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O curta constata a realidade diária do jovem negro, e dá um show de realismo
Filme: Dois Estranhos
Data de lançamento: 20 de novembro de 2020 (EUA)
Diretores: Travon Free, Martin Desmond Roe
Estrelando: Joey Bada$$,Andrew Howard,Zaria
Prêmios: Oscar de Melhor Curta-Metragem em Live Action
Produção: Netflix
O filme “Dois Estranhos” tem dividido muitas opiniões. O curta-metragem disponível na Netflix conta a história de um jovem chamado Carter, interpretado por Joey Badass, que é o retrato do jovem negro mundial. O filme é dirigido por Trevor Free e Martin Desmond Roe. A produção não me deixa nem um pouco à vontade ao trazer cenas cotidianas de racismo estrutural que o povo preto vivencia todos os dias. O filme vai além ao fazer uma crítica social à violência policial sofrida pelo homem preto.
O curta apresenta uma violência gráfica que sobressai aos olhos, em cenas que se repetem invariavelmente, sempre trazendo um final trágico para Carter. Independente de reação ou não, e se você ainda não assistiu o filme, alerta! Aqui vai um spoiler da vida real: o homem preto sempre morre pois teve uma atitude suspeita. “Dois Estranhos” se baseia no preconceito presente tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos nas abordagens policiais com pessoas negras. Os diretores utilizam situações que são do cotidiano de muitos jovens periféricos para provocar reflexões dolorosas e a cada cena um gatilho é acionado.
O que o filme nos traz sobre a vida do personagem principal é que Carter é um designer de jogos, que mora com seu cachorro e passou a noite anterior com uma mulher preta e rica. Na primeira cena em que o jovem morre, não há nada que justifique a forma como o policial o trata (assim como em todas as outras cenas seguintes) a não ser por um fator: a cor de sua pele. Desde a primeira cena fora do prédio, que vai de um homem branco olhando torto para Carter a uma mulher se agarrando à sua bolsa, os diretores já deixam o espectador em alerta de que há algo de errado.
O jovem é abordado pelo policial Merk, interpretado por Andrew Howard, e se encontra preso em um loop, sendo obrigado a reviver o mesmo dia até a última cena do filme, quando tenta voltar para casa. Após morrer diversas vezes, Carter decide conversar com o policial para tentar escapar e, mais uma vez, independente de como a cena se inicia, sempre termina com a morte do jovem negro que anda com um alvo no corpo, sendo ele da cor preta.
É impossível ficar apático vendo cenas tão fortes, atuais, urgentes, dramáticas e inovadoras, “Dois Estranhos” é surpreendente, pois estamos acostumados a ver os corpos pretos como vilões, e este curta metragem, com uma fotografia intensa, dura e cruel, consegue relatar inúmeras vezes o dia a dia do jovem preto.
O curta traz uma fotografia apelativa com um enquadramento de câmera excelente com foco nos movimentos de acordo com o sentido de cada cena. Trazendo realismo para as cenas, desde o foco na respiração quanto nas expressões faciais.