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Lara Luiza

O relógio já apontava para o final da tarde, e ali estava eu, como tantos outros, encurralada em mais um engarrafamento. O trânsito, esse ente imortal da cidade, que parece nunca desaparecer, se estendia diante de mim como um mar de carros que se movem em câmera lenta. Não importa a hora, o dia, a promessa de um atalho: a sensação de estar preso é sempre a mesma.

O som dos motores, os ecos das buzinas, e o ritmo frenético dos aceleradores cortam o silêncio da cidade. Cada parada no semáforo me dava tempo para observar as pequenas cenas que surgem nas janelas dos outros carros. Vi uma senhora ajustando seus óculos com uma delicadeza quase ritualística. Lá atrás, um motorista resmungava e gesticulava impacientemente, enquanto seu carro avançava dois centímetros por vez. Em algum momento, a sensação de que o tempo se dilata é inevitável. O relógio não adianta, o instante não passa, e o horizonte parece inatingível.

O trânsito, mais do que um simples fluxo de veículos, é uma representação da nossa sociedade apressada, ansiosa e, muitas vezes, irreflexiva. Ele é reflexo de nossa pressa para chegar a lugar algum, como se o destino final fosse a chave para o alívio de nossas inquietações. Mas, no fundo, todos sabemos: o destino se repete, a viagem continua, e o tempo perdido é irrecuperável.

Há quem tire proveito desse tempo – é no trânsito que muitos fazem aquela ligação não atendida, que tentam resolver questões pessoais ou que simplesmente se perdem no mundo da música ou dos pensamentos. O que antes parecia ser um fardo, agora se torna um momento de introspecção ou até um pequeno espaço de liberdade. E, em meio ao caos, é curioso perceber que o trânsito é talvez o único lugar onde, por alguns minutos, todos somos iguais. Não importa o modelo do carro, a cor da roupa, a classe social: todos estamos ali, sujeitos à mesma coisa.

E então, o semáforo finalmente abre. O som dos motores volta a acelerar, e o trânsito segue, como sempre, mas o que ele me deixou não é um simples pedaço de tempo perdido. No meu retrovisor, a cidade se desfaz em pequenas cenas, e o próximo engarrafamento já se desenha no horizonte. E eu, de novo, me pergunto: será que estamos realmente indo a algum lugar?

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