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Com a audiência da premiação caindo gradativamente a cada ano, é possível apontar algumas razões do porquê desse declínio

Will Smith bate em Chris Rock no Oscar 2022 — Foto: Brian Snyder/Reuters

(Foto 1: O infame tapa de Will Smith em Chris Rock, durante a 94ª cerimônia do Oscar, em 2022 – Brian Snyder/Reuters)

As pessoas estão se importando cada vez menos com um dos maiores eventos relacionados à sétima arte: a cerimônia do Oscar, organizada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (AMPAS). Em 2021, durante a 93ª cerimônia nada convencional, modificada drasticamente em decorrência da pandemia de COVID-19, foi registrada uma audiência média de 10,4 milhões de espectadores, a menor audiência da cerimônia televisionada desde que a Nielsen Media Research começou a registrá-la em 1974, de acordo com o Bloomberg. Na cerimônia deste ano, foi registrado um aumento de 63% na audiência, apesar de que pode ser dito que isso se deu mais pelas repercussões do incidente retratado na foto acima do que pelos filmes indicados em si.

Então, onde estão os problemas? Por que a entrega dos prêmios vem falhando em atrair uma audiência maior, como aconteceu em 1998, quando aproximadamente 55,2 milhões de espectadores ligaram a TV para ver o épico “Titanic”, de James Cameron, varrer a cerimônia?

Em grande parte, pode-se dizer que o maior problema da Academia é que ela impede que a cerimônia do Oscar abarque toda a comunidade cinéfila, evitando, assim, que o evento atraia uma audiência maior. Esse obstáculo se dá, principalmente, em três vertentes: a escolha dos filmes indicados; a escolha dos mestres de cerimônia; e o tempo dedicado às diferentes categorias premiadas ao longo do evento.

Quando os espectadores ligam a TV para ver a cerimônia de anúncio dos indicados, uma coisa é certa: eles esperam ver filmes que marcaram o ano passado sendo indicados às categorias que eles merecem ser indicados. Na grande maioria das vezes, a Academia segue um certo padrão: há os “crowdpleasers”, ou seja, os filmes que “agradam multidões” (filmes como “No Ritmo do Coração”, que venceu a categoria principal este ano, e “King Richard: Criando Campeãs” se encaixam nesse tipo), os filmes disponíveis em serviços de streaming (como “Ataque dos Cães” e “Não Olhe Para Cima”, da Netflix) e os filmes considerados “cult”, geralmente aclamados pela crítica e não tão bem recebidos assim pelo público, por fugirem da forma convencional de se fazer um filme (como “Drive My Car” e “Licorice Pizza”).

Mesmo tentando encaixar filmes que agradam às massas nas categorias principais, estes filmes que acabam sendo escolhidos não são promovidos de uma maneira mais expansiva ao público. “No Ritmo do Coração”, por exemplo, teve uma jornada bem peculiar no Brasil. Ao invés de estrear exclusivamente na Apple TV+, como foi nos EUA, o filme silenciosamente entrou em cartaz nos cinemas por um curto período, para depois estar disponível no serviço de streaming Amazon Prime Video durante a temporada de premiações.

Uma maneira de remediar essa situação e garantir mais audiência seria a indicação de “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa” na categoria principal, talvez não pela força narrativa do longa-metragem em si, mas sim pela capacidade do filme de ter revitalizado a experiência cinematográfica no meio de uma pandemia, arrecadando quase US$2 bilhões de dólares no mundo inteiro. Personalidades relevantes nos EUA, como o diretor Kevin Smith e o apresentador de TV Jimmy Kimmel, lamentaram a decisão da Academia de não indicar o filme na categoria principal.

“Vocês querem saber o que aconteceu? Os votantes olharam a lista e viram os nomes Leonardo DiCaprio e Meryl Streep [astros de “Não Olhe Para Cima“] e escolheram esse filme”, disse Kimmel em seu programa ao vivo.

Além dos filmes indicados, há também a questão do apresentador, que tem a função de manter o programa leve a partir de seu senso de humor, além de apresentar as celebridades que irão entregar os prêmios. Algo notável recentemente é a falta de atenção da Academia em convidar possíveis apresentadores que estão em voga, seja no ano anterior à cerimônia ou no ano em que ela irá ocorrer. Em 2022, as apresentadoras escolhidas foram as comediantes Amy Schumer, Wanda Sykes e Regina Hall, as quais não tiveram nenhum destaque em 2021 ou em 2022 que justificasse a escolha da Academia.

Aqui, novamente, a Academia desperdiçou uma oportunidade gigantesca de atrair o público com suas escolhas criativas. De acordo com a Variety, a escolha certeira para a apresentação da 94ª cerimônia do Oscar teria sido o trio composto por Steve Martin, Selena Gomez e Martin Short, cuja química carregou a aclamada série “Only Murders in the Building”. Outra opção seria o casal Tom Holland e Zendaya, com a Academia capitalizando no sucesso do terceiro filme do Homem-Aranha para carregar a cerimônia. Ou talvez até a dupla de comediantes Tina Fey e Amy Poehler, que já apresentaram os Globos de Ouro quatro vezes. São inúmeras as possibilidades às quais a Academia não se atentou.

Um último obstáculo que a Academia precisa superar para agradar a gregos e troianos é a quantidade de tempo dedicada a cada categoria. Em 2022, houve uma decisão controversa de remover oito categorias da cerimônia televisionada, visando tornar a cerimônia mais enxuta e curta, mesmo com a Academia ironicamente decretando a inclusão de uma catastrófica performance de uma canção que nem estava indicada ao prêmio de Melhor Canção Original, dez dias antes da cerimônia.

(Vídeo: Crianças reagem à performance de “We Don’t Talk About Bruno” no Oscar 2022. – @foodbabyny/Instagram)

Como era de se esperar, a Academia foi duramente criticada pela remoção das categorias da cerimônia televisionada, ao ponto de mais de 70 profissionais atuantes no mercado cinematográfico escreverem uma carta pedindo ao presidente da Academia que reverta o plano, o qual não foi revogado. “Diminuir qualquer uma dessas categorias para ter audiência ou lucros a curto-prazo faz danos irreparáveis à posição da Academia como árbitros imparciais e anfitriões responsáveis dos prêmios mais importantes da nossa indústria”, dizia uma seção da carta.

Como é possível ver, os obstáculos que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas precisa superar para recuperar as forças e a diversão de cerimônias passadas podem ser vencidos facilmente, a partir de uma análise detalhada de toda a comunidade cinéfila pela Academia. É preciso que a cerimônia tome decisões criativas que a fortaleçam o mais cedo possível, tanto para atrair o público que irá assistir na televisão quanto para agradar os profissionais que irão ter seu trabalho celebrado ao longo da noite.

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