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Se O Poço já deixava alguns internautas desconfortáveis, O Poço 2 leva esse incômodo a outro nível. Lançado na Netflix em 4 de outubro de 2024, o filme dirigido por Galder Gaztelu-Urrutia expande a crítica social do primeiro, criando uma experiência ainda mais sombria e brutal. Com Milena Smit (Perempuán) e Hovik Keuchkerian (Zamiatin) nos papéis principais, a sequência não apenas aprofunda o universo da prisão vertical, mas também introduz dilemas morais e um sistema autoritário mais opressor.
Com cenas ainda mais tensas e desafiadoras, O Poço 2 convida o público a uma experiência que vai além do entretenimento, exigindo uma reflexão sobre desigualdade e os limites do que estamos dispostos a sacrificar para sobreviver.
A trama aprofunda o universo distópico do primeiro filme, questionando até que ponto regras e ideologias podem se transformar em formas de opressão. Surge um novo sistema autoritário, a Revolução Solidária, que promete igualdade, mas impõe suas ordens de maneira cruel através de um grupo conhecido como os Ungidos, liderados por Dagin Babi. Sob seu comando, a estrutura vertical da prisão que limita brutalmente o acesso aos recursos funciona como uma metáfora crua da desigualdade social contemporânea.
A brutalidade desse sistema fica clara na frase de Perempuán: “Se a lei não é respeitada, as pessoas morrem.” A escassez de recursos e a submissão são parte da vida dentro do poço, onde, como afirma Trimagasi, “Nós somos prisioneiros de nós mesmos, e disso não tem como escapar.” Esta afirmação resume o ciclo de resignação e desespero que aprisiona os personagens, em que até a própria mente é uma forma de cárcere.
Perempuán, uma artista que entra na prisão buscando “tempo” para lidar com o passado, carrega um peso emocional profundo e luta para escapar das memórias dolorosas que a assombram. No poço, ela busca se libertar tanto das regras opressivas do sistema quanto dos traumas que a acompanham. A prisão torna-se uma forma de purgação, um lugar onde a luta pela sobrevivência se mistura com o desejo de esquecer erros e perdas que definem sua vida.
⚠️ ⚠️ Alerta de Spoiler ⚠️⚠️
Para os fãs de teorias, uma interpretação intrigante é que O Poço 2 ocorre antes do primeiro filme. Os eventos brutais vividos por Perempuán precedem as experiências de Goreng (Ivan Massagué), que busca a filha de Miharu, escondida no último andar.
As crianças que aparecem em várias cenas do filme representam uma esperança; podem não ser reais, mas sim visões de Perempuán e Goreng, refletindo suas experiências semelhantes. No final do segundo filme, é esclarecido que Perempuán já estava no poço quando Goreng chega, o que reforça a teoria de que O Poço 2 antecede o primeiro; a cena do abraço entre os dois sugere que eles já se conhecem.
A ideia das crianças como “escolhidas” ou “salvas” adiciona à história uma camada quase religiosa, vinculada a temas de sacrifício e redenção.
Trimagrasi menciona: “Existem três classes de pessoas: as de cima, as de baixo e as que caem.” Essa fala no primeiro filme sugere que os que “caem” talvez sejam os que se entregam à loucura do poço. Isso conecta sua declaração ao desespero crescente que consome os prisioneiros e à teoria de que as crianças não são reais, mas representam um propósito pelo qual os personagens lutam; uma possível entrega à insanidade.
Comparações
O primeiro filme foi premiado no Goya Awards — considerado o “Oscar espanhol” — na categoria de melhores efeitos especiais e venceu na mostra Midnight Madness do Festival Internacional de Toronto. Em 2020, ao ser adicionado ao catálogo da Netflix, chegou rapidamente ao primeiro lugar entre os top 10 mais vistos.
O Poço 2 se destaca por sua abordagem visceral e psicológica, usando o horror como um espelho da realidade. Considerando as premiações e críticas positivas recebidas pelo primeiro filme, que conquistou prêmios internacionais, O Poço 2 carrega uma expectativa elevada. As comparações com seu antecessor são inevitáveis, e o novo filme tenta superar a obra original ao expandir sua mitologia e aprofundar suas críticas sociais.
Ainda assim, O Poço 2 tem recebido avaliações baixas. O canal no Youtube – Ei Nerd faz uma análise aprofundada e explica que a rejeição se deve mais à própria existência da sequência do que à sua qualidade. “Se ‘O Poço’ já não era para corações fracos, o 2 é menos ainda, com cenas perturbadoras.”
Nos comentários do vídeo do Ei Nerd, espectadores compartilham suas impressões sobre a complexidade da história. Um deles destaca: “Assisti O Poço 2 esperando que explicassem o primeiro, e no final fiquei sem entender nenhum dos dois.”
A crítica vem principalmente de quem não entende o filme e prefere não interpretar as camadas da trama. Este filme não é para qualquer um. Quem gosta apenas de entretenimento, por exemplo, pode odiar O Poço 2.
Para quem é recomendado
O Poço 2 é pra quem curte filmes que mexem com a moralidade e traz temas pesados como justiça e desigualdade. Se você gosta de tramas que provocam reflexões profundas sobre a natureza humana e está de boa com histórias sombrias, esse filme vai ser uma experiência instigante.
Agora, se você é do tipo que prefere algo mais leve, ou histórias com heróis tradicionais, talvez O Poço 2 não seja a melhor escolha. As cenas são gráficas, e a crítica social é intensa, então, quem não curte interpretações profundas e discussões pesadas provavelmente vai se sentir desconfortável com a proposta.