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Sofia Santiago

EDTWT é a sigla para Eating Disorder Twitter, uma comunidade formada por pessoas (em sua maioria meninas adolescentes) que se apoiam, de forma explícita, em comportamentos alimentares prejudiciais com o objetivo de alcançar a magreza no X (antigo Twitter). O termo pode ser novidade para muitos, mas faz parte da internet desde os primórdios das redes sociais. No entanto, com as mudanças nos algoritmos, as publicações desse nicho aparecem cada vez com mais frequência, assim como as vendas de Ozempic.

Já não é preciso ler uma pesquisa para saber que o uso excessivo das redes sociais afeta a saúde mental. A atividade já faz parte da rotina da maioria, especialmente no Brasil. Com as recentes mudanças nas políticas das redes, em que a checagem de fatos e a regulação de conteúdo deixaram de ser prioridade, é comum se deparar com mais publicações ofensivas e discursos de ódio ao rolar a timeline. Um estudo da Universidade de Berkeley, na Califórnia, apontou um aumento de 50% na quantidade de conteúdo desse tipo desde que Elon Musk assumiu o X, em outubro de 2022. Não conseguimos mais controlar o que nos será sugerido na linha do tempo: “Minha timeline está cheia de tweets do edtwt quando nunca interagi com eles”, relata um usuário do Reddit em uma postagem de maio de 2024.

Captura de tela de publicação Reddit citada no parágrafo anterior
Captura de tela do Reddit

Conteúdos como os do EDTWT aparecem na aba “Para Você” e provocam diferentes reações, desde repulsa até identificação – e é isso que preocupa. A pressão para atender aos padrões estéticos promovidos pelas redes é diretamente associada ao aumento dos casos de transtornos alimentares, como anorexia e bulimia, nos últimos anos. Uma pesquisa realizada em 16 países, incluindo o Brasil, e citada em audiência pública, revelou que um em cada cinco jovens de 6 a 18 anos tem transtorno alimentar. No caso das meninas, esse número sobe para um terço.

Captura de tela de publicação no X promovendo o transtorno alimentar de forma violenta
Captura de tela de publicação de usuária do X em discussões do EDTWT

Transtornos alimentares sempre existiram, e a magreza nunca saiu de moda, mas as redes sociais se tornaram um ambiente propício para a romantização e propagação desses comportamentos. Para aqueles que já estão insatisfeitos com o corpo, a exposição constante a esse tipo de conteúdo pode ser um gatilho para dietas extremas, uso de medicamentos sem prescrição e idolatria de figuras públicas extremamente magras. Muitas dessas postagens incentivam desafios como ciclos de NF (No Food), em que as pessoas ficam 24 horas ou mais sem comer.

O problema é mais um entre tantos gerados e perpetuados pelos bilionários do Vale do Silício, que lucram com a falta de regulamentação e educação da sociedade. As redes sociais alimentam um ciclo perigoso de insatisfação corporal e autossabotagem.

Em pleno 2025, vemos corpos cada vez menos diversos nas passarelas. Mesmo depois de tantas discussões sobre aceitação e movimentos como o body positive, a solução está na mudança das narrativas midiáticas. Mas não se pode esperar que isso parta das próprias empresas que lucram com essa cultura. A proteção da sociedade contra esse tipo de conteúdo exige ação política e regulação.

O Brasil avança, ainda que lentamente, no debate sobre a responsabilidade das plataformas em relação ao conteúdo postado pelos usuários. Atualmente, o Marco Civil da Internet determina que as redes sociais só podem ser responsabilizadas civilmente caso descumpram decisão judicial ordenando a remoção de conteúdo. O debate sobre sua revisão segue em pauta.

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