Tempo de leitura: 2 min

“Os americanos estão vivendo menos”. O título da edição diária do jornal, recebido como newsletter veio assim, sem ponto final, nem exclamação, muito menos como forma de pergunta. Talvez puramente por questão estética, mas que faz questionar o quanto disso vivem só os americanos, o quanto disso é um problema mais generalizado entre a população mundial.

Estamos vivendo menos, ou pelo menos, com uma qualidade de vida, de bem-estar, cada vez menor. A pandemia influenciou nos índices, matando gente demais, dilacerando famílias e trazendo perdas irreparáveis. Mas não são todas as perdas assim?

Até mesmo a perda da vida como uma forma, como uma experiência, e não somente como a vida da rotina imutável, como uma lista de coisas para fazer.

De qualquer forma, vivemos menos, mesmo quando temos anos a mais que nossos antepassados há cem anos. Temos anos a mais, mas vivências de menos. Parece um paradoxo estranho, sem sentido. Soa estranho até mesmo quando falado, mas quando experienciado, tem sido assim.

Vida a menos, o que isso significa? 

Com o aumento do home-office e o tempo cada vez mais escasso com o excesso de trabalho, encontramos os sopros de vida em momentos cada vez mais mundanos, mais monótonos ou encontramos a vida em coisas básicas, como o descanso. Para onde foi nosso tempo? Para onde foi nossa vida?

Trabalhamos para viver, mas vivemos do trabalho. Será que isso, é, de fato, a vida que tanto se procura? 

A notícia traz dados sobre a saúde, sobre como a Covid-19 se fez presente nos dados, mas também aborda o câncer e outras doenças mais regulares do avanço da idade. De fato, sempre ficamos doentes com a passagem dos anos. A questão é: como estamos passando estes anos?

A pandemia mudou muito. Mudou a forma de vermos a vida, mas também de vivermos, mas de que adianta ser saudoso sobre o tempo que não volta, o tempo pré-pandêmico, se, ainda naqueles momentos, fazíamos pouco caso da vida. Os instantes com amigos; a mesa de bar sem hora; a saideira infinita; os passeios ao parque; os tempos só, mas nunca solitário. Quanto disso foi perdido em minutos que não voltam atrás?

A vida não tem retroativo. Uma vez perdido, para sempre fica no esquecimento do que não se viveu. Mas por que se prender no instante da perda quando podemos simplesmente viver? Parece mais fácil sentar e se lamentar do que sair porta afora e fazer algo. Sempre pareceu. Mas agora, parece ainda mais. 

Entretanto, de pouco adianta pensar sobre a vida que passa em um piscar de olhos, ou que escorre como areia pelas mãos, se continuamos abrindo os dedos ou piscando rapidamente.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *