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Era comum eu esperar a Terra girar e girar, passar os dias o mais rápido possível até o fim de semana. Mal dava 10h, ainda de manhã, mesmo sabendo que ela ainda estava no sétimo sono, eu já estava lá, no portão da casa dela, gritando para que acordasse e me deixasse entrar. Passar o sábado, em um dos silêncios mais confortáveis e na despreocupação mais leve e no clima mais gostoso e todos os outros ‘mais’ que só quem estava apaixonado conhece.
Até que… não mais. Longe de monopolizar a dor de um término, acho que todo casal que recém colocou um ponto final em um relacionamento de longo prazo crê que descobriu o amor. Que a angústia e o aperto no peito que sentem é inédito na história da humanidade. ‘A minha história foi diferente, era um sentimento único e ninguém nunca teve que lidar com uma dor tão imensa’, é o que imaginam. Nessa, me incluo.
Mas parando para pensar um pouco, se fosse realmente esse o caso, todas as pessoas andariam por aí em um eterno mar de lamúria e depressão. Não que não andem, mas acho que não tem nada a ver com isso.
De todo o jeito, acho que a parte que mais dói é que os dias perderam um pouco do sentido. Não faz diferença mais se a Terra girar e girar para a semana passar logo, porque depois dela só vai haver outra semana.
As borboletas que antes estavam no estômago subiram para o peito e parecem apertar, cada vez mais.
Nesse drama, o dia a dia parece um pesar cada vez maior e a cabeça chega a rachar imaginando o que fazer, como atenuar esse incômodo que chega a ser físico, talvez palpável.
Mas acontece que, diante de algo tão grande, majestoso e inexplicável que é o amor, nada racional parece fazer jus a um inimigo tão formidável. Exceto, talvez, não fazer nada. Porque apesar de todo esse drama, a Terra vai continuar a girar e girar. Pode até parecer que não, mas a ausência do boa noite não vai mais doer tanto, a falta do abraço não vai mais rasgar até a alma e todos os ‘mais’ uma hora vão fazer não doer mais.
Só basta o tempo.