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A representação por meio de imagens

Historicamente, a humanidade sempre se utilizou das imagens para se comunicar. Na pré-história, os homens fizeram as pinturas rupestres como forma de “desejo” para conseguir a sua caça. O que eles almejavam era projetado por meio das pinturas. Essa forma de comunicação visual com o objeto desejado era registrada nas paredes das cavernas por meio de argila, minerais, carvão e vegetais. Tudo era misturado para que o pigmento formado pela mistura dos elementos se fixasse nas paredes, adquirindo resistência.

Na atualidade, o ser humano continua com a comunicação por meio das imagens, mas com o diferencial do aprimoramento de técnicas provenientes das tecnologias digitais. Com o uso cada vez mais frequente da internet, a comunicação está em constante mudança, e essa mudança acontece no ambiente digital, onde as pessoas estão inseridas. O material que era utilizado sofreu uma transformação; Hoje,  o homem utiliza os pixels em visores e telas de celulares, notebooks, televisões, dentre outros aparelhos que conseguem exibir imagens.

A professora de história da arte Consuelo Holanda destaca que hoje apesar dessa tecnologia significar o desenvolvimento para os processos tecnológicos que envolvem a comunicação, para a arte este conceito não significa necessariamente um avanço.

“Desenhamos muito antes de conseguir escrever. As imagens que utilizamos em nosso dia a dia nos conecta com a arte, de forma consciente ou não, e essa conexão nos alivia da nossa própria verdade. Não considero a comunicação por imagem como uma evolução, uma vez que para a arte, este conceito é inexistente quanto à expressividade.”

Foto: Redes Sociais

A professora destaca ainda que a possibilidade de colocar uma imagem em movimento, como os GIFS, uma espécie de animação em foto ou imagem que se movimenta na tela, seduz e ilude o olhar do espectador.

“Muitas vezes este movimento na imagem de maneira rápida e fluída envolve  a pessoa. Já que a linguagem por meio de memes e emojis é rápida, conseguimos compreender o que ela diz de cara.”

Meio Ambiente e Tecnologias

O papel orgânico fornecido pelas árvores de eucalipto abre espaço para os pixels, que são a menor unidade de uma imagem digital. Pense, por exemplo, em uma folha de caderno em branco. E em seguida, rabisque-o com uma caneta e forme uma bola. Ao final, você terá diversos pixels que foram formados com os pontos da caneta para, enfim, ter uma imagem completa.

Para a doutora em Cultura Visual Luciana Hidemi, as imagens na atualidade possuem um imperialismo imagético, isto é, as pessoas vivem o tempo todo conectadas com imagens, de todos os lados, desde o momento que acordam até quando vão dormir. Para ela, o ser humano produz historicamente a necessidade na rapidez da comunicação, substituindo muitas vezes texto por imagem.

Educação e Comunicação Visual

Luciana destaca que o ser humano sempre se preocupou com as imagens, mas existe historicamente uma falha no processo educacional envolvendo a alfabetização visual nos estudos da própria cultura visual, uma vez que essa não está presente no dia a dia dos alunos em escolas e nas pessoas em geral. Ela destaca que os estudos se envolveram com o processo de educação por meio do foco único e exclusivo na leitura, na escrita, deixando a representação por meio das imagens para um segundo plano. 

“Nós nunca tivemos uma formação visual principalmente na formação básica dos alunos, que nos ensinasse a teoria das imagens, a semiótica (Ciência que estuda a representação das imagens por meio da análise de signos visuais, ou seja, o que é mostrado nas imagens a partir da conceituação de autores), o que os símbolos representam. Falta uma educação visual. Quando lemos um texto, ligamos a engrenagem para entender o que está sendo dito através do racional, mas ao lermos muito mais imagens do que texto, e acabamos absorvendo o que as imagens trazem, mas deixando as entrelinhas de lado.”

Ela explica que é preciso uma alfabetização em cima das imagens, de como elas são emitidas, recebidas, uma compreensão do que está projetado pela imagem. Segundo ela, há um imperialismo das imagens, mas não nos atentamos ao que elas de fato representam.

A especialista destaca que as primeiras impressões que o ser humano tem ao nascer é por meio das imagens, e posteriormente por meio da fala. O significado das imagens é diferente para cada pessoa, cada um interpreta de um jeito. Questionada sobre o processo de evolução tecnológica das imagens por meio da digitalização, ela conta que “Recebemos e propagamos as imagens de maneira desenfreada sem saber quem produziu ou qual intuito daquela imagem, principalmente neste meio digital.”

Memes

Luciana explica que, na atualidade, as pessoas estão inseridas em um mundo onde as imagens são utilizadas principalmente como entretenimento. Para ela, as imagens reinam de forma absoluta. Temos tantas cargas imagéticas inseridas nas redes sociais que as pessoas ficam tão imersas nestes ambientes que junto dão conta do tempo em que estão ali. Ela cita que redes sociais como: Tik Tok, Instagram, Youtube são constituídas exclusivamente pelo meio imagético.

De acordo com ela, a imagem faz com que as pessoas sintam emoções positivas ou tristes. É como se você entrasse em uma realidade paralela, criada exclusivamente para você e isso tudo por meio de uma narrativa visual que é posta e colocada se baseando no que você gosta de consumir. As pessoas ficam horas e horas enviando memes, figurinhas, vídeos como forma de aliviar o que sentem. Essa realidade que a especialista diz é comum no que a reportagem encontrou ao conversar com pessoas que se identificam mais com as imagens do que propriamente por textos.

Conheça a história de Dona Dora

Foto: Arquivo Pessoal – Na imagem é possível ver a Dona Dora

Dora dos Santos e Fátima Lima, de 64 anos, moradora de um pequeno povoado no município de Uruana, interior de Goiás, não teve a oportunidade de ir à escola, portanto, não foi alfabetizada, e viu nas figurinhas compartilhadas no WhatsApp um meio de comunicação inclusivo, que facilita a compreensão por meio da imagem que é representada. Ela conta que sempre que recebe uma mensagem por meio de texto, responde com uma figurinha, para que a pessoa possa perceber que ela não entendeu o que foi falado. “Eu não estudei, sempre tive que trabalhar na roça para ajudar os meus pais. E hoje, graças às figurinhas, eu consigo enviar o que mais cabe na conversa. Mas no meu dia a dia no Whatsapp eu utilizo figurinhas, áudios, tudo que possa me ajudar a falar com parentes e amigos.”

A doutora em cultura visual não conheceu a Dona Dora, personagem que você conheceu agora por meio desta reportagem, mas destaca exatamente o que a Dona Dora contou durante a entrevista: “Você fica horas e horas vendo imagens, sem perceber que elas conseguem mudar o seu estado físico. Sorrimos com imagens e mudamos o nosso comportamento sem perceber.”, afirma a especialista.

Para compreender o processo e história das imagens de Goiás, o repórter Sinval Lopes passou uma tarde no (MIS) Museu da Imagem e Som do Estado de Goiás, fundado em 1988, que fica na Praça Cívica da cidade, atrás do Palácio Pedro Ludovico Teixeira, sede do governo estadual.

Em entrevista com Vitória Bandeira, coordenadora do museu há 20 anos, ela contou um pouco do dia a dia do local. De acordo com Vitória, os goianos quase não visitam o local, e a maioria das pessoas que vão até o museu vão por conta de estudos acadêmicos ou exposições de alguns artistas que são realizados no primeiro andar do prédio. De arquitetura Art Decó, o prédio com dezenas de sala exala história por cada ambiente, desde a sua entrada com degraus na parte da frente, como nas partes que rodeiam o local.

No museu é possível encontrar todo o acervo de obras históricas imagéticas da cidade de Goiânia, com ambiente calmo, um silêncio que impressiona por estar localizado na região central da capital. Salas espaçosas, com poltronas para estudo, mesas e livros com fotografias que aos poucos estão sendo digitalizadas para o acervo digital do Museu. Vitória conta que essa necessidade de eternizar as obras para o universo digital é uma realidade que acontece não só aqui em Goiânia, mas em diversos museus pelo mundo. A instituição que pode ser visitada a qualquer momento pelo público está aos poucos disponibilizando no site misgoias.wordpress.com/.

Por meio deste, as instituições de ensino UFG (Universidade Federal de Goiás) e UNB (Universidade Nacional de Brasília) estão montando um data center, onde ficará de forma definitiva todo o acervo de imagens do estado. Para atrair o público a conhecer a história de Goiânia e Goiás por meio das obras que ficam protegidas o MIS, semanalmente são publicadas na rede social do Instagram do museu, o quadro “Fatos e Fotos”, onde são informados através de  mini-documentários  histórias de obras que estão em posse da instituição. Ela conta ainda que aguarda ansiosamente a sua visita, seja ela feita de forma presencial ou virtual nas redes sociais do órgão. Confira abaixo todas as redes: 

Dica de ouro: na parte esquerda do museu fica uma cafeteria com um café muito bom. Vale a pena conhecer.

Conteúdo Extra: Confira a biblioteca de imagens que preparamos para você. Ressaltamos ainda que a reprodução só é autorizada mediante prévia comunicação ao Museu de Imagem e Som de Goiânia por meio de formulário devidamente preenchido e assinado. A reprodução sem autorização poderá acarretar em penalidades adotadas pela legislação brasileira vigente.

Foto: Arquivo Acerto Digital MIS (Museu de Imagem e Som de Goiás)
Foto: Arquivo Acerto Digital MIS (Museu de Imagem e Som de Goiás)
Foto: Sinval Lopes

Escrito por Sinval Lopes, em 11/05/2022 às 16:35

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