- POR TRÁS DA PAUTA: Entrevista com repórter Luisa Guimarães - 29 de abril de 2025
Luisa Guimarães, 32 anos, é jornalista cultural. Tem bacharelado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal de Goiás (FIC/UFG).
É repórter de Magazine, editoria de cultura do jornal O Popular, desde 2020. Atua na área de jornalismo cultural há 12 anos, com experiência em reportagem, assessoria de comunicação, assessoria de imprensa e coordenação de making off. Integrou equipes de diversos eventos e projetos da área de cultura e arte em Goiás, como o Festival Vaca Amarela, Lanterna Mágica – Festival Internacional de Animação, BIS – Bienal Internacional de Cinema Sonoro, SAPI – Seminário Audiovisual para Produtoras Independentes, Icumam Lab e Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros. Foi integrante do júri de imprensa da Mostra Washington Novaes da 23ª edição do Fica – Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental. É curadora da exposição itinerante Jornal 4º Poder – 60 anos em parceria com a Reitoria da UFG.
Pilar: Você é atualmente a única mulher jornalista no setor de cultura do O Popular. Como lidar com essa dinâmica, quais desafios específicos você enfrentou (ou ainda enfrenta) por ser mulher em um ambiente predominantemente masculino?
Luisa: Desde quando comecei a trabalhar, no meu primeiro estágio, mulheres eram minoria na equipe, e isso continuou sendo realidade também depois, na área de assessoria, onde coordenava fotógrafos e videomakers — que eram, em sua maioria, homens — o que sempre foi difícil.
É aquela história: mulher precisa provar um pouco mais que dá conta. Ainda mais por eu ser jovem, precisei mudar meu jeito de falar para conquistar respeito. Se eu fosse muito “de boa”, não funcionava. Mesmo em equipes mais progressistas, como a que estou hoje, onde sou a única mulher, isso ainda aparece. Existe hoje um esforço coletivo para mudança, e eu também já me impus em alguns momentos, falando sobre a importância de manter as coisas igualitárias, sem sobrecarregar ninguém e sem pautas baseadas em gênero. Mas, mesmo assim, já vi isso em todos os ambientes de trabalho por onde passei.
Pilar: Você vê alguma diferença na cobertura de alguma pauta específica quando falamos de jornalismo feito por homens e jornalismo feito por mulheres?
Luisa: Isso parte muito da editoria, de dividir a pauta dessa forma ou não. Mas, na minha visão, homem e mulher têm que dar conta de fazer tudo. Falo principalmente para os jornalistas homens que às vezes não querem falar sobre certos temas, tipo saúde feminina. Eles têm plena capacidade de pesquisar, entrevistar e escrever.
Pilar: Como se seleciona, qual é o critério para seleção na área de cobertura cultural?
Luisa: Na editoria do Popular, cobrimos cultura, entretenimento e variedades, incluindo saúde e bem-estar — que tem uma página fixa às segundas. Cuidei dela por dois anos, e gostava muito.
A gente fica de olho o tempo todo no que está rolando: eventos na cidade, lançamentos de série, filme, shows, teatro, circo, exposições. Toda segunda temos reunião de pauta no jornal, e cada repórter leva suas sugestões. Normalmente, cada um fica com três a quatro pautas por semana. A gente divide por assuntos e o editor bate o martelo do que entra. Às vezes eu sugiro uma pauta, mas outro repórter faz, para manter a divisão da semana equilibrada.
Pilar: Existe algum projeto ou reportagem que você considera um marco na sua carreira? Por quê?
Luisa: Vários. Sempre gostei de música e cinema, mas descobri uma afinidade com artes visuais. Fiz muitas matérias legais, recentemente entrevistei uma artista pioneira em um estilo de pintura, referência no Brasil, mas pouco valorizada em Goiás. Ela não fazia exposição há 20 anos. Um curador da UFG conheceu o trabalho dela e propôs uma exposição. Ela ficou emocionada na entrevista.
Também fiz muita matéria de saúde. Uma das mais importantes foi uma série sobre autismo — tema que me toca diretamente porque tenho uma irmã e um pai com diagnóstico. Foram quatro reportagens, uma por semana, e aprofundei muito. Aprendi coisas novas, mesmo já tendo convivência familiar com o tema.
Pilar: Como o jornalismo cultural local pode fomentar a cena artística de Goiás? Você percebe diferenças na recepção do público quando cobre pautas off-mainstream?
Luisa: Nosso papel como jornalistas também é levar para o público aquilo que a gente acha que eles deveriam conhecer. Descobrimos muita coisa boa por acaso, inclusive eventos gratuitos.
Nem tudo que a gente sugere entra, porque há outras prioridades. Em Goiás, o sertanejo tem muito espaço. Às vezes, precisamos destacar esses eventos, ou shows nacionais, porque é o que o público mais procura. A gente tenta equilibrar o que acha mais relevante com o que vai ter maior repercussão. Por exemplo, se tem um show do Alceu Valença no mesmo dia de outro evento, não tem como ignorar. Mas temos liberdade de dar nossa opinião e discutir o que merece mais destaque.
Pilar: Quais mudanças você gostaria de ver no jornalismo cultural brasileiro?
Luisa: Ainda é muito quadrado, sabe? A forma de fazer jornalismo cultural. Enquanto jornalista que trabalha no veículo tradicional, me incomoda essa questão. A dificuldade de trazer outras coisas menores. A gente tem que responder a muita gente maior, e às vezes muita coisa que é muito massa, que acontece na cidade, que são menores talvez — alguns estilos de música, por exemplo, como alguns eventos de rap que são muito massa — a gente não consegue dar tanto espaço.
Pilar: Qual conselho daria para jovens jornalistas, especialmente mulheres, que querem atuar na área cultural?
Luisa: É importante estar sempre pesquisando, principalmente na área em que você tem afinidade. Mesmo que não dê muito dinheiro, vale a pena investir e se especializar por conta própria. Leia, assista, acompanhe tudo que te interessa. Na faculdade, aproveite para experimentar várias áreas e colocar a mão na massa. Depois, como profissional, leve sua personalidade para o trabalho. Isso agrega muito. Eu sou assim, levei isso comigo, e deu certo. Acho que isso é essencial.