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Foto: CAIA IMAGE/SCIENCE PHOTO LIBRARY via AFP

Na busca por compreender as nuances do mercado de trabalho para professores, o professor universitário Breno Magalhães compartilhou suas perspectivas sobre os principais desafios enfrentados pelos professores, às demandas das instituições educacionais e as mudanças trazidas pela adoção crescente da tecnologia na educação.

Ao discutir suas próprias experiências, Magalhães destacou a importância de construir uma rede de contatos sólida ao procurar oportunidades de emprego no ensino superior. Ele afirmou: 

“A primeira coisa que eu fiz foi abrir minha rede de contatos e avisar a todos que eu queria começar a trabalhar no ensino superior. E aí logo eu fui recebendo alguns convites e foi muito bom poder filtrar, poder saber em qual Universidade eu queria ir e enfim, mas estou falando de universidades particulares que você não precisa ter concurso, para entrar no processo seletivo é diferente.”

Sobre os desafios no processo de seleção para universidades públicas, Magalhães comentou: 

“Eu quero sim entrar na universidade pública ainda, mas é um processo de concurso. Estou estudando para isso. Tentando ingressar nela, talvez a minha dificuldade seja esse processo. Ele exige muito do professor, preciso estar sempre me capacitando. Preciso estudar para o doutorado, preciso continuar publicando, preciso continuar escrevendo e ainda assim na docência e a docência por mais que a carga horária de contratação seja sei lá, o mínimo que tiver lá você trabalha sempre o dobro. O fora da sala de aula, preparar aula, fazer plano de ensino, fazer plano de aula e se capacitar intelectualmente para ensinar tudo. Isso também é uma grande dificuldade.”

Um dos pontos cruciais abordados na entrevista foi a questão da remuneração dos professores. Magalhães expressou: 

Hoje em dia a maior dificuldade da docência na minha visão é o salário.  Sem sombra de dúvidas é a carga horária nivelada ao salário, que é muito baixa e ela não é suficiente. O professor é muito desvalorizado, e existe um mercado ensino superior das universidades particulares que é de conseguir tentar o máximo pagar o mínimo para o professor,  tentar de todas as formas que o professor recebe o mínimo e é muito é muito difícil para você ter que trabalhar dentro de sala de aula e fora da sala de aula com o salário que é ofertado.”

Ele também acrescentou:

“Existe um problema da educação brasileira que é de fato não valorizar esses professores. Por mais que a docência seja de amor e afetos, é muito ruim estar em um mercado que não valoriza o professor. Eu gosto muito de transmitir conhecimento, de trocar conhecimento, de aprender com eles(alunos), trabalhar com pesquisa com a extensão e de estar ali pensando e recriando novas formas de estudar comunicação. Perceba, como isso tudo tem muito a ver com quem eu sou, com os meus afetos e em algum momento a remuneração é completamente desvantajosa. A gente trabalha muito tempo, se prepara demais e sofre muito porque é muito desleal o quanto a gente se prepara para se capacitar e o quanto somos remunerados por isso.”

Ao ser questionado sobre a capacitação dos docentes em relação a tecnologia, o professor diz que:

“Eu acho que a pandemia com essa questão do ensino remoto, ela preparou muita gente e ensinou muita gente a como viver nesse formato, né? Eu não sei o que você chama de tecnologia, mas talvez a utilização das inteligências artificiais, como chat GPT para produzir coisas, produzir enfim materiais de ensino e aprendizagem. Eu acho que o professor que se preocupa com a tecnologia. Ele está sempre um passo à frente. O grande problema é o tempo disso, quanto tempo leva para uma professora aprender a utilizar? Ele vai ter algum retorno da instituição quando ele tiver acesso à tecnologia? É um retorno só para ele para ele estar mais preparado para o mercado? Como é que a gente nivela isso? É muito delicado.  Recentemente eu fiz um curso para poder entender sobre o chat GPT e as funcionalidades dele dizendo que ele não é um inimigo nosso e isso levou a quase 16 horas de curso. E para quem serve esse conhecimento? veja como nós como docentes temos que acompanhar todo o processo e como é que faz para acompanhar e ser remunerado. Por isso tá muito difícil. Acho que o professor tem sim que se capacitar, as tecnologias estão mudando, as linguagens estão mudando. Temos que estar assim atentos a acompanhar isso e usar isso como ferramenta no nosso processo de ensino, mas é muito difícil desleal, porque quem paga essa conta?”

Ao abordar as diferenças entre oportunidades de emprego em áreas urbanas e rurais, Magalhães destacou: 

Cidades mais próximas da capital podem ter acesso mais fácil a recursos tecnológicos, enquanto áreas mais distantes, mesmo que não sejam consideradas completamente rurais, podem ter um ensino com características mais rurais. É importante seguir o ensinamento de Paulo Freire sobre compreender o contexto em que os alunos aprendem e as características culturais desse contexto, pois isso influenciará o tipo de conhecimento que precisa ser transmitido.”

Ele ressaltou ainda a importância de compreender as diferenças culturais entre as comunidades e adaptar os métodos de ensino conforme necessário:

“Por exemplo, o conhecimento transmitido para uma população do interior pode ser bastante diferente do que para uma população urbana em uma capital do centro-oeste. Os professores precisam entender o contexto em que estão trabalhando e adaptar seu ensino para atender às necessidades específicas desses alunos. Isso envolve considerar a linguagem, o acesso aos recursos e as diferenças culturais entre os alunos.”

Para finalizar ele fala sobre amudança no sistema educacional e nas políticas governamentais para melhorar as condições de trabalho dos professores:

“Poderia listar uma série de questões sobre as bases nacionais comuns curriculares, a importância da educação, os planos de educação existentes, entre outros. A educação é afeto e potência, e antes de qualquer área de conhecimento existir, existe a função do docente, do pesquisador, do agente educacional. Alguém precisa ser valorizado para que se compreenda a necessidade de educação com qualidade e respeito. Somente assim o aluno, a instituição e o professor se respeitarão mutuamente. Quando entendemos o valor da educação, não precisamos lutar para que os pais compreendam a importância de uma greve, por exemplo. Ensinar aos filhos a importância da educação é fundamental para que, no futuro, eles valorizem esse aspecto. Acredito que não haverá uma política governamental que responda completamente às necessidades da educação. Cabe a nós, como seres humanos, olhar para o outro com respeito e entender que todos merecem os mesmos benefícios. Precisamos respeitar os direitos humanos, garantir educação para todos, respeito para todos, salário mínimo digno e acesso à cultura.”

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