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Goiás é o décimo colocado em exportações industriais do País. Com remonte à época da busca por ouro, cada vez mais a atividade se tornou presente na região, sobretudo no foco produtivo: alimentos. Assim, vale o retrospecto da importância do desenvolvimento das indústrias no Estado, visando traçar o panorama do histórico e perspectivas futuras da atividade.

Crise e jogo de poder: nasce a industrialização goiana

Historicamente, o Brasil é um país moldado por atividades econômicas voltadas às próprias riquezas agrícolas. Assim, desde o período colonial, passamos por ciclos de exploração que evidenciaram um foco agrário, que se estende à principal atividade de exportação e produção de Goiás.

Foto: Estudo Administração

O professor de história e criador da página @histo.geek, Phellipy Fontes, destacou o processo de industrialização brasileiro. “O Brasil em sua gênese se constituiu como um país essencialmente agrário, principalmente durante a Primeira República. Nesse período, as elites agrárias estaduais lideradas por São Paulo e Minas Gerais monopolizavam a estrutura política nacional. “

“A concentração das indústrias na região sudeste do Brasil não ocorre de maneira aleatória ou mesmo pré-definida.”, garante Phellipy.

“Contudo, a crise capitalista mundial de 1930, juntamente com a reconfiguração do jogo de poder político brasileiro através da derrota das oligarquias da Região Sudeste frente a Getúlio Vargas, alteram os rumos da economia brasileira e consequentemente a economia goiana. Afinal, a proposta varguista era a de promover a industrialização do Brasil com base em uma política nacional-desenvolvimentista.”

Dessa forma, já na década de 30, Goiás passa a caminhar em direção à industrialização, como garantiu também o historiador. Porém, apenas nas décadas de 70 e 80 são criadas políticas mais sólidas voltadas ao setor.

Industrialização “café com leite”

Graças à estrutura político-econômica da Região Sudeste, as indústrias foram inicialmente concentradas no eixo São Paulo e Rio de Janeiro. Isso já que com a crise da economia cafeeira, o estímulo ao parque industrial brasileiro foi, de forma disparada, comandado pelo Sudeste. As oligarquias passaram a investir no campo da indústria e, consequentemente, o transporte e comunicação nacionais foram inicialmente desenvolvidos nessa área.

“A concentração das indústrias na Região Sudeste do Brasil não ocorre de maneira aleatória ou mesmo pré-definida. Nota-se historicamente a partir da década de 1930, uma série de políticas promovidas na região com o intuito de atrair indústrias através da isenção de impostos e fomento de parques industriais. Tais políticas geraram resultados? Basta olhar para os índices econômicos da região sudeste e a quantidade de indústrias que se instalaram lá “, confirma o historiador.

“Penso que aqui no estado de Goiás, o governo federal deve promover iniciativas mediadas pelo governo estadual com o mesmo processo de atrair e fomentar o estabelecimento de indústrias aqui na região. Os efeitos desse processo a longo prazo serão por exemplo o desenvolvimento tecnológico e a geração de empregos.”, afirma.

Perspectivas da indústria goiana no novo governo

“O reforço da indústria goiana deve ser uma meta do governo federal para promover a integração da região centro-oeste em consonância com o desenvolvimento industrial do restante do país. Pelo histórico político do atual governador do estado e suas recentes declarações, ele está disposto a colaborar e trabalhar juntamente ao governo federal. Por isso, além do histórico de Geraldo Alckmin como um político ligado à indústria paulista, não vejo grandes divergências entre essas duas partes que possam impedir substancialmente uma parceria entre o estado e o governo federal no que diz respeito a políticas de reforço industrial no estado de Goiás.”

Considerando a mudança de ideais na transição de governo, principalmente em relação a fatores econômicos, novas políticas públicas podem surgir. Isso devido à própria divergência, o que nos faz pensar nas possíveis mudanças, sobretudo no setor do agronegócio. Dessa forma, Phellipy destacou prováveis medidas do setor.

“Penso que os esforços do governo federal para o setor agropecuário se voltarão para a priorização da agricultura familiar.”

“Isso de acordo com as atuais composições dos ministérios e debates sobre a renovação das políticas públicas nacionais. Obviamente, o setor agropecuarista de exportação, que é fundamentalmente importante para o Brasil não será abandonado pelo governo federal. Contudo, haverão políticas com o objetivo de fomentar também o mercado interno.”

Governo Bolsonaro e políticas voltadas às indústrias: opinião

“O governo Bolsonaro promoveu uma série de políticas industriais agressivamente liberais. Se no curto governo Temer o Brasil se movimentou rumo a uma direção ainda mais liberal, o governo Bolsonaro seguiu a mesma linha, conferindo um grau ainda maior. Entretanto, o governo atual, ainda em seu início, mostra certas nuances de que provavelmente a guinada liberal promovida pelo governo anterior será de certa forma freada. Isso não em uma perspectiva que fuja totalmente do rumo liberal, mas em um viés que permita ao governo brasileiro propor políticas responsáveis e justas que atendam não somente os industriais, mas também as demandas da população.”

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