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Imagem: Canva

Mal amanheceu e o celular já vibra com milhares de notificações. A primeira mensagem na tela é o grupo do trabalho, milhares de pautas já estão sendo discutidas, e em seguida, lembrete de atividade para ser entregue hoje, e o grupo de amigos já estão marcando o próximo encontro. No Instagram acabaram de postar um reel sobre como ser mais produtivo. 

Olhei para agenda: estágio um, estágio dois, curso de inglês, faculdade e academia (porque afinal “saúde em primeiro lugar”, né?). Fechei tudo e pensei: “Como é que eu vou dar conta?”. E a tela acende sem parar, como se minha vida dependesse de estar o tempo todo fazendo alguma coisa.

Eu suspiro, levanto da cama e calço os chinelos, mentalizando que dias melhores virão, já que é isso que todo mundo fala. Na cozinha, coloco água e café na panela enquanto abro a agenda e ligo o notebook para revisar algumas anotações e ter certeza que nada passou despercebido. Enquanto o aroma do café se espalha pela casa, minha mente já se divide. Tudo ao mesmo tempo.

A gente vive numa geração que acha bonito ser ocupado. Quem nunca ouviu alguém dizer com orgulho: “Nossa minha semana está lotada”? É como se a gente medisse o sucesso pela quantidade de tarefas do dia. Se não tá sobrecarregado, tá fazendo errado. 

Quando foi que viver se tornou assim? A vida inteira me disseram que ser multitarefa era o segredo do sucesso, que equilibrar mil coisas era sinal de competência. E eu acreditei. Acreditei tanto que agora me sinto culpada sempre que paro.

Mas será que isso é vida?

Durante o dia, a corrida entre um compromisso e outro. No primeiro estágio, apuro notícias, enquanto respondo mensagens no grupo da faculdade. O horário de almoço é engolido por um vídeo no YouTube sobre “como ser mais produtivo em 4 passos”. À noite, depois da aula, precisa vir aquele treino rápido, porque não dá para descuidar da saúde.

E finalmente, no fim do dia, quando me deito, percebo que a sensação de cansaço é maior do que a de realização. O silêncio da noite me faz questionar: estou ocupada o tempo todo, mas será que estou avançando? Ou só andando em círculos?

Lembro das histórias da minha mãe, professora e fascinada por biologia. Ela adorava falar sobre colmeias, sobre como cada abelha tinha uma função específica e todas trabalhavam juntas. Tudo ali parecia ter um propósito claro, uma ordem natural. Mas, olhando para minha rotina, me sinto mais como uma abelha perdida, zanzando de flor em flor sem saber se estou mesmo construindo algo ou só gastando minhas asas à toa.

Talvez seja hora de repensar o que realmente significa “ser produtivo”. Será que é realmente sobre fazer o máximo de coisas possível ou fazer o que importa de verdade? Será que aquele hobby que virou compromisso na agenda ainda é prazeroso? 

Enquanto termino o café da manhã, olho pela janela e vejo um pássaro pousado no muro. Ele canta como se o tempo não existisse, como se não houvesse prazos, mensagens ou notificações para responder. E por um instante, imagino como seria viver assim: fazer uma coisa de cada vez, com calma, e sem pressa.

Mas, então o celular vibra de novo. Mais uma tarefa, mais um lembrete. Eu suspiro, pego o telefone e sigo. Porque, por enquanto, ainda não sei como desligar.

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