistou Dijaci David de Oliveira, coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Criminalidade e Violência (Necrivi), da Faculdade de Ciências Sociais da UFG, com atuação em Direitos Humanos e Sociologia da Cultura. Sobre os dados levantados, o sociólogo apontou que o fato da maior parte de pessoas vivendo nas ruas ser negra mostra uma clara desigualdade na sociedade brasileira. “Quando estamos falando desse percentual altíssimo de pessoas nas ruas, estamos falando de pessoas que nunca tiveram suas oportunidades alteradas por conta das políticas públicas ao longo de séculos”, acrescentou.
Tendo em vista que 40,5% dos migrantes apontaram o desemprego como principal motivo por estar em situação de rua, pode-se dizer que parte dessa população veio para Goiás em busca de melhores oportunidades, mas não encontraram. O professor Dijaci explica o motivo : “As pessoas não conseguem encontrar uma outra ocupação facilmente, sobretudo por conta da baixa escolaridade. Existe uma demanda de serviços, mas um serviço que requer pessoas com algum conhecimento especializado“.
Por fim, o coordenador afirma que as políticas públicas encontram dificuldades em atender às demandas da população em situação de rua. Sugeriu que são necessárias medidas interdisciplinares, com o apoio de diferentes áreas do conhecimento, como a nutrição, a medicina e a economia. Ele também citou experiências políticas bem sucedidas de outros países que, antes de tentar mudar padrões e hábitos de pessoas em situação de rua, garantiu-lhes o acesso à moradia.