Doação de sangue: a baixa nos estoques e a pouca procura de voluntários preocupam

Devido a alarmante falta de bolsas de sangue nos estoques, pontos de coleta visam mobilizar ainda mais a população no período que antecede o carnaval. Confira como funciona o processo e quem pode fazer parte desse grande movimento solidário.
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Visando o aumento do estoque de bolsas hemáticas, pontos de coleta e hemocentros de todo o Brasil realizam projetos de incentivo e conscientização para novos ou recorrentes doadores de sangue todos os anos. Isso se dá pela incidência da baixa procura por parte dos voluntários, o que acarreta o não atendimento de toda a demanda de transfusões para hospitais e maternidades.

Foto: Instagram/Hemocentro Goiânia

Com a chegada do feriado prolongado de carnaval, essa mobilização tende a se intensificar, pois a procura por bolsas de sangue aumenta devido à alta ocorrência de acidentes nas estradas. Sejam causados por viagens em rodovias, imprudência no trânsito ou infrações por embriaguez e alta velocidade, esses episódios ocorrem com mais frequência nessa época do ano de acordo com a Polícia Rodoviária Federal.

Em entrevista ao LabNotícias, o biomédico Wilson Moreira Torres Junior, supervisor do Banco de Sangue do Hugol, comenta a situação durante esse período vivido de perto por ele.

A situação é crítica, principalmente por estarmos iniciando o período de carnaval e logo em seguida a semana santa. Em feriados prolongados, historicamente, tem aumento de acidentes de trânsito e acidente doméstico, principalmente por causa do uso excessivo de álcool, lotando assim os hospitais de urgência e emergência. Prevendo o aumento do consumo e baixa das doações, ações de mobilização da população através das mídias são iniciadas para a sensibilização dos doadores para colaborar com o enfrentamento desse momento delicado.

Destarte, o Ministério da Saúde calcula uma redução de cerca de 15% a 20% das doações de sangue se comparado ao ano de 2019, antes da pandemia de Covid-19. Assim, além do aumento de demanda nos serviços de urgências e emergências como já destacado, o afastamento dos voluntários preocupa em função da maior movimentação de quem precisa. Apesar dos estoques de bolsas sanguíneas estarem em situações ainda mais críticas de falta, a baixa, porém, não é exclusividade apenas da ocorrência do vírus.

A pandemia da Covid-19 vem castigando os bancos de sangue de todo o mundo, conforme pode ser constatado em matérias por todo o planeta, porém não é a única responsável pela diminuição dos doadores. Os surtos de dengue, zika e chikungunya também contribuem para esse resultado desfavorável.

Destaca Wilson.

Receio acerca da retirada do sangue ainda perdura

Doar de sangue a quem precisa é um ato solidário e de altruísmo, pois é uma ação comunitária não remunerada que supre as necessidades ligadas à saúde pública. Contudo, uma pequena parcela da população efetivamente apta para doação é ativa regularmente nos locais de coleta.

Diversas razões podem levar as pessoas aos hemocentros, mas, infelizmente, alguns indivíduos comparecem somente quando há algum amigo ou familiar necessitado. Como consequência, o medo ainda é um grande empecilho para atingir os objetivos preteridos pelos órgãos da saúde, sendo algo que impede muitos doadores potenciais de participarem do movimento solidário.

Entretanto, ao contrário do que muitos pensam, o procedimento de doação é totalmente seguro, e conta com avalições contra qualquer problema que possa tornar o sangue impróprio e inseguro para uso. Além disso, todos os voluntários passam por um processo de triagem e cuidados antes, durante e após a retirada da bolsa de sangue. Assim, são feitas perguntas preventivas, aferição de pressão arterial, nível de açúcar e a realização de testes que detectam doenças que podem ser transmitidas através de transfusão para o paciente receptor (como hepatite, HIV, malária e algumas DST’s).

Destaca-se, também, o mito acerca da quantidade de sangue retirada em cada coleta, em função da concentração total presente em nosso corpo. Uma doação comum é de cerca de 450ml (um adulto tem em média 5l no total) e o corpo consegue facilmente repor essa quantia em um dia, se o voluntário ingerir muito líquido como recomendado. Logo, é comprovada a segurança para o doador se tomados todos os cuidados necessários, como uma boa alimentação e repouso para evitar qualquer tipo de mau estar ou desmaios.

O procedimento para doação de sangue é simples e rápido, levando cerca de uma hora entre a triagem e a coleta. Não há riscos para o doador, porque nenhum material usado é reutilizado, o que elimina qualquer possibilidade de contaminação através de agulhas, luvas, algodão ou seringa.

Separação das propriedades sanguíneas e seus tipos em estoque

Foto: Instagram/Hemocentro Goiânia

É de se referir como são catalogados os dois tipos de doação no banco de sangue: a doação dirigida – aquela que é feita especificamente para um receptor específico (geralmente algum familiar ou conhecido que necessite) – e a doação alogênica ou homóloga – aquela que não é feita visando um destinatário específico e o sangue do doador é armazenado para uma transfusão futura à quem precisar.

Porém, destaca-se uma carência ainda maior de tipos sanguíneos negativos nos estoque de hemocentros e bancos de sangue, principalmente nessa época do ano. Isso se deve, entre outras razões, às diferenças entre quem pode ou não receber determinado tipo. Por exemplo: o sangue O- é um doador universal, mas só pode receber de outro O-. Já os tipos A-, AB-, E B- só podem receber de outros que também sejam negativos. Em virtude disso, as reservas especialmente para esses tipos sanguíneos são sempre minoria.

Os estoques negativos são sempre os mais críticos, isso se justifica pela predominância dos grupos sanguíneos positivos, aproximadamente 82,5% da população são Rh positivas.

Explica Wilson.
Foto: Instagram/Hemocentro Goiânia

Uma história de troca solidária: muito além de dar e receber

Jaqueline Carrilho passou por momentos delicados em consequência da realização de cirurgias e precisou receber uma bolsa de sangue durante a internação. Tempos depois, já recuperada, ela decidiu adotar a prática e se tornou uma doadora voluntária, visando poder ajudar outras pessoas.

Ela conta que, na ocasião, esteve internada em um hospital particular que vendia as bolsas de sangue para transfusão aos pacientes por um valor elevado. Assim, mobilizada em contribuir com algo que é gratuito no âmbito da saúde pública, retribui o ato de amor que recebeu e colaborou para salvar sua vida.

Decidi doar sangue para poder ajudar o próximo, foi uma forma que eu enxerguei o cuidado pelo outro de uma forma tão simples, porém tão genuína e simbólica. Na época em que eu mais precisei quando estava hospitalizada, foi uma bolsa de sangue que me ajudou a me recuperar.


Eu precisei de uma doação de sangue após passar por cirúrgicas super delicadas, pois nessas cirurgias perdi uma quantidade significativa de sangue. Só que pelo fato de ter passado todo o procedimento cirúrgico em um hospital particular, tive que comprar uma bolsa de sangue, e o valor foi bastante alto. E ter passado por tudo isso, despertou em mim uma visão ainda mais sensível a cerca da doação de sangue e permaneci doando até os dias de hoje.

Foto: arquivo pessoal/Jaqueline Carrilho

Como ajudar?

Para se tornar um doador, o voluntário precisa estar dentro de todos os pré-requisitos básicos estabelecidos pelo Ministério da Saúde. De acordo com o órgão, podem doar sangues pessoas que:

  • Tenham entre 16 e 69 anos (menores de idade requerem autorização escritas dos pais ou responsáveis);
  • Se sentir bem e saudável;
  • Ter acima de 50 kg;
  • Apresentar documento oficial com foto;
  • Não apresentar quadros de febre, gripe, resfriados, diarreia ou Covid recentes;
  • Não estar grávida ou puérpera;
  • Estar bem alimentado e descansado, tendo dormido pelo menos seis horas na noite anterior e evitado alimentos gordurosos.

Esses são apenas alguns dos critérios e impedimentos temporários estabelecidos para o momento da doação, você pode conferir a lista completa no site do HemoGO. Assim, ao cumprir todos os requisitos, procure a unidade de coleta de sangue mais próxima, realize o cadastro e a doação logo em seguida.

Lembre-se dos cuidados que devem ser tomados após a recolha para evitar reações adversas: permanência no local por cerca de 15 minutos, mantimento do curativo por algumas horas, alimentação reforçada após a doação, evitar esforço físico durante o restante do dia e ingestão de muita água. Além disso, devem ser respeitados os intervalos entre doações e a quantidade máxima por ano (quatro para homens e três para mulheres). Qualquer anormalidade ou alteração suspeita deve ser analisada a fim de evitar complicações graves posteriores à coleta.

Benefícios para os doadores

Além dos benefícios pessoais de satisfação e sensação de dever cumprido pertencentes ao doador voluntário, ele também pode gozar de outros benefícios sociais instituídos por lei que variam de uma região para outra. Dentre eles estão o pagamento de meia-entrada em alguns parques, shows, cinemas e a isenção na taxa de pagamento de inscrições em concursos públicos mediante a apresentação da carteira de doador.

O Hemocentro de Alagoas promoveu um sorteio de ingressos para excursões aos voluntários com a finalidade de incentivar a doação para o aumento de estoque. Já a OVG promoveu, aqui em Goiânia, a pontuação no banco de horas para bolsistas do ProBem doadores de sangue e medula óssea como estratégia de incentivo visando conscientizar a população da importância do ato.

Doar sangue salva vidas e uma bolsa pode atender até quatro pessoas que precisam. Faça sua parte e contribua com essa causa tão importante.

Foto em destaque: Instagram/Hemocentro Goiânia

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