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Símbolo Cultural e Culinário em pelo menos três estados do país, o Caryocar brasiliense camb (nome científico do fruto) é amado e odiado por muitos brasileiros. Pertencente a família Caryocaraceae, se destaca por ser o principal fruto do Bioma Cerrado. De acordo com o Inventário Florestal Nacional (IFN), existem três espécies diferentes de pequi, além de duas subespécies, que crescem tanto no Cerrado quanto em partes da Amazônia.
Em Goiás, o pequi supera recorde de extração a cada ano. Segundo dados da Pesquisa de Extração Vegetal e Silvicultura (PEVS) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2021, a extração chegou 2,7 mil toneladas no estado, aumento de 8,1% comparado ao ano de 2020. A extração de pequi em Goiás é menor apenas que a do estado de Minas Gerais, pioneiro em produção.
A ocorrência do fruto
Nesse sentido, a disputa entre os estados é grande, e antiga, há quem diga que o fruto pertence a Minas Gerais, a Goiás, a Tocantins e até Mato Grosso. Mas a verdade é que se o clima e o solo forem favoráveis, ou seja, o bioma predominante for o preferido, ele cresce (como cresce!) e dá fruto. À vista disso, o mapa abaixo produzido e divulgado pela Sistema Nacional de Informações Florestais (SNIF), mostra a ocorrência do fruto no Cerrado brasileiro. O mapa cobre diversos estados, entre eles Maranhão, Bahia, Piauí e Distrito Federal:
Em meio a lendas e estórias, passadas de geração em geração, tudo leva a crer que o pequi é, de fato, um fruto nativo do Brasil. Casca dura verde, polpa macia amarela e cheio de espinhos por dentro, são essas características próprias do fruto. Não bastante, dele é possível extrair o azeite de pequi; e devido ao gosto e cheiro extremamente característicos, vai bem (ou para alguns, nem tanto) em diversas receitas. Desde um acompanhamento para o frango, arroz ou galinhada, até um docinho, como pudins, sorvetes e mais.
Pequi sem espinhos
Ainda em Goiás, foram lançadas em novembro de 2022, através de uma parceria entre Emater (Agência goiana de assistência técnica, extensão rural e pesquisa agropecuária) e Embrapa Cerrados , seis novas variedades de pequi, sendo três dessas, pequi sem espinhos. As novas cultivares resultaram de mais de vinte anos de pesquisa, desenvolvida pela união dos dois órgãos para a assistência ao agricultor goiano. Para tanto, tiveram como coordenadores a Dra. Elainy Botelho, pesquisadora da Emater, e o pesquisador da Embrapa Cerrados, Dr. Ailton Pereira.
Em entrevista ao Lab Notícias a Dra. em agronomia Elainy Botelho, pesquisadora há mais de quarenta anos, nos revelou que o produto da pesquisa surgiu como uma resposta às demandas que chegavam dia-a-dia por parte dos agricultores do estado.
Segundo ela, “os produtores queriam ao mesmo tempo atender a uma demanda legal (reserva que por lei uma área deve ter a fitofisionomia do Cerrado) e ganhar dinheiro, plantar algo que tivesse retorno financeiro. Então pequi foi essa alternativa que encontraram, pois trata-se de um fruto do Cerrado (cumpre a lei) e ao mesmo tempo é possível vender esse fruto.”
Como surgiu a versão do fruto sem os espinhos
Todavia, a Doutora acrescenta que quando o agricultor foi plantar o pequi, ele não conseguiu, pois o fruto apresenta um problema de dormência na semente — de 100 sementes de pequi plantadas, apenas cinco nascem. Assim, ao não ser bem sucedido no fazer as mudas, é que as demandas por ajuda começaram a chegar. Em muitos casos, através dos órgãos responsáveis por assistir as necessidades desses agricultores familiares. “Dessa forma, começamos a nos dedicar ao assunto, até que o pequi sem espinhos apareceu para nós.”
De forma inesperada, essa variedade de pequi surgiu, a pesquisadora explica: “o pequi sem espinhos estava na natureza, na fazenda de um produtor que queria multiplicar aquela planta, que era uma só. Então ele veio até nós, pedindo para ajudarmos a tirar a raça dessa variedade. Como já tínhamos a técnica da clonagem, fomos até lá e clonamos o pequi.” Após isso, anos de pesquisa possibilitaram que hoje mudas com essa variedade cheguem ao agricultor.
Pequi como um símbolo goiano
Além de símbolo do Bioma Cerrado, o pequi, de mesmo modo, é considerado um patrimônio goiano. A doutora Elainy reforça a importância que o fruto possui aqui em Goiás:
“pequi é uma planta muito importante, amada pelos goianos. Isso porque as pessoas têm o hábito de consumi-lo em família, é um hábito passado de pai para filho, criando um lado emocional nos goianos em relação ao fruto. A criança pequena na fazenda quando chega o tempo do pequi, o pai a coloca no arreio do cavalo e vai colher o fruto. Em outras palavras, isso vai criando um lado emocional, uma tradição, pois aprende-se a comer pequi desde cedo.”
Variabilidade do Pequi
Em relação a clima, solo e características do pequi, Elainy Botelho afirma que a variação é enorme. O pequi é encontrado em uma grande faixa territorial no Brasil que está para lá do Bioma Cerrado. Existe a ocorrência do fruto até mesmo na Amazônia. Elainy destaca que esta variação, trata-se de uma espécie diferente da encontrada em Goiás, chamada pequiá. A Região Nordeste e Sudeste também entram na lista.
Além disso, os pequis podem ser pequenos (pequi anão), médios ou ainda muito grandes. “Há uma variabilidade genética ostensiva de pequizeiros. O que facilita sua adaptação em diferentes tipos de solo e clima. No entanto, em Goiás os pequizeiros preferem solos mais arenosos e mais leves, clima seco; ou seja, perfeito para o que o Cerrado tem a oferecer. Entretanto, o pequi ainda é uma planta bastante rústica, levada ao laboratório há pouco tempo. O melhoramento genético ainda tem muito para avançar” disse Elainy.
Se você ficou interessado sobre o processo de formação das mudas e a colheita do fruto. Saiba mais sobre o cultivo do pequi, através do infográfico abaixo: [Fonte: Embrapa Brasil]
Imagem destacada por Jean Marconi – Flickr.