Desafios exaustivos aos jovens independentes 

Jovens residentes em Goiânia enfrentam uma rotina desafiadora e exaustiva, equilibrando o compromisso com o trabalho e os estudos para custear suas despesas
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São 6 horas da manhã, consciente do meu cansaço, abro os olhos e desligo o alarme do celular. Após mais 10 minutos, que de nada compensam a falta de sono, me levanto na última terça-feira de novembro. Com a escova de dentes, arrasto os pés até o banheiro, recordando-me de que só poderei me deitar novamente às 23h. 

Ao deixar minha residência, minutos antes das 7 horas, aguardo no ponto de ônibus. Passo pela catraca, e aos empurrões, vou me acomodando, com sorte, perto de uma barra de ferro para segurar. Na Avenida Castelo Branco, desço com passos apressados para começar meu expediente na clínica de estética. Às 8h, ponto batido, mergulho nas tarefas. Quase cinco horas que parecem menos pelo relógio, mas bem mais pelo corpo. 

Almoço às 12h com minha fiel companheira: a marmita. Gelada ou não, é o combustível para o que vem depois. Quando o relógio marca 12h30, já estou no ponto de ônibus outra vez, pronta para o segundo estágio. 

Essa é a rotina de muitos jovens que conciliam trabalho, estudos e deslocamentos longos, enfrentando o alto custo de vida da capital goiana. 

Acordar cedo, enfrentar ônibus lotados e longos trajetos é um ritual diário. Para se ter ideia, o tempo médio de deslocamento em transporte público nas capitais brasileiras é de aproximadamente 2 horas por dia, o que equivale a 21 dias por ano, de acordo com a Pesquisa Mobilidade Urbana 2022, conduzida pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) em parceria com o Sebrae. Esse cenário é agravado pela alta densidade de passageiros nos horários de pico, tornando cada viagem mais longa e perigosa, com passageiros muitas vezes viajando em condições desconfortáveis e inseguras.   

No terminal, o caos reina. Entra e sai de gente, ruídos e pressa. Aguardo por 15 minutos até que meu ônibus chegue.  

Quando finalmente chega eu entro. Nesse horário sempre consigo me sentar, aproveito a oportunidade para encostar a cabeça na janela e fechar os olhos, buscando cochilar até a minha parada. Esforços em vão diante do movimento irregular do ônibus. 

Ao descer do transporte público ando por um mato baixo guiado por uma cerca, com a sensação de que há muito por enfrentar. O sol, insuportável, aumenta a carga do dia.  

Atravesso a rua pela faixa de pedestres e adentro uma enorme estrutura burocrática. Bato o ponto e me encaminho à sala compartilhada com meus colegas, onde permaneço por 4 horas. Mais um turno em frente ao computador. Redes sociais para organizar, textos para redigir, ideias para criar. 

Após esse período, bato o ponto e cruzo o mato novamente, aguardando do outro lado da avenida, sobre a grama, abaixo de uma placa cuja finalidade nunca despertou meu interesse. Em pé por cerca de 10 minutos, o ônibus chega. 

Me sento em uma cadeira destinada a idosos, consciente de que qualquer pessoa, exceto um idoso, ocupará o lugar se eu não o fizer. O ônibus segue até o próximo ponto, onde permanece parado por aproximadamente 5 minutos para que uma multidão entre e ocupe o espaço. Suspiro pelo que parece ser a centésima vez, fecho os olhos, aguardando minha terceira parada do dia. 

Ao chegar, desço e atravesso o viaduto, percorrendo com esforço uma subida ridícula e cansativa. Após cerca de 7 minutos, chego no portão da minha faculdade; minha cabeça lateja, e minhas vistas estão cansadas. 

Suspiro, reclamando da vontade de ir embora logo. As aulas tornam-se enfadonhas e cansativas, com mais produções e tarefas. A fome já grita em meu estômago a essa altura.  

Ao sermos liberados, suspiro e início minha caminhada. Percorro ruas escuras, mas pelo menos minha casa não está tão distante. Entre o trabalho e os estudos, jovens como eu enfrentam trajetos difíceis, com ruas pouco iluminadas e sem infraestrutura adequada. No Jardim da Luz, onde moro, postes apagados são uma preocupação constante. A situação é semelhante em bairros como Jardim Nova Esperança, Jardim Clarissa e Residencial Alphaville, onde moradores relatam problemas de iluminação pública. Muitos desses locais estão às escuras há meses, agravando a insegurança para quem precisa transitar à noite. 

Com a chave em mãos, abro o portão e a porta, retirando a enorme e pesada mochila das costas. Pego a toalha e vou para o banheiro; lá, retiro toda a sujeira, mas, infelizmente, não me livro do cansaço. A água no corpo é relaxante, porém descansar torna-se prioridade. Deixo o banheiro, lavo as vasilhas para preparar minha janta e organizo a marmita para o próximo dia. Realizo a refeição e, posteriormente, deito-me. 

São quase 23h40 da noite. Fecho os olhos e instantaneamente cochilo. 

De repente, ouço um barulho. São 6 horas da manhã. Consciente do meu cansaço, abro os olhos e desligo o alarme do celular… 

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