- São condenados os assassinos de Marielle Franco e Anderson Gomes - 30 de outubro de 2024
- IA’s, infoxicação e descredibilidade: Reuters divulga previsões para o panorama jornalístico em 2024 - 22 de janeiro de 2024
- Brasil, o país do vôlei feminino - 15 de agosto de 2023
O tênis feminino no Brasil sempre teve nome e sobrenome: Maria Esther Bueno. Mas, nos últimos anos, a modalidade no país subiu de nível com dois nomes principais: Beatriz Haddad Maia e Luisa Stefani.
O momento é único para as mulheres, como traz Sylvio Bastos, comentarista de tênis da ESPN, com os nomes no topo dos rankings WTA (Associação Feminina de Tênis). Bueno, por exemplo, nunca esteve em boa posição no ranking, já que esse foi criado apenas uma década depois dos anos de glória de sua carreira, próximo a sua aposentadoria.
“O tênis brasileiro sempre teve bons jogadores entre os 100 do mundo, em alguns momentos pontuais, conseguiu ter uma boa geração e colocar 4 e até 5 entre os 100, mas sempre no masculino. Agora, depois de muito tempo, as meninas também têm conseguido esse momento vitorioso“, analisa Sylvio.
Luisa Stefani
O aumento da visibilidade do esporte no Brasil começou devido às Olimpíadas de Tóquio, realizadas em 2021, nas quais Luisa Stefani e Laura Pigossi fizeram história conseguindo as primeiras medalhas olímpicas brasileiras na competição.
Pouco depois, a carreira de Stefani tomou uma virada inesperada. Após chegar à semifinal de duplas femininas do US Open – sendo a primeira brasileira a chegar tão longe desde Maria Esther Bueno, em 1968 -, pisou de mau jeito e acabou rompendo um ligamento no joelho, lesão que a afastou das quadras por um ano.
Em 2021, mesmo sem jogar, fez mais história entrando no top 10, com a 9ª posição, no ranking WTA. Stefani foi a 6ª brasileira a alcançar esse feito.
Com o retorno triunfal, conseguiu ser campeã no WTA 250 de Chennai em 2022, seu primeiro torneio de volta. Além disso, conquistou o WTA 1000 de Guadalajara e o WTA 125 de Montevidéu. Tudo isso graças ao apoio de seu treinador, Leo Azevedo.
“Comecei a treinar a Luisa em março de 2022, quando ela estava no Brasil se recuperando da cirurgia e me perguntou se eu poderia ajudá-la nesse processo. Foi o início. A Luisa teve uma volta excepcional, depois de tanto tempo parada, conquistou muito em pouco tempo. Como treinador, fico muito contente e orgulhoso“, comenta Leo.
Já em 2023, o ano começou bem para Luisa, que conseguiu a primeira vitória 100% brasileira de duplas mistas no Australian Open, primeiro Grand Slam do ano, ao lado do sulista Rafael Matos.
“Luisa voltou muito forte depois da lesão, foram 6 títulos com parceiros diferentes, 30 vitórias em 33 jogos. Voltou mais forte e ainda mais madura, apesar de muito nova. Um futuro enorme pela frente“, diz Sylvio.
Em fevereiro, foi também campeã de duplas femininas do WTA 500 de Abu Dhabi.
Bia Haddad
Já Beatriz Haddad Maia, começou seu destaque em 2021, ao voltar ao top 100 do ranking WTA depois de dez meses em inatividade.
Um ano depois, Bia foi vice-campeã do Australian Open em duplas femininas, com Anna Danilina, fazendo a melhor campanha feminina brasileira no torneio desde Maria Esther Bueno.
Ainda em 2022, Haddad Maia estreou na chave principal de um dos Grand Slams do ano, o US Open, ao lado de nomes como Serena Williams e Iga Swiatek. Meses depois, foi vice-campeã de duplas femininas no WTA 1000 Guadalajara, perdendo para Luisa Stefani. Foi nesse ano que Bia conquistou o top 15.
Agora, em 2023, Bia começou com o pé direito, chegando à semifinal do WTA 500 Abu Dhabi e conquistando a posição 12 no ranking mundial, sendo o melhor ranking da história do Brasil na WTA.
“A Bia agora é a 12ª do mundo, um resultado enorme pro tênis brasileiro. Desde Guga em 2000 e 2001, o Brasil não tinha um jogador ou jogadora com chances de títulos em torneios 1000 e Grand Slams‘, cita o comentarista.
Além das Olimpíadas, outros fatores contribuíram para o aumento do consumo do tênis no Brasil e no mundo.
“A Pandemia impulsionou o tênis em quase todos os lugares do mundo, por ser um esporte seguro e sem contato. A curto prazo, infelizmente, foi uma das causas do crescimento. E, também, acho que vivemos na melhor geração de ídolos da história: Nadal, Federer, Djokovic etc. Isso impulsiona muito“, comenta o treinador.
Incentivando o tênis no Brasil
Apesar de tudo, o esporte sempre teve baixa aderência no país, devido a motivos como falta de incentivos e alto custo aos praticantes, com equipamentos e torneios.
“Incentivar a prática esportiva e popularizar uma modalidade qualquer no Brasil é uma tarefa árdua que esbarra em vários obstáculos. Certamente a questão dos custos é a mais delicada. O material básico (raquetes, bolas e locação de quadras), além do custo de professores, impede que a população menos favorecida possa viver esta experiência“, comenta o diretor do projeto Massificação Maria Esther Bueno e membro do grupo RTB, Marcelo Motta.
O grupo Rede Tênis Brasil (RTB) é um projeto nascido da filantropia, atuante em todas as regiões brasileiras, que trabalha com atletas da base até o profissional, com passagem de grandes nomes como Stefani e Haddad.
“Nossa proposta é reforçar e unir o tênis no Brasil através de gestão e geração de oportunidades para milhares de crianças e jovens. Acreditamos no poder transformador de gerar impacto na vida de jovens, dando a chance de viverem todo seu potencial. O RTB tem o objetivo de ser um fomentador do tênis brasileiro, desenvolvendo atletas e treinadores, investindo no esporte, desde a apresentação da modalidade em escolas públicas, com o projeto de Massificação Maria Esther Bueno, até a formação de atletas de destaque no cenário mundial, com o Time RTB“, explica Marcelo.
O projeto Massificação Maria Esther Bueno teve inicio em 2014, com o objetivo de introduzir o esporte aos alunos de escolas públicas. Mais de 50 mil crianças ao redor do país já foram beneficiadas pela iniciativa, com cerca de 500 professores ligados à rede pública capacitados pela RTB.
“Para mudar esta realidade é preciso estratégias alternativas que possibilitem que ao menos este esporte seja conhecido e apresentado ao maior número possível de crianças que possam ser futuros praticantes. O caminho básico é ir até onde estas crianças estão, levando o material adequado. Resumindo, escolas e parques públicos e material apropriado para a iniciação ao tênis. Através de quadras adaptadas, mini-redes e práticas pedagógicas inclusivas e pertinentes a cada fase do desenvolvimento maturacional dos alunos, o tênis passa a ser matéria da Educação Física escolar e mais um esporte a ser apresentado em qualquer espaço público. Assim é possível despertar o interesse e detectar possíveis talentos motores para esta modalidade“, diz Motta.
Felizmente, houve um avanço: a isenção do imposto de importação das raquetes. Com isso, houve o aumento da prática, de 2,6% para 3% entre 2019 e 2021, como informa o ITF Global Tennis Report 2021. Consequentemente, a quantidade média de importação delas também obteve aumento de 70%, segundo a Associação pela Indústria e Comércio Esportivo.
Os maiores desafios ainda estão pela frente, com os outros três Grand Slams do ano: US Open, Wimbledon e Roland Garros. E é preciso continuar torcendo pelas representantes da nação, para que façam ainda mais história.
Imagem de capa: Luisa Stefani e Bia Haddad Maia na final de duplas do WTA 1000 de Guadalajara (Foto: Jimmie48/WTA)
Legal conhecer um pouco mais sobre as atletas brasileiras de tênis. A divulgação de suas conquistas impulsiona mais uma modalidade esportiva que pode fazer diferença na vida dos nossas crianças e jovens. Ótima matéria!
Os brasileiros amantes do esporte são muito privilegiados por acompanharem esse momento de tantas conquistas das tenistas e de suas equipes. Além do desenvolvimento em quadra, como é importante a mídia trazer esse espaço às atletas! Excelente reportagem, muito completa e didática. Rumo ao top 10 e à história!