Saúde animal: como as celebrações de ano novo afetam o bem-estar e a saúde dos pets

Com o ano novo, se tornam comuns a soltura de fogos de artifício. Porém, apesar de bonitos, eles também podem causar um efeito negativo ao companheiro humano: o animal
jan 12, 2023
Tempo de leitura: 7 min
Tayná Freitas
Imagem 1 por: Elisha Terada. Imagem 2 por: Jovin Kallis.

Saúde animal: conforme mais um ano se encerra, se tornam comuns as postagens de “fim de um ciclo” nas redes sociais, ao passo que decorações de Natal e a venda de roupas brancas para a passagem de Reveillon enfeitam as vitrines de lojas físicas. O Ano Novo é uma data celebrativa, que carrega consigo uma ideia de felicidade traz também muita dor, ansiedade e preocupação. A solta de fogos de artifício, tão costumeira e alegórica à virada de ano, enquanto muito bonita visualmente, costuma ser feita com fogos que produzem estampido, ou seja, sons altos e secos, maléficos à saúde dos animais.

Por que os animais sofrem com estrondos?

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Cães são um dos animais que mais sofrem com os estalos de fogos de artifício. Foto: Ryan Stone.

Os fogos de artifício nada mais são do que explosivos que liberam energia em forma de cor e som por meio de uma reação química. De acordo com a veterinária Paula Akemi, animais como cães e gatos têm a audição mais aguçada do que os humanos, e por isso são mais sensíveis a barulhos e estampidos, como os provocados pelos shows pirotécnicos.

Maria Eduarda Glória, dona de um par de gatos e outro de cachorros, relata que seus animais reagem de forma inquieta, com nervosismo e medo, quando escutam barulhos altos, o que também acontece com o cachorro de Maria Eduarda Fonseca. A jovem dona de shih-tzu afirma que o cão fica com muito medo e tende a querer fugir de casa, que o animal treme muito e chega até mesmo a chorar quando escuta barulhos de fogos de artifício.

Os fogos [de artifício] causam pânico e nervosismo. Os cães ativam um modo ansioso e começam a latir alto sem parar. As gatas se assustam e correm para um canto escuro onde possam se esconder.

Disse Maria Eduarda Glória. Quando chegam as celebrações de ano novo, muitos esperam pelo show de fogos na virada do ano, mas os animais tem a reação contrária: ao invés da felicidade e animação, eles se sentem ansiosos e nervosos por conta da perturbação sonora causada à eles pelas explosões.

Se a situação já está ruim para os animais saudáveis, a veterinária Paula Akemi ainda adiciona que para os pacientes com comorbidades, como cardiopatia e epilepsia, há o risco de descompensar, ou seja, apresentar alterações cardíacas e convulsões.

O que pode ser feito para ajudar os animais?

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Quando assustados, animais como gatos tendem a se esconder. Foto por: Chris Yang.

As ações que Thayanne Klassmann, dona de uma cadela e uma gata, toma para amenizar a situação de seus bichinhos é fazer carinho, conversar e assegurar seus animais para que elas não se sintam sozinhas, o que não difere muito da forma que Maria Eduarda Fonseca age, uma vez que diz também fazer de tudo para diminuir o barulho para seu cachorro.

A indicação de Akemi é procurar ambientes em que o animal fique mais tranquilo, combinando com o uso de fitoterápicos e calmantes com a orientação de um veterinário, lembrando de garantir que o animal não fuja ou se machuque durante o momento de pânico.

Maria Eduarda Glória diz que nenhum de seus animais chegou a sofrer uma consequência grave ou permanente, mas ainda sim, se mostra desconfortável e infeliz com a situação.

Nenhum deles chegou a realmente passar mal, mas vê-los nervosos e perdendo a voz de tanto latir me deixa muito aflita por eles.

Revelou a mãe de pet.

Ações legais que trabalham a favor do animal

Foto: Marcos Corrêa/PR

Quando perguntadas sobre o que acham que poderia ser feito para remediar a situação e preveni-la, Maria Eduarda Fonseca disse acreditar que a proibição da solta de fogos já ajudaria. O estado em que vive, Mato Grosso do Sul, apenas recentemente proibiu a queima de fogos no território, mas a população sofre do desconhecimento da lei e, de acordo com a entrevistada, o senso comum é de que no estado, shows pirotécnicos ainda são permitidos.

Já no local em que Maria Eduarda Glória reside, na Paraíba, os fogos são proibidos e são feitas campanhas afirmando a proibição, mas a jovem diz que ainda sim os fogos são soltos por pessoas que não se importam com a lei e que também não sofrem nenhum tipo de punição.

Há um projeto de lei, o PL 6881/17, que proíbe o uso de fogos de artifício com sons altos e estampidos, e a advogada Glecia Ramos ratifica que é o caminho para a resolução do problema dos animais.

Ter leis que garantem a proteção, bem estar e segurança dos animais é o primeiro passo para o efetivo fim da utilização de fogos de artifício com estampido. Exemplos de diminuição da solta de fogos é o Estado de São Paulo, onde existe a proibição prevendo aplicação de multas.

Reprodução: Prefeitura de Paraibuna.

A advogada ainda adiciona: “O projeto de lei mais recente que trata desse assunto é a PL 5/2022, que traz a proibição da utilização de fogos em todo o território nacional, com multas não apenas para quem solta, mas também para quem comercializa esses objetos, de valores que variam de 2,5 mil à 50 mil reais”.

De acordo com Glecia, o que os tutores de pet podem fazer em um sentido jurídico é ingressar junto ao poder judiciário para pedir reparação por danos causados pela soltura dos fogos, como despesas de tratamento do animal. Uma outra ação cabível também é acionar a polícia militar, uma vez que os fogos constituem poluição sonora.

Ainda sim, Paula Akemi acredita que, apesar de a lei ser bem-vinda, não é a solução completa. “A conscientização da população é tão importante quanto. […] A lei sozinha não resolve, é preciso somar com a educação e fiscalização”, o que é um pensamento compartilhado por Maria Eduarda Glória, que afirma que uma campanha maior para influenciar e mostrar os danos causados aos pets, assim como o ensinamento nas escolas desde cedo sobre o mal causado aos animais, seria um bom complemento à lei.

Essas medidas são extremamente importantes para evitar a continuidade do sofrimento do animal. Além dos riscos para a saúde daqueles que já estão em um estado agravado, os animais correm o risco de desenvolver traumas, como é o caso dos pets de Thayanne.

Já fui vizinha, há alguns anos, de alguém que soltava muitos fogos de artifício no final do ano. Meus animais da época choravam e sofriam muito, uma vez que o barulho era ainda mais alto [por serem vizinhos]. Eles, mesmo anos depois de termos nos mudado, ficaram medrosos e com medo de qualquer estrondo e tom de voz mais alto.

Foto em destaque: Elisha Terada (imagem 1) e Jovin Kallis (imagem 2). Montagem por: Tayná Freitas.

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