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Com o grande sucesso da série dirigida por Tim Burton, Wandinha (Netflix) trouxe de volta aos holofotes do público geral a subcultura gótica, e com isso, para muitas pessoas, reacendeu preconceitos e criou novos estereótipos.
Afim de desmistificar alguns pontos e conhecer melhor sobre essa subcultura, conversamos com o influenciador digital e gótico Pedro Augusto, também conhecido como Piter Salvatore, que tem uma página no Instagram focado em conteúdo gótico.
Lab Notícias (LN): Como se iniciou a influência da cultura gótica na sua vida?
Piter: Eu acredito que o gótico sempre esteve presente na minha vida desde a infância. Quando a gente se autodenomina gótico a gente percebe que as nossas referências vêm de muito cedo, desde as personagens mais trevosas dos desenhos, o gosto por temas sombrios, histórias de terror, gatos pretos e todas essas coisas que compõem o universo mais sombrio e obscuro da realidade sempre estiveram comigo e influenciaram a visão que eu tenho hoje e que foi se construindo ao longo do tempo e compondo a minha identidade.
LN: É de senso comum que existe muito preconceito acerca desse tema, com quais você mais convive e como lida com esses preconceitos?
Piter: Acredito que eu não sofri tantos preconceitos assim pois eu não abuso muito do visual, tem muita gente que gosta de se expressar mais através do visual gótico — e há vários nuances de visuais góticos –, e eu nunca realmente saí completamente montado, com maquiagem extravagante e roupas muito chamativas, então não sofri tanto preconceito assim pois as pessoas ligam muito pro visual.
Os preconceitos que eu mais vejo são das pessoas achando que é só uma fase, que não entendem, que não param pra estudar e entender um pouco e acabam julgando a partir das próprias visões e não do que a coisa realmente é, as pessoas que riem da gente, pessoas que associam a subcultura ao satanismo e ao ocultismo — e não que a gente não tenha uma relação simbólica e artística com esses temas –, mas a subcultura gótica é laica e além disso existem também preconceitos até mesmo dentro da subcultura.
LN: Sobre esses preconceitos internos, quais são?
Piter: Dentro da subcultura a gente tem várias manifestações preconceituosas, entre elas a gente pode citar os elitismos, porque tem uma geração mais velha de góticos que vêm dos anos 80 e que têm bastante aversão aos góticos que vieram depois, às músicas góticas que vieram depois. Segundo eles tudo se perdeu, e o que vale mesmo é o que acontecia nos anos 80, eles rejeitam os chamados “Baby Bats”, que são os góticos que assim se descobriram recentemente.
Além disso, eles acreditam que a subcultura é só sobre música e que não tem mais nada associado, isso porque não compreendem a subcultura como um sistema. Existem também outras manifestações de preconceito, tipo gente que fetichiza mulheres góticas e a rejeição de alguns certos estilos de música.
LN: É inegável o sucesso e os holofotes que a série Wandinha trouxeram para o mundo gótico, no entanto muitas pessoas da comunidade veem a série como um mero “hype” passageiro e que por fim gerará uma idolatria pelo fictício e uma rejeição pelo real. Você acredita que ela traz representatividade ou ajuda a reforçar estereótipos?
Piter: Eu acho que a série vai por dois caminhos, igual você apontou, ela traz um pouco sim de representatividade gótica – principalmente para uma série da Netflix que atinge públicos enormes e principalmente jovens. No entanto, ela também reforça um pouco alguns estereótipos mas nem tanto dos góticos em si, mas por causa da personagem mesmo: a personagem é daquele jeito, ela é ranzinza e um pouco sociopata, por assim dizer, mas é uma coisa própria dela e não exatamente das pessoas góticas.
Apesar disso, a Wandinha tem muitas características de uma pessoa gótica, como o gosto pelas coisas macabras e sombrias, o uso do corpo de forma teatral para expressar identidade e beleza, o gosto por literatura antiga como a gente vê na série, e também eu acredito que na personalidade dela tenham alguns traços, principalmente porque ela é uma personagem bastante esquiva nas relações sociais (e não que todo gótico seja assim), mas tem uma certa tendência de comportamento. Além disso, o entendimento da morte como algo vital e natural. Então acredito eu que ela traz um pouco de representatividade, mas ao mesmo tempo reforça sim alguns estereótipos, mesmo que de forma não tão extravagante, não de forma tão intensa.
LN: E quais suas impressões sobre a série?
Piter: Eu acho que é uma série satisfatória, ela tem um desenvolvimento muito bacana e no geral eu curti bastante a ambientação, que é uma ambientação muito fidedigna e representativa para nós góticos que gostamos de ambientes mais fúnebres e mais assustadores, com uma certa veia clássica. A série tem muita referência à literatura gótica clássica, como Edgar Allan Poe e outros escritores e como ela é dirigida pelo Tim Burton, que é o showrunner da série, ele dirige os cinco primeiros episódios se não me engano, então tem a marca dele ali, a gente percebe que quando tem a presença de um diretor experiente, a série ganha uma nova camada e uma nova perspectiva.
Eu acredito que o mistério foi OK, eu suspeitei algumas coisas desde o início mas ele é um mistério que dá pra levar, dá pra te prender e tem uma resolução legal. Uma coisa que não gostei foi em relação à Wandinha que parece que não tinha defeito nenhum, sabe? Então isso afasta um pouco o telespectador da identificação com a personagem, ela tinha muitas habilidades e era boa em todas, as pessoas nunca apresentavam um grande conflito para ela. Apesar dos outros obstáculos que ela tem na série, parecia sempre que ela tratava de forma muito fácil as coisas. Mas no geral gostei bastante da série, ela tem uma narrativa muito bem elaborada, tem uma estética muito presente e muito bacana.
Eu gostei bastante que eles trouxeram atores latinos mas ao mesmo tempo tem algumas questões, pois a maior parte dos vilões são negros então tem alguns problemas aí. O Tim Burton é um diretor com muitas problemáticas envolvidas e ele já deu várias declarações racistas, então ele sempre coloca personagens negros como vilões. Ao mesmo tempo ele é um gênio criativo, ele tem uma marca pessoal muito consolidada e as histórias dele, os filmes dele, a filmografia dele, é uma das maiores referências góticas que a gente tem no cinema.
LN: Quais outras produções você recomenda sobre esse tema?
Piter: Os filmes do Tim Burton são os maiores exemplos sobre a cinematografia gótica que eu posso citar. Outras produções visuais seriam por exemplo Alice no País das Maravilhas, que tem uma veia bastante ligada à fantasia sombria, que é um dos gêneros que muitos góticos gostam. Além disso, tem filmes do expressionismo alemão, que foram filmes pioneiros na construção do cinema gótico. Podemos citar por exemplo, Metrópoles, tem também Nosferatu que é bem conhecido e O gabinete do doutor Caligari.
Depois há também os filmes noir, que são as primeiras produções de investigação policial, com enredos policiais que influenciaram bastante o cinema. Temos também produções mais recentes, tipo a franquia Anjos da Noite que tem muitos elementos góticos, Entrevista com o Vampiro, ali nos anos noventa, que é também um dos destaques. Eu cito muitas outras produções no meu Instagram, então se quiserem dar uma olhada lá, fiquem à vontade.