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Pôster de divulgação do filme Entre Montanhas (Imagem: Apple TV+/Divulgação)

Atenção: Esta resenha contém spoilers

Na contramão do que se espera dos lançamentos de cinema para o Dia dos Namorados, o Dia de São Valentim deste ano foi palco da estreia inusitada de Entre Montanhas, um filme de ação que tem suspense e terror, mas que é embalado pelo romance.

De roteiro de Zach Dean e direção de Scott Derrickson, conhecido por seus grandes trabalhos no terror, como Telefone Preto e A Entidade, Entre Montanhas parece ter sido pensado para agradar diversos públicos, ao menos razoavelmente. No longa, Miles Teller (Whiplash, Top Gun: Maverick e Quarteto Fantástico) assume o personagem Levi, um atirador de elite americano que está cansado demais para se encaixar na sociedade, enquanto Anya Taylor-Joy (O Gambito da Rainha, Furiosa e O Menu) é Drasa, uma atiradora de elite bielorussa. Os protagonistas são unidos pela solidão de quem já se despediu de tudo o que importava na vida e por uma missão peculiar: passar um ano isolados em torres de lados opostos de um desfiladeiro envolto em névoa, sem comunicação e sem uma pista do que, exatamente, precisam fazer.

A narrativa é envolvente: no primeiro ato do filme, o mistério se dá pela descoberta da inesperada aliança entre Estados Unidos e União Soviética, ainda à época da Guerra Fria, para conter, juntos, o que quer que esteja tentando sair do desfiladeiro. É aí que o suspense entra, com barulhos incompreensíveis subindo do desfiladeiro até os ouvidos de Levi durante as suas primeiras noites na torre. A curiosidade sobre o que está lá embaixo, entretanto, é logo colocada em segundo plano quando Drasa, da torre oposta, começa a conversar com Levi com palavras desenhadas em um quadro branco.

É através dessa comunicação vibe Taylor Swift que os dois começam a se conhecer, e um romance apressado, protagonizado por duas pessoas desesperadas para ter alguém com quem se importar, nasce, dando razão ao lançamento do filme no Dia dos Namorados. Música alta, partidas de xadrez jogadas com a ajuda de binóculos e flertes com tiros a longa distância vão criando um clima que quase faz o telespectador esquecer de que o filme, na verdade, é de ação, até que Levi, impulsionado pela empolgação de voltar a ter um motivo para viver, arrisca atravessar até o lado de Drasa e, quando precisa voltar à sua própria torre, despenca no desfiladeiro.

A partir daí, o filme larga o romance clichê para se tornar um clichê de ação. Apesar do orçamento de 180 milhões de dólares bem gastos na caracterização do cenário e em efeitos visuais muito bem feitos, a ambientação e os “homens-ocos”, as criaturas que Levi e Drasa deveriam manter contidas no desfiladeiro e que agora precisam enfrentar cara a cara, têm aparência semelhante ao que se pode encontrar em muitos jogos de videogame, com névoas coloridas, construções abandonadas, criaturas pós-apocalíticas e adicionais jumpscares (para fazer juz ao histórico de Derrickson), que podem ser encontrados em Resident Evil, The Last of Us ou Diablo.

Os protagonistas conseguem encontrar uma explicação plausível para tudo o que está acontecendo dentro e fora do desfiladeiro, e conseguem escapar de volta para as torres sem maiores danos físicos, mas com furos no roteiro, como um carro parado há 80 anos que ainda tem bateria ou o não acionamento do sistema de vigilância ultramoderno que deveria atirar em toda criatura que sobe do desfiladeiro, mas não atira neles. O caminho para o desfecho do longa é coerente e esperto, e somos agraciados com um final de filmes românticos de Sessão da Tarde, com um reencontro caloroso e uma promessa de felizes para sempre.

Apesar dos elementos previsíveis e dos furos no roteiro, Entre Montanhas pôde contar com a química entre os dois atores principais, que criam um casal envolvente e engraçadinho, mas sem forçar. Teller e Taylor-Joy trocam olhares cheios de promessas e esperança, dão vida a um duo que funciona bem durante os momentos de tensão e são aliados de cenários bem produzidos e diálogos interessantes, ambos com passados levemente explorados ainda no início do longa para dar maior profundidade a tudo que é visto, feito e sentido.

A mistura de vários gêneros pode não agradar completamente aos fãs de alguma categoria específica, mas garante um entretenimento bem feito a qualquer telespectador: no contexto do Dia dos Namorados, pode agradar tanto quem queira ver algumas balas voando, quanto a quem queira apreciar os pequenos momentos de humanidade no meio de toda a ação.

Para quem curte um pouco de tudo, Entre Montanhas é uma boa escolha. Não é um filme revolucionário, mas é bem executado e certamente vai agradar quem procura uma história com coração, ação e um toque de sobrenatural.

Nota do LabNotícias: 7/10
Título: Entre Montanhas (The Gorge)
Ano: 2025
Disponível em: Apple TV+
Diretor: Scott Derrickson
Roteirista: Zach Dean
Classificação: 14 anos
Duração: 2h 7min
Elenco: Anya Taylor-Joy, Miles Teller, Sigourney Weaver

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