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Um filme que vivifica Elvis e o torna humano, nos mostra sua intimidade, medos e inseguranças. Ao passo que a trama de Baz Luhrmann se desenrola, podemos ver-nos fisgados pelo enredo que muito carrega o melodrama cinematográfico, mas que ao mesmo tempo nos leva a pensar nos fatos da vida concreta do rei do rock, no enredo construído pelo universo, humano e falho como qualquer outro ser humano comum. 

Com grande peso histórico, a vida do astro norte-americano se inicia em um contexto de segregação racial e em um período de intrínsecas mudanças sociais, onde o ódio humano ao diferente é propagado, longe dos Direitos Humanos, a ponto de ser considerado dispensável da sociedade. E é nesse contexto social que cresce Elvis Presley, no meio de gente “diferente” que se busca a todo custo calar e afastar da sociedade. 

E é nos guetos e bairros afastados que se começa a ouvir os burburinhos e sussurros do que viria a ser um dos maiores ritmos musicais já conhecidos. Nasce o Blues, o Jazz, o Gospel e, posteriormente, o Rock. As influências principais para o surgimento do rock são notáveis dentro da comunidade negra, que carrega o legado manifesto nas expressões artísticas e na cultura dos africanos vindos escravos para os Estados Unidos.

Não é coincidência que essa influência sobre Elvis o torna um precursor do rock, e consequentemente confirma a consolidação do ritmo que ganha notabilidade e se torna tão forte quanto a história de mártires que se eternizaram por seus grandes feitos. Mas arrisco a dizer que o rock nasce como uma manifestação natural e inerente aos negros, como se essa fosse o produto resultante de toda dor e sofrimento vivido e sentido por eles. Semelhante ao que acontece quando da areia que adentra ao interior de uma ostra virgem de sofrimento, nascem pérolas perfeitas como se fossem produzidas por mãos hábeis e propositais em sua destreza.

Os ritmos que brotavam e já não se podiam conter em si mesmos foram assimilados por Elvis e vivenciados integralmente por ele. E essa foi a causa do seu grande sucesso: sua entrega ao ritmo que mudou a história. 

Na trama apropriada por Luhrmann, com a mesma excitação com que há o deslumbramento quase que poético do Elvis com a matriz do rock, há um assalto de decadência moral e demarca a humanidade de Elvis, em sua face longínqua de virtude. Em essência, é essa imoralidade que permanece na imagem de Elvis, desde sua ascensão ao sucesso, até sua derrocada, embora seja possível vermos as qualidades puras e sinceras evidenciadas ao longo do enredo. 

O grande desvio de caráter do rei do rock, evidenciado no longa de Luhrmann, sem dúvidas está no fato de ele ter perdido controle sobre si mesmo, até mesmo no fato de ter perdido o controle sobre o rumo de sua história. Isso se torna evidente desde o início do filme, ao ter como comentador da sua própria história ninguém menos que seu empresário maquiavélico, o Coronel Tom Parker. 

No final do longa nos damos conta de que na verdade essa é uma história contada sobre como Elvis se prendeu nas garras do Coronel ou mesmo nas garras do rock, sendo ele um eterno prisioneiro da sua própria Jailhouse Rock. A trama deu ao imortal rei do rock’n’roll, uma narrativa que, ouso dizer, mostrou ao público a voz que se calou diante de sua própria autonomia roubada por quem lhe proporcionou conhecer o sucesso.

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