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Ou, ao menos, essa foi a posição ocupada pelo novo lançamento Continência ao Amor da Netflix em inúmeros países por alguns bons dias. O Brasil está incluso na lista. O longa não sai da primeira posição e tem gerado uma legião de fãs, entusiastas dos romances, e críticos, contrários à ficcionalidade da peça e à visão do exército norte-americano.
Protagonizado por Sofia Carson no papel de Cassie Salazar, uma musicista com a carreira estacada no meio do caminho e que paga as contas com empregos não fixos, e por Nicholas Galitzine fazendo o militar Luke Morrow prestes a ir para a guerra, o filme é uma adaptação do livro Purple Hearts de Tess Wakefield, ainda sem tradução para o português. Apesar de trazer as nuances de um bom clichê, com enredos que são queridinhos do público, como casamento por conveniência, o filme também mostra a realidade da saúde nos Estados Unidos, ou ao menos tenta.
Cassie é portadora de diabetes tipo A e precisa de um plano de saúde que cubra as despesas dessa doença que não é nem um pouco barata, ao mesmo tempo que Luke necessita de dinheiro para pagar uma dívida conturbada do seu passado. Ambos, desconhecidos um do outro, acabam entrando em um acordo para um casamento falso que proverá a cada um deles o que precisam.
O clichê traz consigo uma reflexão sobre os programas de saúde estadunidenses e a falta de recursos gratuitos para cidadãos com doenças crônicas como a de Cassie. Nas redes sociais, entre os brasileiros, isso gerou inclusive um motivo para elogios ao Sistema Único de Saúde, o SUS, que sanaria os problemas de Cassie rapidamente. Entretanto, a abordagem para por aí, não mostrando muito além das dificuldades superficiais que a personagem tem por possuir a doença.
Apesar disso, o filme é o que ele se propõe desde o início, um bom clichê água com açúcar. Com pouco aprofundamento em questões como o antigo vício de Luke em drogas, e até mesmo sem um desenvolvimento regular da temática sobre a saúde de Cassie, a adaptação se mantém em um terreno seguro de um romance quase morno, apesar da química notável entre os protagonistas.
Sem cenas brilhantes e em uma busca pela comoção do público através de tramas dramatizadas pelos personagens e pelo poder que uma bela canção pode ter. Canções essas que vem no meio do caminho entre uma doença preocupante, um casamento de conveniência e um marido ferido na guerra, afinal, Cassie faz seu nome lançando músicas que viram sucessos. O filme conseguiu emocionar ao público comum do serviço de streaming, mas não convenceu os críticos e ficou abaixo da média esperada em sites como Rotten Tomatoes, IMDb e Letterboxd.
“De uma certa perspectiva, “Purple Hearts” é um comercial de medicamentos prescritos. Mais especificamente, um comercial que anuncia a necessidade de medicamentos de prescrição acessíveis.” – David Ehrlich, do crítico do IndieWire, através do site Rotten Tomatoes (tradução livre)
O longa também peca em uma melhor contextualização sobre o momento de guerra vivido durante o filme, inclusive para onde Luke vai e acaba sendo ferido. Novamente, mantendo-se no terreno superficial da abordagem, talvez até mesmo para não ficar tão mau quisto com o exército americano após um filme sobre burlar as leis pelos benefícios de um casamento militar.
Ainda que cumpra com o papel do entretenimento básico e superficial, o que justifica o Top 10 em 89 países dentro do ranking da plataforma, Continência ao Amor não passa tanto disso. Podendo trazer reflexões profundas sobre temas importantes como saúde e política internacional, o filme se manteve nas águas calmas da provocação de debates supérfluos e procurou a segurança de um romance clichê.