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Luana Cardoso

Foto em destaque: Troca da guarda do Palácio do Planalto. Créditos: Marcos Corrêa/PR

Sempre que visito algum lugar importante penso em quanta coisa já foi presenciada naquele espaço, quanta história aquelas paredes, obras de arte, aquele chão, já viu e ouviu. Não preciso ir muito longe para isso, basta pisar em um ambiente antigo ou histórico, que a sensação de “viajar através do tempo” me vem. A energia dos lugares nos passa mensagens. 

Nessas andanças por Brasília, me peguei pensando o que, para além da política, aquelas paredes me contariam. Não obstante, o que a rampa do Palácio do Planalto me confessaria das coisas que já viu, sentiu e presenciou. 

A rampa, de mais de 60 anos vividos, já viu presidentes subirem para a posse, vivos e até mortos. Já viu jogadores de futebol descerem rolando de alegria em comemoração, e já se entristeceu ao ver golpistas, fantasiados de brasileiros patriotas, destruírem seu patrimônio. 

Projetado por Niemeyer e concluído nos anos 1960, o Palácio do Planalto viu Brasília nascer e prosperar ao seu redor. Hoje, é a sede do Poder Executivo Federal, mas já foi apenas um quadrado de concreto, em 1958. 

Com linhas de traços horizontais característicos, que trazem uma sensação de leveza e elegância, o Palácio teve, junto de sua inauguração, o marco de transferência da capital federal para Brasília. A rampa de acesso ao salão nobre, onde os eventos mais especiais são realizados, desde então, admirou a história do país acontecendo. Foi de lá que o concreto polido observou Brasília crescer e participou dos momentos mais importantes.

É pela rampa que o simbolismo que dá vida à posse do novo presidente acontece. É a rampa que aparece, grandiosa e imponente, nas fotos da cerimônia. Somente Lula já subiu a rampa vitorioso com sua faixa presidencial por três vezes. Ela já se alegrou com o presidente em 2003, em 2007 e tornou a sorrir em 2023, onde ao lado de representantes do povo brasileiro, presenciou mais um momento histórico. 

A rampa também já viu a taça do mundo de futebol subir, e gente descer, contagiados pela alegria do Penta na Copa do Mundo de Futebol de 2002.Há 21 anos atrás, o jogador Vampeta deu cambalhotas no chão frio, enquanto era ovacionado calorosamente pelos brasileiros que assistiam a tudo lá de baixo. A alegria do futebol, naquele dia, foi mais importante que qualquer regra de etiqueta e protocolos. 

Apesar de ser símbolo de alegria, a rampa também já chorou. A primeira vez foi em 1985, quando o corpo sem vida do presidente Tancredo Neves a subiu dentro de um caixão para ser velado no salão nobre. A segunda vez foi este ano, quando foi escalada por golpistas que se intitulam brasileiros patriotas, mas que foram incapazes de respeitar a história. 

Se a rampa falasse, com certeza me diria que, desses 63 anos, aquele foi seu pior dia. Naquele 8 de janeiro, ela gritaria por respeito. Ver seu espaço ser violado, quebrado, depredado e ameaçado, até de longe assusta, imagina sentindo em cada grão de poeira que o toca. 

Mesmo os lugares, espaços físicos inanimados, são capazes de nos contar coisas. Ao olhar para a rampa do Palácio do Planalto, cada memória dessa me preenche. Não precisei presenciá-los de fato, em alguns deles eu sequer era nascida. Mas, viajar mentalmente no tempo por meio daquele concreto, ao assisti-lo pela TV, vê-lo pelas fotos ou pessoalmente, mesmo que de longe, me fez pertencente, como brasileira, a cada momento desses. Nem todos me orgulharam, é claro, mas pensar que, mesmo que pessoas subam e desçam ao longo dos anos, a memória será preservada na superfície daquele chão de concreto imponente que já ninou um país no berço esplêndido, me emociona. 

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