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Recentemente, o boom da arte urbana goiana pelas mãos do grafiteiro Fábio Gomes trouxeram de volta pautas e assuntos datados na comunidade artística. Embora a “alta” do grafite, o preconceito, falta de incentivos e altos custos para produção ainda permeiam e atingem principalmente os artistas de rua menos conhecidos.
O que é arte?
Há quem se engane que definir o que é arte é um trabalho simples. Por toda a história da humanidade filósofos e estudiosos tentaram chegar à uma definição concreta do que vem a ser arte. Para Kant, famoso filósofo alemão, a arte é algo racional e livre e que se diferencia da natureza, em contraponto, para Aristóteles a definição de arte é a imitação da natureza.
“Na minha opinião, o que define uma expressão, que é entendida por meio dos sentidos, enquanto arte é principalmente o tempo. Essa questão do o que é arte é algo que vem sendo trazido muito por conta da arte contemporânea ser, para alguns, uma coisa muito difícil de se entender e interpretar. Mas, eu compreendo que o tempo é o principal fator para determinar se uma coisa é de fato arte, então cabe a nós deixar-nos tocar por isso e com o tempo se isso vai entrar para história”, comenta a estudante de História da UFG e apreciadora assídua da arte, Paula Bittar.
O movimento artístico conhecido como Arte Contemporânea surgiu em meados do século XX e teve papel fundamental para o que veio ser a arte urbana, posteriormente como um movimento ligado à contemporaneidade. Na Arte Contemporânea, ao contrário das artes modernas e renascentistas, o que “vale” é mais a ideia e o conceito do que o resultado. Nesse movimento se rompeu com a arte voltada para os museus e exposições, a ideia era propor ideias e técnicas originais e inovadoras que iam ao contrário do tradicionalismo anterior.
Popularização da Arte Urbana
A arte urbana surge como um movimento que tem o papel de trazer para as ruas as expressões dos menos favorecidos, misturando a crítica e cotidiano ao ambiente urbano. Embora tenhamos visto essa popularização recente da Street Art, esse movimento vem tendo já há anos cada vez mais os holofotes da mídia tradicional, das academias de arte e da população em geral.
Em outubro de 2018, a arte de rua ganhou muito destaque com o caso do artista Banksy, que triturou sua obra em um leilão em Londres.
Banksy é mundialmente conhecido tanto por suas obras com temas extremamente críticos como refugiados, neonazismo, racismo e extrema pobreza, quanto por sua identidade oculta.
Esse caso gerou grande repercussão na mídia e trouxe milhares de novos entusiastas para conhecer a arte urbana, para alguns foi o principal fator do boom recente.
“Sempre foi muito difícil poder nos expressar, muito por conta de rótulos de sermos vândalos e que o que fazemos é vandalismo, mas acredito eu, que com esse caso do Banksy que foi para todo lugar, as pessoas estão acabando com esses rótulos. Quando você vai fazer um trabalho mais demorado, uma coisa mais elaborada, precisa de uma autorização, e eu já fiz muito vandal, só que hoje não faço mais, dá até cadeia” pontou Diego Gomes, artista plástico e grafiteiro.
Dificuldades e preconceitos
Com a nova onda de pensamentos conservadores e de extrema-direita no mundo todo, a classe artística foi, como na segunda guerra, rotulada pejorativamente como progressista e regularmente atacada. No Brasil não foi diferente, artistas renomados foram xingados e agredidos regularmente.
Com o fim do Ministério da Cultura em 2018, muitos artistas passaram por dificuldades para sobreviver, em especial os artistas urbanos. Sem o auxílio do governo federal, tiveram que se reinventar e criar coisas novas, como no caso de Fábio Gomes, que reinventou sua arte usando partes vivas do ambiente urbano em seus grafites, mais especificamente as árvores como cabelo.
“No começo, não foi fácil, eu passei muita dificuldade, até para comer. Eu pedia nas casas para fazer os desenhos, e o pessoal pagava bem pouco, porque não tinha esse tipo de trabalho aqui”, comentou Fábio Gomes em entrevista para o portal UOL.
Ainda que muito elogiada, as artes urbanas ainda sofrem muito preconceito e confusão com o vandal, ou pichação (outra vertente dentro da arte urbana).
“Muita gente bate na tecla da diferenciação entre grafite e pichação, eu já não acredito que seja algo assim tão discrepante e vejo ambos como formas de manifestação. O grafite principalmente como manifestação artística mais acessível, tanto para quem produz quanto para quem consome. Isso porque, para a produção a gente tem um meio acessível que são as ruas–justamente por isso a gente tem o retrato de muitos grupos minoritários, e acessível também para quem consome, a gente passa de carro e a pé o tempo todo e acaba consumindo diretamente e indiretamente esse tipo de manifestação artística.” pontua Paula Bittar.
Recentemente, o Ministério da Cultura foi recriado pelo presidente Lula com a pretensão de reascender as produções culturais no país. O orçamento para o ministério foi definido pelo governo em 10 bilhões de reais. Além disso a classe artística espera novas medidas:
“Outras dificuldades que enfrentamos muito são: a má formação da polícia que não entende muito a proposta da arte, a logística e os materiais extremamente caros para a realização do grafite.”– comentou Gomes Grafite.