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Yasmin passou 29 anos da sua vida sendo chamada e conhecida por Yasmin Lopes. Menos pelos seus pais. Para eles, ela era a Brisa. Um apelido cheio de carinho e afeto que, durante toda a sua infância, carregou a leveza que aquela menininha levava para os lugares. Hoje, ele não expressa apenas a sua personalidade, mas também o significado da arte em sua vida, se tornando, assim, seu nome artístico.
Brisa encontrou na arte a possibilidade de presentear aqueles que amava. “Quando criança, fazia retratos das pessoas e expressava como as via por meio de desenhos. Era um hobby, a forma que eu tinha de me divertir fazendo o que gostava”, afirmou a artista. Foi a partir dessa paixão que ela decidiu qual caminho gostaria de seguir na faculdade. Então, em 2018, Brisa se formou no curso de Design pela Pontifícia Universidade Católicade Goiás (PUC GO).
Apesar de saber que amava desenhar e pintar, aquela mulher, que já não era mais uma garotinha, percebeu durante sua jornada na faculdade que ainda estava se descobrindo. De acordo com a artista, ela refletia sobre quem era e o que queria fazer enquanto aprendia suas primeiras técnicas de desenho. Mergulhou na aquarela, na tinta a óleo e na tinta acrílica, mas encontrou na guache e no digital as suas principais formas de expressão. Ela sentia que precisava de mais, mais tinta, mais cores, mais vida. Assim como encontrou a guache, Brisa também se encontrou. “Apesar de ter terminado a faculdade há 6 anos, foi só em 2024 que eu comecei a me ver como artista”, mencionou
O design como porta para a criatividade
A sua arte demonstra sensibilidade, leveza, calmaria e aconchego. Afinal, como significar outra coisa que não fosse a sensação de sentir a brisa do vento no rosto? É por meio do retrato de situações lúdicas, ou seja, que não são possíveis na realidade, que ela toca aqueles que enxergam a sua arte. Por exemplo, flores e animais gigantes, ou o uso de cores diferentes em lugares que não são comuns, como o céu rosa.
Como mulher parda, eu amo, principalmente, retratar outras mulheres pardas. Mas também me sinto atraída pela natureza e pelos animais.
O design abriu portas para ela descobrir a sua paixão, mas não conseguiu prendê-la. É difícil para alguém cheio de criatividade se fechar em uma caixinha engessada. “Eu percebi, a partir de 2018, quando entrei no mercado de trabalho, que existia o peso de equilibrar tendências, criatividade e as exigências das empresas.” Mesmo remando contra a maré e resistindo àquilo que a vida insistia em lhe mostrar, Brisa finalmente viu na ilustração a liberdade que tanto queria.
Apoiando-se nos seus familiares, amigos e na namorada, em janeiro de 2024 ela decidiu que era o momento de apresentar para o mundo quem é a Brisa. “Foi quando iniciei a minha participação na Feira das Minas e comecei a ser mais ativa no Instagram.” Ela começou a receber encomendas e percebeu que poderia trabalhar com o que gosta. Brisa conseguiu realizar o sonho de muitos: unir amor e trabalho.
Não foi um processo fácil. Na verdade, ainda não é. É muito difícil trabalhar com arte em Goiânia, mas desistir não é uma opção. Principalmente quando não me enxergo fazendo outra coisa.
Os obstáculos não estão apenas no cenário cultural da cidade, mas também dentro dela mesma. Trabalhar com criatividade não é fácil. O bloqueio criativo às vezes aparece nos momentos em que Brisa mais precisa produzir e dura mais do que deveria. Seis meses. Foi o tempo em que a artista ficou perdida entre pensamentos e desenhos. “Se encontrar na própria mente e reencontrar inspiração pode ser complicado, mas eu desenvolvi métodos que me ajudaram”, explicou Brisa. Ela tornou o processo, que começou a se tornar difícil, leve.
A arte de ensinar
A guache e a ilustração mostraram uma arte que Brisa não imaginava que gostasse: a de ensinar. Foi por meio da Lei Paulo Gustavo que entre julho e agosto de 2024 a artista conseguiu a oportunidade de coordenar a oficina Tons de Diversidade. “Ensinei para cerca de 60 pessoas, entre crianças, jovens e idosos, técnicas artísticas. Passeei entre teoria das cores, sombra, luz, colagens, pintura e desenho, mas sempre deixei que a criatividade dos participantes guiasse as suas produções.” Brisa entendeu, a partir daquele momento, que queria democratizar a arte.
A menina e seu cachorro
Entre tons suaves de roxo e azul, a cena ganha vida: uma menina serenamente protegida sobre um cachorro, enquanto a luz parece envolver os dois em um manto de calma e proteção. O quadro “A Menina e Seu Cachorro” é mais do que uma pintura digital, é um retrato sensível do amor de Brisa por seu fiel companheiro, Nanquim.
“Nanquim não é apenas um cachorro, ele é família, é abrigo”, enfatizou a artista. Nesse universo particular, Brisa traduz em cores e formas a ternura que encontra na presença do seu amigo. Essa obra nasceu de um momento delicado. Brisa, que sempre usou a arte como um refúgio, se viu presa em um bloqueio criativo que parecia não ter fim. A inspiração fugia e, junto dela, a leveza de criar. Cada traço dessa pintura se tornou uma lembrança de que o amor pode ser um ponto de partida para reencontrar a paixão perdida.
Por trás dessa criação, há uma luta silenciosa. Brisa conviveu quase três anos com a depressão. A arte ofereceu um caminho para sua melhora e para a compreensão de si mesma. “ Eu também descobri que a ansiedade e a síndrome do pânico eram desafios que precisavam ser enfrentados”, relembra a artista. “A Menina e Seu Cachorro” não é apenas uma pintura, é um abraço em forma de imagem. Uma lembrança de que, mesmo nos momentos mais difíceis, o amor e a criatividade são forças capazes de iluminar a escuridão. É a representação de Brisa reencontrando sua voz e sua arte.
Onde encontrar Brisa?
A artista estará participando, neste final de semana, da “Pop Feira de Artes”, na Vila Cultura Cora Coralina. O evento terá início às 11h e será palco de artes gráficas, moda, design, histórias em quadrinho, gastronomia, artesanato e muito mais.
Confira também o Instagram da artista: Brisa
Esse texto foi produzido pela equipe do Correio Cultural, de autoria de Anna Letícia Epaminondas e revisão de Hayane Bonfim.