Batalha de rap: uma expressão da periferia

Confira mais sobre a Batalha de Rap Zero Meia Ponte e sobre a importância do gênero na comunidade
fev 16, 2023 , ,
Tempo de leitura: 6 min
Tayná Freitas
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Eminem, Tupac, 50 cent, Criolo, Racionais MC’s, Gabriel, o Pensador e Sabotage: esses são apenas alguns nomes famosos no mundo do rap nacional e internacional. O ritmo que ficou conhecido no Brasil como o som da periferia ganhou força com os anos, com letras que abordam temas como ostentação e a resistência contra injustiças sociais, políticas, raciais, entre outras.

O termo RAP vem do inglês Rythm and Poetry, sendo esta a explicação prática de como o gênero funciona. Carregado de um flow rápido, com combinações de palavras que criam uma sonoridade melódica e impactante, é uma forma de desafiar a sociedade e as dificuldades encontradas na periferia, onde a cultura do rap é mais forte.

Um exemplo disso é a criação e popularização de batalhas de rap, que envolvem um beat, ou seja, uma batida rítmica e rápida, e também a improvisação de versos usando todo o arsenal disponível na cabeça do MC.

Batalha de Rap Zero Meia Ponte

Em Goiânia, existem algumas batalhas de rap que acontecem com frequência, como a Batalha de Rap Zero Meia Ponte. Recentemente, eles comemoraram o aniversário de um ano desde a criação do projeto, que semanalmente, aos domingos, realiza batalhas na Pista de Skate do Itatiaia, na Vila Itatiaia, em Goiânia.

Salomão, um dos organizadores do projeto vê o rap e a batalha como uma forma de salvar vidas.

A gente vê a importância disso, né? Desde já salvar vidas a conseguir ter esse contato próximo com a juventude, que é muito importante. O jovem muitas vezes consegue naquele momento escutar e ser escutado, então é importante, fica essa ideia do aprendizado, essa ideia da troca de experiências e conhecimentos.

Disse Salomão.

Gabriel Dias, ou como é mais conhecido, MC Dias, é um dos rappers que já participaram da Batalha Zero Meia Ponte desde as primeiras edições e concorda que o rap é importante para a comunidade.

[O rap] Inspira e ensina, e é a voz da comunidade, da minoria, acho que é importante porque traz eventos sociais, e isso acaba salvando muita vida, sabe? Pessoas que poderiam estar aí na rua, com a cabeça mais fraca.

Ele ainda comentou sobre o impacto que o rap traz para a comunidade.

Ela possibilita o jovem da periferia a valorizar a si mesmo e a valorizar sua periferia, de onde ele vem, e traz informação, traz conhecimento. Ajuda nessa questão também, de substituir a violência pela força das ideias e da palavra.

Completou o MC.

A Zero Meia Ponte acontece semanalmente todo domingo, exceto durantes datas comemorativas (como foi o aniversário de um ano, quando a batalha foi feita no sábado), durante colaborações e imprevistos. De acordo com Andressa, outra colaboradora e criadora do projeto, já ocorreram até mesmo edições de batalha de rappers femininas, a Batalha das Minas, porém por falta de rappers femininas em Goiânia, a organização traz rappers de fora da capital, e isso faz com que sejam realizadas apenas algumas edições ao longo do ano.

Público

Júlia Camila presenciou algumas das edições da Zero Meia Ponte e tem uma visão positiva do rap e do projeto goiano.

Foi uma experiência diferente, eu já assistia batalha de rap pelos canais de stream, mas sempre tive curiosidade de assistir, é uma experiência que toda pessoa deve presenciar. É uma forma da comunidade ficar mais perto da cultura e com isso diminuir a marginalização, e dar mais oportunidade da comunidade demonstrar sua arte.

Adicionou a jovem.

Salomão afirma que um dos objetivos do projeto é unir a comunidade, instigando os transeuntes: “Quando a gente pensa na ideia da comunidade, a gente pensa também na questão de todo o coletivo, todas as pessoas que participam ali, que param um pouco, que olham então. Às vezes a pessoa nunca viu, já para dar uma olhada, dá uma instigada, para ver como é. Sempre aparece alguém que nunca teve acesso a esse tipo de cultura. Para nós, isso já é missão cumprida, o fato de conseguir de certa forma divulgar, compartilhar e vivenciar em conjunto com essas pessoas”, adicionou o organizador.

As batalhas ocorrem de forma aberta ao público, e qualquer interessado pode participar. Com horário programado para início às 16h30 do domingo em dias normais de funcionamento, as vagas ocorrem por meio de lista para os rappers que desejam participar das batalhas do dia. Ocasionalmente, o evento também conta com convidados externos, de acordo com o que Andressa explicou.

Ela ainda adicionou que não são apenas adultos que podem participar, afirmando que há uma tentativa da parte do projeto de agregar cada vez mais crianças, incentivando-as a rimarem, fazendo com que o ambiente da Batalha Zero Meia Ponte seja agradável a todos.

Acho que o espaço da arte é um espaço em que a pessoa tem sim que se demonstrar.

Disse Andressa.

Preconceitos sobre o rap

O rap é mal visto por boa parte da sociedade por conta de a maioria das pessoas que produzem e se identificam com o ritmo e poesia serem da periferia. Sobre o assunto, o MC Gabriel comentou o seguinte: “Acham que são marginais, pessoas marginalizadas, pessoas com falta de informação, né? Que são sem rumo e sem futuro, e isso é algo que a gente passa. O rap em si é resistência, então a gente precisa passar por cima disso e mostrar que é diferente”.

Ainda apesar de enfrentar estereótipos, o rap é uma cultura da periferia que vem se expandindo cada vez mais. Tomando forma de uma cultura, por muitos, como é o caso dos entrevistados, o rap é visto como o “salvador de vidas” e também uma forma de identificação e inspiração para uma comunidade. Em luz à isso, a equipe do LabNotícias entrou em contato com a Secretaria de Cultura do Estado de Goiás, buscando saber se há ou se já houve algum projeto ou apoio do Estado em relação às manifestações e reivindicações feitas pelo rap goiano, porém até a data de publicação não houve uma resposta.

Uma fala de Júlia ainda reitera a importância da resposta da Secult. A jovem acredita que o órgão público deveria contribuir de forma financeira para criar e dar suporte a batalhas de bairro, incentivando o acesso à cultura, desenvolvendo competições e também investindo em estruturas públicas como praças e quadras, onde são normalmente realizadas as batalhas.

Foto em destaque: Tayná Freitas.

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