- CRÔNICA | O meme - 3 de setembro de 2022
- Resenha | “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” é uma experiência frenética e surreal - 13 de agosto de 2022
- AS NOVAS DINÂMICAS DE TRABALHO NO MERCADO DO JORNALISMO - 30 de julho de 2022
Acredite se quiser, mas é assim mesmo que acontece. Ele nasce de supetão, tem uma vida curta e hipervalorizada e, no fim, morre sozinho. Com um último suspiro ele arranca uma risada nasal e vai para o descanso eterno sem ter certeza de que pode ressuscitar. Estamos falando do tal do meme.
Foi num dia desses que me peguei explicando um “meme velho” para minha mãe. O diálogo terminou em “por que a senhora está perguntando sobre isso agora? Esse meme é tão antigo!”. Velho ou não, o pobre meme ainda existia e vagava pela vastidão cibernética à procura de novas almas para cativar. E ele não teve nem direito à réplica.
E aí, nesse hospital onde se encontram memes doentes e semi-mortos, vai chegando uma hora que não sabemos para onde olhar. A gente sabe que os memes são esse conteúdo que viraliza e fica popular, sem muito esforço. Também sabemos que geralmente eles são engraçados, irônicos e de teor político-social. Mas o que aceitamos com facilidade é que normalmente eles morrem. Simplesmente logo depois de nascer, mesmo que alguns demorem um pouco mais.
Dado o falecimento do meme, seria sensato falar sobre o esgotamento do excesso informativo? Veja, conversando por aí, foi ficando claro que parece existir uma epidemia de normalização do excesso de coisas que consumimos durante o dia. Pode até parecer bobagem pensar nisso, mas a quantidade de vídeos, áudios e imagens que andamos sendo obrigados a mastigar tem deixado todo mundo louco.
Antes das tecnologias da informação, as pessoas já se sentiam saturadas desta forma? Ou elas apenas viviam plenamente sem consumir 20 horas de seu dia em prol de uma overdose de informações quase inúteis? Já possuíam essa sensação de que parece que tudo já foi inventado e não existe nada de novo para se criar? Teriam se curado se tivessem ficado meia hora sem uma “descida” no feed ou inibido seu acesso na timeline?
E se você pensar, parece inusitado que toda e qualquer informação possa se transformar num meme. Seu cachorro? Meme. Um pão mofado? Meme. Um caminhão em chamas? Meme. O presidente do país? Meme. Tá certo que às vezes o meme nacional não é tão divertido. Mas você ainda ri, não é mesmo? Ri e se atualiza.
Não é atoa que encontramos por aí uma geração esgotada de informações. Uma geração com muito acesso e poucas habilidades de como lidar com tanto ao mesmo tempo. Uma geração de copos que transbordam, de rotinas contra o tempo. Parece determinante que estejamos sempre conectados e 100% atualizados. E ai do seu meme ser tão velho! Se atualiza, não complica, faz o fácil!
Mas, acredite se quiser, é assim mesmo que acontece. Ele nasce de supetão, tem uma vida curta e hipervalorizada e, no fim, morre sozinho. Pode ser que o dito cujo não arranque uma risada nasal no seu último suspiro. Mas, por ora, não temos que matá-lo tão rapidamente.