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O quarto sempre foi o meu lugar preferido da casa. As paredes pintadas de branco e rosa, a penteadeira cheia de maquiagens, as fotos com as amigas grudadas na parede e até mesmo o guarda-roupa todo revirado. Foi ali, numa tarde ensolarada, aos 17 anos, que decidi que seria jornalista. Escrevi minha primeira matéria, mas ninguém leu, exceto meus pais; que ficaram tão felizes como se fosse um prêmio.
Camila está finalizando o segundo ano de faculdade, quase chegando no 5° período e trabalhando em um jornal local, onde aprendeu que falar sobre política, pode ser mais desafiador do que dar uma notícia de trânsito. Hoje, enquanto arruma seu quarto, que já não gosta mais de deixar tão bagunçado, um pensamento não sai de sua cabeça.
Casar aos 20 anos: a palavra casar, ‘ecoa’ tão alto em seus pensamentos. Não era algo que imaginava tão cedo, mas parece que a vida ignorou os planos da Camila de 13 anos, que dizia que não iria casar. A ideia de sair de perto dos seus pais a assombrava, afinal, sempre foi muito apegada, a eles. Quando Pedro, seu noivo, chegou em sua vida, ela pôde perceber que os planos da vida não são escritos em agendas, mas sim vividos improvisados.
Hoje Camila encaixota suas coisas, e o urso que ganhou de sua mãe no aniversário de 10 anos não saiu ao seu lado, surgiu a dúvida, leva ou não leva?!, observando também os livros do ensino médio e até as cartas de amizades da infância. Junto com algumas cartas ficaram também as amizades, algumas que tiveram a experiência de criar asas e sair voando por aí. A Rafaela por exemplo; se casou aos 17 anos, teve filho, e não deseja essa experiência para ninguém, bem diferente da Jéssica, que casou aos 18 anos, ama seu casamento e faz questão de compartilhar experiências.
É a primeira vez que Camila sairá da casa dos seus pais. A mãe não diz nada, mas, pelo olhar dá para ver uma confusão de sentimentos. O pai fala algumas palavras enquanto ajuda guardar as coisas. Camila se pega olhando todos os cantos do quarto e lembrando que, em alguns dias, não estará mais naquele lugar onde viveu durante 20 anos, registrando todos os momentos: os choros, as risadas e até mesmo os cafés da manhã que seus pais deixavam em cima de sua escrivaninha nas manhãs em que ela estava em casa.
Em alguns dias, Camila não chegará tarde da faculdade para encontrar sua mãe guardando seu jantar e o almoço para levar no dia seguinte. Em alguns dias, ela não voltará para casa e verá suas irmãs visitando o lar onde morou por tantos anos, perguntando o que aprendeu de novo na faculdade. Em alguns dias, sua mãe não ligará para dizer que ela esqueceu o guarda-chuva ou a blusa de frio.
Quando deita para dormir, em seus últimos dias naquela cama à qual já está acostumada, a ansiedade bate, assim como a angústia de pensar em como serão os próximos anos. Junto com esses sentimentos, ela também percebe algo maior: a curiosidade de descobrir como será o mundo lá fora.