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Por décadas, educadores enfrentam a desvalorização do trabalho educacional, seja com baixa remuneração, falta de verbas para um ensino adequado ou pensamentos retrógados por parte de olhares que não vivenciam de perto a realidade. Todos esses são apenas alguns dos diversos obstáculos enfrentados na educação, principalmente quando se trata de ensino público.
O ensino público sempre foi visto com preconceito pela elite goiana, por muitos anos foram até marginalizados por algumas pessoas e quando se tem pensamentos desta forma, há uma grande recaída no processo de evolução, atingindo drasticamente os educadores. Mesmo com esses obstáculos, professores da rede pública do estado conseguiram entregar uma grande nota ao indicador criado pelo governo federal, ficando entre as três melhores do país.
Em 2023 Goiás ficou em primeiro lugar de acordo com dados divulgados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), o governador Ronaldo Caiado destacou as ações para reestruturação da rede estadual de Educação que levaram o estado a primeira classificação no ranking nacional. Atingiu a maior nota do país, com média de 4,8 e também ficou entre as únicas três unidades da Federeção que atingiram a meta do Ideb, junto com Pernambuco e Piauí.
Nesta entrevista, Júlia Benite, que é professora do estado e formada em Filosofia pela Universidade Federal de Goiás (UFG), fala um pouco sobre como tem lidado com a desvalorização da categoria docente e quais são as dificuldades enfrentadas por ela no meio.
GM: Como você descreveria a atual situação da educação pública em Goiás?
JB: Com muita tristeza, acredito que a qualidade caiu muito nos últimos anos, afetadas tanto pela pandemia quanto pela desvalorização por parte do atual governo em relação aos professores, que viram vários direitos direitos serem removidos pela gestão do Caiado.
GM: Você é professora a quantos anos?
JB: Sou professora a 14 anos
GM: Certo, nesses anos em que atua como professora, você sente que a questão da desvalorização dos professores mudou muito? Digo em relação a salários e benefícios.
JB: Não, foi muito grande a desvalorização e junto a ela veio a falta de autonomia dos docentes, falta de materiais básicos para trabalhar e retirada dos direitos.
GM: Como você avalia o piso salarial dos professores da rede pública de ensino de Goiás em comparação a outros estados? Tendo em vista que segundo uma pesquisa divulgada pelo G1 no ano de 2023, o estado com maior piso foi o Pará, sendo R$ 11.447,48 mil reais.
JB: Com muita tristeza, o atual governo nunca pagou o piso, ele paga gratificações que ficam no lugar do piso, o problema é que não incorpora e a qualquer pedido de licença ou aposentadoria solicitados, eles são renegados.
GM: Ainda sobre remuneração, quanto ganha um professor hoje?
JB: Se não me engano, o salário é de R$ 4.624,78 para professores com a carga horária de 40 horas semanais.
GM: Você acredita que a desvalorização dos profissionais docentes afeta a qualidade de ensino nas escolas públicas? Crê que os alunos sentem falta de uma maior valorização?
JB: Acredito que sim, pois nos afetam na parte mental, trabalhamos sem acreditar em nós mesmos.
GM: Quais são as maiores dificuldades enfrentadas por professores no dia a dia? Ex: (infraestrutura, recursos didáticos, apoios psicológicos…).
JB: Infraestrutura, recursos didáticos, apoios psicológicos, falta de responsabilização em casos de desrespeito e indisciplina dos alunos são as maiores dificuldades que enfrentamos.
Para a docente, os números positivos alcançados pelo estado não se refletem na atenção e no cuidado com a carreira de professores em Goiás. Pergunto a ela:
GM: Você ainda tem esperança que a categoria possa ganhar grande reconhecimento?
JB: Não, não acredito em melhoria a curto e nem a longo prazo para a educação e a valorização do professor.
Recentemente a secretária de educação do estado, Fátima Gavioli, realizou uma live com toda a rede de ensino estadual, ao vivo ela rebateu queixas de professores contratados e proibição de se ausentar do trabalho para acompanhar filho durante consulta médica.
Um dos professores informou que o problema referente à remuneração “nunca foi sobre aumento, mas sobre passar fome”.
Logo a gestora retrucou: “Aí tem que deixar o serviço. Está passando fome? Tem que achar um trabalho que ganha mais, porque na educação você já entrou sabendo quanto seria seu salário.”
Em outro momento, um professor reclamou que os profissionais contratados, sem concurso, não podem acompanhar o filho no medico.
Fátima respondeu que ele “não é obrigado a trabalhar, não”.
Continuou: “Se você for contrato e você acha que tem que ter emprego que te libera para ir ao médico, você precisa sair, porque a lei é federal”, afirmou a secretária
Devido a esses comentários realizados por figuras “representativas” que muitos professores deixaram de ter esperança em uma possível valorização por parte do estado. De modo, a levar um retrocesso muitas vezes a rede pública de ensino e a classe docente de Goiás.