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O transporte público é uma das — senão a única — opção válida para estudantes e trabalhadores de baixa renda para se locomover pela selva de pedra chamada Goiânia. Os frequentadores até podem tratar quase como uma segunda casa, é o Terminal da Bíblia, podendo ser chamada também de TB —  para íntimos que o frequentam 2 vezes ou mais ao dia. 

Chega a ser impossível escolher uma situação específica para discorrer sobre. O ambiente em si se tornou uma bolha além da sociedade comum. Existe então, um ecossistema próprio, com salgados duvidosos, frutas, verduras, legumes, castanhas, eletrônicos, calcinhas e lingeries. Tudo se encontra lá. Não duvido nem que alguém passe por lá apenas para fazer a feira ou compras do mês.

O ponto é que em dia, na formação de uma sociedade com normas de trejeitos sociais, abandonamos nossos instintos primitivos de quando vivíamos em cavernas, caçavam nossas refeições e guerreavam diariamente com povos vizinhos por terra e mais espaço. E se você é um estudioso desses temas, esqueça tudo o que sabe se precisar pegar o “eixão” às 17h de um dia útil. Esqueça também a física: não só dois, mas quatro corpos ocupam, sim, o mesmo espaço. Não é muito comum, ou até mesmo possível, ter educação quando seu ônibus chega.

Como diria Hobbes, o homem é o lobo do homem. Percebemos isso ao receber, talvez de outro plano, flashbacks de vidas passadas quando chega o 263. E aproveitando a deixa de citar grandes filósofos e estudiosos da sociedade, Criolo certa vez cantou que “Não existe amor em SP”. Criolo não frequentava um terminal lotado em horário de pico. Criolo não queria sentar para seguir em sua viagem de 50 minutos. Se então o multiverso existe, em algum deles Criolo canta “Não existe amor no TB”.

Não sei quantos “desculpas” pedi para as pessoas quando tinha que descer com o ônibus estupidamente lotado, ou quantas vezes lutei, sem muito orgulho de meus atos, para alcançar um lugar vago. Mas sei um fato em números: quantos bottons decorativos que carregava em minha mochila se desprenderam na aventura de sair no ponto. Até agora, cinco de oito se perderam. Os três guerreiros, não sei quanto tempo aguentarão. Tenho medo de, um dia, eu me perder nessas saídas e acabar me tornando parte do ônibus eternamente, ou pior, de passar meu ponto e ter que gritar para o motorista: ABRE AI, VAI DESCER!

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