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Tayná Freitas

O brasileiro Miguel Pupo conquista sua primeira vitória no circuito mundial de elite após 10 anos como surfista profissional do WCT e o brasileiro Filipe Toledo se solidifica como líder do ranking para a Rip Curl WSL Finals

Miguel Pupo recebe seu primeiro troféu no WCT, como campeão do Outerknown Tahiti Pro. Reprodução: WSL Brasil no Twitter.

Entre 11 e 21 de agosto esteve aberta a janela do evento Outerknown Tahiti Pro, última parada do circuito mundial de elite (WCT) antes das finais da Liga Mundial de Surfe (WSL), na Polinésia Francesa. Depois de muitos day–offs e com o primeiro dia de evento com ondas pequenas, a etapa deslanchou apesar de chamadas adiadas e com algumas pausas e recomeços de baterias. Porém, na última sexta, o pico de Teahupo’o sediou as finais e o mar apareceu com boas ondas tubulares.

O campeão do evento no circuito masculino foi Miguel Pupo, surfista paulista que está há dez anos no circuito de elite, e pela primeira vez em sua carreira, chegou à final e venceu. Em uma entrevista para o People On Tour, Miguel afirma que: 

“Meu sonho era poder vencer uma dessas ondas que são ícones do surfe, Pipeline não deu esse ano, mas veio em Teahupo’o, então eu tô feliz” 

Miguel Pupo para People On Tour

Em segundo lugar, veio o local Kauli Vaast, que venceu o onze vezes campeão mundial Kelly Slater nas semifinais, com uma diferença de pontos devastadora para o americano. Com 17.33 na somatória, o taitiano avançou com segurança para a final contra o brasileiro, em comparação com Slater, que fez apenas uma onda, já nos últimos três minutos de bateria e encerrou com 1.17 pontos, conquistando o terceiro lugar do evento.

Sobre a performance de Vaast, Alexandre Sasaki, ex-surfista profissional da WSL e atualmente juiz de competições de surfe, disse que:

“O Kauli Vaast realmente é um local, realmente mostrou conhecer muito bem, [ter] muita intimidade com a onda de Teahupo’o, surfando de base trocada [quando um surfista que surfa com um pé dominante faz a onda com o outro pé], coisas que ninguém faz”

Apesar disso, foi o Pupo mais velho que conquistou a vitória, com 17.17 pontos e uma nota nove em sua quinta onda, que foi um tubo de dificuldade alta.

Miguel Pupo na Final do Outerknown Tahiti Pro. Reprodução: WSL Brasil no Twitter.

E, pela primeira vez em dezesseis anos, o pico taitiano também sediou o circuito feminino de elite, e as vencedoras foram a americana Courtney Conlogue, em primeiro lugar, e a porto-riquenha Brisa Henessy, em segundo. Já Tatiana Weston-Webb, a única brasileira no CT feminino e a surfista que ocupa o terceiro lugar do top cinco do ranking mundial, sofreu com péssimas condições em sua bateria e ondas escassas e baixas, sendo barrada por Courtney Conlogue na semifinal por uma diferença de apenas 0.36 pontos.

Após essa etapa, o próximo evento será a Rip Curl WSL Finals, com a janela programada para os dias oito a dezesseis de setembro. Os surfistas que irão competir serão os que se classificaram nos cinco primeiros lugares do ranking mundial da WSL. Filipe Toledo, brasileiro, é o surfista que ocupa a primeira colocação e é a maior aposta para quem leva o título de campeão mundial esse ano.

Thiago Felipe, estudante de Jornalismo e dono da página World Surf News Br, declarou que “Filipe Toledo é o cara de 2022, as coisas estão conspirando a favor dele. Ele vem fazendo um grande ano e merece demais essa conquista”. A opinião também é compartilhada por Ana Cláudia, outra fã do esporte, que afirma que Toledo sempre teve surfe de sobra para ser campeão mundial, e que esse ano ele está mais constante e dominando o circuito, mostrando que realmente merece a liderança. Já Heloísa, estudante de ensino médio, disse que “ele [Filipe Toledo] tem se superado em cada evento, o surfe dele tem se encaixado em todos os tipos de onda”.

TEAHUPO’O: PRAIA DOS CRÂNIOS QUEBRADOS

Yago Dora surfando em Teahupo’o. Os surfistas tem a opção de usar capacetes de proteção para evitar danos graves em caso de queda. Reprodução: WSL Brasil no Twitter.

Teahupo’o está entre os pontos famosos do surfe clássico: com ondas tubulares pesadas, o pico está localizado em um dos lugares mais paradisíacos do mundo, o Tahiti, na Polinésia Francesa. 

Além de ser o local escolhido para sediar as competições de surfe nas Olimpíadas de Verão de 2024, “Tchûpo”, como é pronunciado por diversos brasileiros, é uma das paradas mais esperadas do circuito de elite da WSL.

O surfista amador Pedro Andrade, que mora em Portugal perto de uma das praias que sedia competições da divisão de entrada da WSL, afirma que Teahupo’o é um lugar intenso de se assistir não só por conta do que ele descreve como os “melhores tubos do mundo”, mas também por conta das rochas do local, o que tornam a etapa emocionante. 

O próprio Alexandre Sasaki, quando era surfista profissional, contou à redação que já surfou em Teahupo’o e já se machucou com os corais. Ele disse que a cicatrização é muito lenta, e ele mesmo conquistou uma cicatriz no pico. 

“Teahupo’o é um evento para os atletas que tem um surfe de alto nível, é uma onda muito difícil e pesada e, apesar de perigosa, é um show para quem vê e também para os atletas que participam da competição”

Alexandre Sasaki

A tradução em português de “Teahupo’o”, do taitiano, é “Praia dos Crânios Quebrados” e até mesmo Filipe Toledo, líder do ranking mundial e quem conquistou o direito de usar a yellow jersey marcando sua classificação na tabela, não conseguiu escapar dos corais e já sofreu com a bancada de coral taitiana, conforme mostra o vídeo da WSL Brasil no Instagram.

Por conta de tantos perigos, a emoção dos fãs é sempre maior e Thiago confirma quando fala que:

“Teahupo’o é sempre demais, é uma das etapas que você espera o ano todo para acompanhar”

Assim como Ayala Ferreira, que acompanha assiduamente o esporte desde 2009:

“Todos que acompanham surfe sabem que essa etapa é uma das mais épicas do torneio, então uma das mais aguardadas e por isso a WSL geralmente deixa para ser uma das ultimas”

TRESTLES

Foto: WSL/Kirstin

Desde o ano passado, a WSL reformou o sistema do circuito e até o ano que vem, a final será em Lower Trestles, na Califórnia, e nem todos gostaram dessa mudança. Geizana Conceição, assistente social, disse que é injusta, e Ana Cláudia concorda. Ela diz que:

“Não dá pra medir o talento e a competência de surfistas em só 5 etapas, ainda mais com ondas fracas que não são nível de CT. Muitos surfistas que estavam há anos no tour foram “tirados” de lá. E claro, para os rookies a dificuldade é imensa, é pouco tempo para se adaptar, como foi o caso do Chumbinho, que quebrou muito em Pipe e Bells (ambos contra o John John Florence) e acabou ficando de fora da segunda parte”

Já Sasaki, que hoje atua como juiz de surfe, defende que o sistema tem que evoluir e para isso são testadas novas formas que podem funcionar e afirma que, se a WSL adotou um certo formato, já foram feitas grandes pesquisas que indicam que o modelo atual vai funcionar.

O sistema das finais que tem funcionado desde o ano passado fazem com que o quinto colocado enfrente o quarto e o vencedor dessa bateria enfrente o terceiro colocado, e assim em diante. Esse ano, as chaves da final são:

Chaveamento da final masculina. Reprodução: WSL.
Chaveamento da final feminina. Reprodução: WSL.

O pico de Trestles é considerado perfeito por muitos surfistas. Com uma constância, a onda quebra tanto para a direita quanto para a esquerda, beneficiando os goofys e os regulars, nome dado para quem usa o pé direito e esquerdo de base na prancha, respectivamente. Ela [a onda] permite que as manobras progressivas e inovadoras estejam em destaque e os aéreos se tornam os queridinhos de quem surfa — e de quem assiste. 

Quem acaba se dando bem com isso é Filipe Toledo, que tem Trestles como “quintal de casa”, além do fato de que a especialidade do surfista são as ondas que permitem as manobras modernas e os aéreos. Ano passado, Toledo perdeu para Gabriel Medina, mas esse ano, o atual dono da camisa de competição amarela é Filipe, que tem feito uma campanha que o coloca em seu melhor ano de carreira. 

Quando perguntada sobre o que pensava do desempenho que Filipe vem tendo na temporada, Ayala diz que não se surpreendeu: “Sinceramente, eu esperava isso dele [Filipe Toledo], ele é incrível e talentoso, desde muito jovem já era promessa para ser um dos melhores do surfe BR”, e a resposta de Thiago e Sasaki para a mesma pergunta não foi muito diferente. “A grande expectativa para Trestles é ver o Filipe ganhar o título mundial, é o que todo mundo está esperando, essa temporada foi toda dele, acho que é agora ou nunca. Trestles é o quintal da casa dele… Toda a comunidade do surfe está ansiosa para ver ele ser campeão mundial”, disse o estudante de Jornalismo e dono de uma página influente sobre surfe nas redes sociais. 

“Filipe toledo está com uma campanha fantástica e eu estou torcendo para ele ser campeão mundial esse ano. [Filipe] é um cara merecedor, com um surfe inovador, seguro, está fazendo um ano realmente perfeito”, respondeu o surfista ex-profissional.

BRASILEIROS NO TOUR MUNDIAL

Filipe Toledo com a camisa amarela de líder do ranking ganha a etapa Oi Rio Pro em Saquarema. Foto: Thiago Diz.

O primeiro título mundial conquistado por um brasileiro no WCT veio por meio de Gabriel Medina, em 2014, e logo depois dele, Adriano de Souza, mais conhecido como Mineirinho, trouxe o segundo título, em 2015. Três anos depois, em 2018, Medina se tornou bicampeão e trouxe o terceiro título e, em 2019, foi o atual campeão olímpico Ítalo Ferreira quem subiu ao pódio e representou o Brasil pela quarta vez. Ano passado, o título foi parar nas mãos de um brasileiro, novamente com Medina. E esse ano, as apostas recaem em Filipe Toledo, que foi o vice-campeão do WCT de 2021.

No entanto, a febre de brasileiros que a mídia internacional apelidou de Brazilian Storm (tempestade brasileira) não começou em 2014. Antes até mesmo do Mineirinho ter competido no WCT, dezessete anos atrás. Nomes como Teco Padaratz, Fábio Gouveia, Pepê Lopes e Peterson Rosa foram alguns dos muitos surfistas que ajudaram a pavimentar o caminho do surfe brasileiro ao espaço e reconhecimento internacional.

Hoje podemos contar com surfistas com a bandeira verde-amarela dominando as tabelas tanto da divisão de entrada quanto do circuito de elite, como Júlia Santos, Laura Raupp, Bela Nalu, Summer Macedo, Ítalo Ferreira, Caio Ibelli, Yago Dora, Miguel e Samuel Pupo, Matheus Herdy, Lucas Silveira, João Chumbinho, Ryan Kainalo e Luara Mandelli, entre outros.

E a nova geração vem com tudo, trazendo maneiras inovadoras de surfar e mostrando que o Brasil é, no que define Sasaki: “uma fábrica de excelentes atletas de surfe e competidores”, adicionando que é um trabalho que está sendo feito muito na base e elogia o profissionalismo que isso traz ao esporte.

2 thoughts on “‘TEAHUPUPO’: Mais uma vitória da Brazilian Storm”

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