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O futsal goiano não se vê representado na Liga Nacional de Futsal (LNF), a principal competição por equipes do esporte, desde 2011. O Estado, que já foi representado pelo Goiás Esporte Clube, FESURV de Rio Verde e Anápolis Futsal, e que já conquistou um honroso terceiro lugar com o Esmeraldino, hoje não testemunha uma partida da LNF de perto desde 2011, quando o Anápolis encerrou sua participação ocupando a última posição.
Apesar de ter sido um dos seis estados presentes na edição inaugural da LNF, a época dos ginásios lotados e das grandes competições no estado parece ter ficado para trás. No entanto, há ainda muita gente trabalhando para que Goiás recupere sua tradição no desporto.
O campeonato estadual é realizado anualmente em 14 categorias, do Sub-7 ao Adulto. Organizado pela Federação Goiana de Futsal (FGFS), a disputa tem a missão de revelar atletas e dar destaque a um dos esportes mais praticados no Brasil. Entretanto, a falta de verba e divulgação coloca o torneio em meio a grandes desafios.
É o que afirma o presidente da FGFS, Murilo Macedo, que ocupa o cargo de maior hierarquia da organização há cinco anos: “Verba será sempre o maior desafio, uma vez que o Futsal não é esporte olímpico. Não somos autorizados a captar recursos do Comitê Olímpico Brasileiro, dependemos da ajuda de patrocinadores. Sem eles, não poderíamos manter a competição e nem o ginásio de Campinas, lar histórico do Futebol de Salão goiano e sede da federação”.
Em meio à decisão do título estadual sub-20, entre Vila Nova/Universo e Uruaçu Futsal, Murilo explica: “O primeiro passo é trazer as grandes competições de volta ao Estado, como uma Taça Brasil, Grand-Prix e até amistosos da Seleção Brasileira. Esse é um dos focos da FGFS hoje: fazer com que a população volte a manifestar interesse pelo Futsal e, assim, os patrocinadores virão”.
Ainda sobre a participação dos clubes, o mandatário revela: “A federação brasileira de futebol de salão promoverá no ano que vem o Campeonato Brasileiro, que rivalizará com a LNF. Um clube da capital teve interesse, mas não prosseguiu com a entrada no Campeonato. Uma competição desse porte pode ser muito onerosa”.
Além da dependência quase que exclusiva dos patrocínios privados e premiações que nem de longe lembram as cifras milionárias do primeiro escalão do futebol brasileiro, a distância também é uma barreira para os clubes goianos que por ventura venham a disputar uma das competições de tiro longo do Futsal Brasileiro. As equipes do sul do país historicamente são maioria na competição, de forma que uma equipe do norte, centro-oeste ou nordeste ficaria muito mais tempo na estrada que seus adversários.
Este foi o caso do Brasília, que disputou a temporada 2023 e terminou na última posição. A equipe foi a única do centro-oeste e teve ao seu lado cinco times paulistas, seis catarinenses, sete paranaenses, três gaúchos e dois mineiros. Não houve participantes do norte e nordeste.
Base
Outro ponto importante para o Futsal é a base. Jogadores como Ronaldinho Gaúcho, Gabriel Jesus e Vinicius Junior fizeram sua formação nas quadras antes de irem para o campo. Esse intercâmbio tão frutífero para o futebol de campo, ao mesmo tempo que fomenta as competições de base nas quadras e traz grandes camisas para o futebol de salão, acaba também “roubando” futuros craques da bola pesada.
O Lab Notícias conversou com Vitor, jogador do Sub-17 do Ajax, equipe de Futsal da capital. O ala confidenciou que este ano ainda está focado nas quadras, mas que quer se dedicar ao futebol no campo a partir de 2024. Quando perguntado sobre o motivo da mudança, não titubeou: “No campo há mais chances de ‘vingar’. Há muito mais oportunidades e possibilidades de viver da bola”. E completa: “Se as chances fossem as mesmas, continuaria no futsal”.
O fenômeno também é notado pelo professor Amaury, treinador e responsável pelo projeto Uruaçu Futsal, bicampeão goiano da categoria Sub-20: “Nosso projeto tem como objetivo formar bons homens. Se alguém chegar a viver do esporte, é consequência”. Ele relata ainda mais alguns dos desafios que nos acostumamos a ver nesta reportagem: “Nos inscrevemos em apenas uma categoria, apesar de termos jogadores para jogar em no mínimo quatro. Uruaçu é bem distante de Goiânia. Só de ônibus, vai uma fortuna. Felizmente, temos apoio da prefeitura e de alguns empresários da cidade que estampam a camisa da equipe, às vezes, sem pensar em nenhum retorno”.
O treinador completa que poucos dos seus jogadores pensam em se profissionalizar em quadra: “No estado, não há muita uma cultura do Futsal como no sul do país. A maioria sonha em ir para o campo, jogar na Europa. Aqui, damos tudo o possível para que eles possam seguir esse sonho, mas que, sobretudo, se tornem adultos conscientes. Se tirarem nota baixa, ficam suspensos da equipe. Se brigarem durante o jogo, estão fora”.
Universitário
No Brasil, esportes com menor apelo midiático sempre tiveram relações estreitas com instituições escolares. Exemplos como COC/Ribeirão e Universo/Ajax no basquete e ULBRA e Unisul no vôlei não são raros. No futsal não é diferente, a FESURV (Atual Unirv) fez sucesso em quadras goianas, tendo disputado a LNF em duas oportunidades, enquanto o Goiás/UCG beliscou um quarto lugar no nacional de 2002.
Atualmente, essas parcerias ajudam o futebol de salão goiano a sobreviver em um período de vacas magras. É o que mostra o educador físico e técnico da Ansef/UFG, Hugo Evaristo: “Um dos modelos que pode contribuir é a parceria entre Faculdades/Universidades com clubes já existentes. Atualmente, temos três principais disputando o Goiano de Futsal (Ansef/UFG, Vila Nova/Universo e Unirv). Acontece o aproveitamento de atletas que ganham bolsas em particulares e a seleção dos melhores, no caso da Universidade. Com isso, a transição base/adulto tem continuidade e fortalece ainda mais as equipes goianas. Unirv inclusive está classificada para a Final do Goiano e, caso vença, será a representante goiana na Taça Brasil de Clubes”.
Hugo ainda revela que, assim como as equipes de base e a própria federação, as equipes universitárias também enfrentam problemas: “Dentro dos principais desafios que enfrentamos, temos como principal a falta de investimento. Os atletas, juntamente com a comissão técnica, literalmente tiram dinheiro do bolso para custear arbitragens e viagens da equipe. Outro ponto é a dificuldade de reunir a equipe para treinamentos e jogos: os horários, por vezes, não são compatíveis com a vida acadêmica/profissional. Ao longo dos seis jogos que fizemos, não conseguimos repetir o mesmo quarteto inicial. A Universidade passa por um momento de muita dificuldade, e isso atrapalhou muito no desenvolvimento das atividades neste semestre. Existe a possibilidade de aumento de investimento no próximo ano, e com isso, poderemos nos preparar melhor”.