Venezuela em solo brasileiro: o fluxo de venezuelanos para o Brasil

Pesquisas revelam os números da imigração venezuelana no Brasil, apontando a crise do país vizinho como causa.
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Segundo dados do Informativo Mensal – do mês de Abril de 2023 – levantados pelo Subcomitê Federal para Recepção, Identificação e Triagem dos Imigrantes, as principais nacionalidades a se registrarem no Brasil, durante o período, foram as sul-americanas, lideradas pela Venezuela, que apontou 8 mil novos registros de imigração. O balanço mostra que as saídas e entradas de venezuelanos foi a maior do mês, alcançando 9,5 mil de taxa.

Fonte: elaborado pela OBMigra, abril de 2023.

Formado por diversas instituições, o órgão responsável pelos dados, monitora e consolida ações relacionadas à Operação Acolhida, política pública do Governo Federal para garantir uma recepção adequada para refugiados e migrantes dos países vizinhos:

“O documento tem o objetivo de garantir a transparência sobre a recepção dos imigrantes venezuelanos no País e manter a atualização e controle estatístico. Os números são produzidos pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, Receita Federal e Polícia Federal, e são consolidados pela OIM, Agência da ONU para as Migrações. O Subcomitê é parte do Comitê Federal de Assistência Emergencial”, de acordo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Conforme as informações mais recentes da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 262.5 mil migrantes e refugiados da Venezuela vivem no Brasil. Sendo este, o quinto país de destino mais procurado por esses imigrantes. Porém, segundo estatística divulgada em 2022, através do Informativo Mensal, nos últimos cinco anos até então, o número de entradas de migrantes venezuelanos ultrapassou a marca de 700 mil. Destes, 376.459 mil saíram, enquanto, 325.763 mil permaneceram no país.

Perfil Populacional das Entradas

Fonte: Operação Acolhida, site do Governo Federal

Em relação ao perfil da população em situação migratória, os dados mostram que a maior parte são homens, representando 53% do total, enquanto, 47% são de mulheres. Destes, 30% estão entre 18 e 29 anos, já a maioria está na faixa dos 30 a 59 anos, alcançando 49%.

Migrantes, Imigrantes ou Refugiados?

Apesar de parecidos, eventualmente estes termos são utilizados de forma errônea. E para que não restem dúvidas, trouxemos as definições das Nações Unidas Brasil, acerca do assunto:

“Uma definição legal uniforme para o termo “migrante” não existe em nível internacional. Alguns formuladores de políticas, organizações internacionais e meios de comunicação compreendem e utilizam o termo “migrante” como um termo generalista que abarca migrantes e refugiados. No entanto, “Migração” é comumente compreendida implicando um processo voluntário; por exemplo, alguém que cruza uma fronteira em busca de melhores oportunidades econômicas.”

A organização adverte:

“Este não é o caso de refugiados, que não podem retornar às suas casas em segurança e, consequentemente, têm direito a proteções específicas no escopo do direito internacional […] Refugiados são pessoas que estão fora de seus países de origem por fundados temores de perseguição, conflito, violência ou outras circunstâncias que perturbam seriamente a ordem pública e que, como resultado, necessitam de “proteção internacional”[…] Portanto, misturar os conceitos de “refugiados” e “migrantes” pode enfraquecer o apoio a refugiados e ao refúgio institucionalizado em um momento em que mais refugiados precisam de tal proteção.”

Já o Imigrante refere-se a uma pessoa que se desloca para outro país em busca de se estabelecer no local por um período, possibilitando melhores condições de vida e etc. Vale lembrar que: Emigrante, refere-se ao movimento de saída, enquanto, o termo Imigrante, refere-se ao movimento de ingresso.

Mas afinal, em qual destes termos o fluxo de venezuelanos se encaixa?

A crise na Venezuela

Nos anos 50 a Venezuela era reconhecida como a quarta maior economia do mundo, devido a estabilidade política da qual se beneficiava, e a abundância de suas riquezas – que incluíam o petróleo, sua maior reserva natural ainda nos dias atuais. Venezuela possuía um dos menores índices de pobreza da América Latina, o que possibilitou grandes reformas neste período, não só no combate a pobreza, como também na educação.

Contudo, porém, esse momento de prosperidade, que ainda não era pleno, viu-se interrompido com o surgimento da revolução bolivariana que, por meio de um pensamento socialista, durante o início do século XXI, levou o país a diversos conflitos. Boa parte disso, resultou no que se tem hoje: 94,5% dos venezuelanos em situação de pobreza, enquanto, 77% estão em situação de extrema pobreza, segundo a Pesquisa de Condições de Vida (Encovi), realizada em 2021 pela Universidade Católica Andrés Bello.

Mas nada acontece do dia para a noite: três anos antes, em 1998 o líder revolucionário Hugo Chavéz era eleito presidente, assumindo o Governo do país em 1999. Acontece que Chavéz, apesar de militar, nunca foi favorável ao poder da época. Entre conspirações e tentativas de revoluções, ele havia criado em dezembro de 1982 o Movimento Bolivariano Revolucionário, inspirado em Simón Bolívar, e de forte orientação nacionalista e esquerdista.

Ditadura

Assim, defensor da chama Revolução Bolivariana, Hugo Chavéz, em meio a promessas que não cumpriu – como salvaguardar a Constituição – assumiu uma postura ainda mais extremista. Com leis nacionalistas esquerdistas fortes e numerosas, conduziu Venezuela para um regime ditatorial de esquerda, vigente até o presente momento. Agora, sob nova liderança, Nicolás Maduro, seu sucessor e então vice-presidente.

Fonte: perfil oficial de Maduro no Instagram

Apesar, de ter enfrentado eleições presidenciais em 2013 e 2018 – em que foi reeleito – nesta última, Maduro não foi reconhecido pela oposição e nem pela comunidade internacional. Pois, graves acusações pesam não apenas para o seu Governo, como igualmente, para o de seu companheiro, já falecido, Hugo Chávez.

Entidades como a ONU, denunciam o Governo chavista comandado por Maduro, como uma ditadura que usa da violência para se manter no poder. O que inclui, execuções, sequestros, torturas, estupros e perseguição a opositores, segundo relatório divulgado em destaque acima.

Manifestantes x Forças armadas venezuelanas. Fonte:  lapatilla.com

Fator Econômico

Não bastando a crise política, Venezuela também enfrenta uma crave crise econômica, esta, parece estar intrinsecamente ligada a primeira. De acordo com aferição recente, divulgada esta quinta-feira (06/07), o Observatório Venezuelano de Finanças (OVF), estimou um acúmulo inflacionário de 100,8% no primeiro trimestre de 2023 na Venezuela. O Observatório é composto por economistas e especialistas independentes, que não compõem o Banco Central do país.

Outro indicador, realizado ainda em 2021 pela Encovi, revelou que 92,7% da população está em condição de insegurança alimentar, outros 57,9% estão em condição de insegurança alimentar moderada ou severa, por estado da Federação. Desta forma, vemos que a fome é uma consequência certa em meio a tamanho caos econômico. Já em 2018, Encovi apontou que mais de 60% da população perdeu em média 11 quilos por falta de comida. Por fim, amedronta imaginar o que passam os venezuelanos hoje, momento em que a inflação está ainda maior.

Fonte: Gazeta central blog 2017.

Perspectiva dos Nativos

“Infiltrados: Venezuela”, novo documentário realizado pelo economista e professor, Bruno Musa, em parceria com a empresa de mídia, Brasil Paralelo, lançado acerca de um mês no canal de stream da BP, busca entender a realidade da população do país. Segundo a plataforma:

“Fomos até o país que vive – e sobrevive – sob a ditadura chavista de Nicolás Maduro, testemunhar a situação das pessoas, muito além das estatísticas, muito além das notícias: ouvimos as narrativas, dessa vez, de quem vive na pele tal realidade.”

A Brasil Paralelo é, conforme site oficial, uma empresa de educação e entretenimento, orientada pela busca da verdade histórica, ancorada na realidade dos fatos, e sem qualquer tipo de ideologização na produção de conteúdo.

A organização também é premiada: este ano, em uma segunda vez, recebeu o Prêmio Boletim da Liberdade , em sua VI edição para as categorias: 1. principal organização que luta pela liberdade no Brasil e 2. principal obra do ano, com o Original BP Entre Lobos. Da mesma forma, a empresa foi reconhecida Internacionalmente pela Forbes como a segunda principal empresa do mundo na luta pelo livre mercado.

A produção cobre as dificuldades enfrentadas pelos venezuelanos não apenas no Brasil, como dentro da Venezuela. Por consequência, de seus 35 milhões de habitantes, 7 milhões já deixaram o país. Por dia, o Brasil recebe cerca de 800 deles, em média, 33 venezuelanos por hora. Assim, através do auxílio prestado pela Operação Acolhida e pela ONG Casa Venezuela, milhares de venezuelanos, conseguem retomar suas vidas aqui, em solo brasileiro.

Ao entrevistar parte dos venezuelanos que entram pela fronteira Brasil – Venezuela, na cidade de Pacaraima (Estado de Roraima), o documentário mostra que as respostas são semelhantes entre eles:

“Venho de uma família humilde, sempre trabalhei […] mas o salário não dá para cobrir as necessidades de uma família”, disse o imigrante Osvaldo Ramos. “Eu trabalhava[…] e por semana recebia algo como que 400, 450 bolívares [moeda venezuelana altamente desvalorizada]. Uma farinha, pão ou um pedacinho de queijo..” era o que conseguia comprar o imigrante e pai Celestino Pineda.

Osvaldo Ramos revelou um medo compartilhado entrem os que empreendem no seu país:

“Não se pode ter as coisas sem medo que venham e te expropriem. Na Venezuela, eles expropriam sua empresa, dizem ‘Olha, essa empresa está produzindo muito, vamos pegá-la para nós, para o Governo’. E com o tempo, quebra. Porque tudo que o Governo toca, quebra.”

Já a imigrante venezuelana, Derliz, expõem o que a intriga:

“Isso foi algo como… não posso explicar, porque foi tão rápido, tão assim que, na verdade, ninguém se dá conta em que momento isso aconteceu. Porque a coisa estava tão boa… que quando demos conta, já não havia nada! A crise, as coisas que estavam acontecendo… não nos demos conta de quando isso aconteceu.”

Enquanto Derliz demonstra dúvidas, Miguel Dias, sabe bem o que se passou:

“Na época em que nasci era diferente […] sempre havia comida. Um dos motivos de eu sair foi o custo alto da comida, o salário não dava para nada. Tenho filhos pequenos. Toda minha família deixou a Venezuela, não deu outra, saí também[…] Queria que esses anos voltassem atrás […] Quando pensamos em emigrar? Nunca. Assim como os cubanos fizeram […] Tudo começou quando o Governo da revolução entrou. Aí foi quando tudo mudou.”

A imigrante Anahí Mariño, nunca imaginou deixar o seu país, e demonstra, em meio as lágrimas, planos de um dia regressar à sua amada pátria:

“Eu dizia: eu sou a que menos saio do meu país. Não, não vou deixar a minha Venezuela, não, por quê?. Mas depois chegou um momento em que foi apertando, apertando, apertando, e, bom, cá estou. Eu amo a minha Venezuela, mas bem, com tristeza quando me viro e vejo ali [pausa para o choro] e vejo a minha bandeira. Que tristeza me dá [choro] ter deixado meu país… mas, bom, algum dia… nunca vou perder a esperança, de voltar para a minha Venezuela e encontrar uma Venezuela melhor, melhor do que a deixei, porque no meu país há muita fome, muita miséria” ela enxuga as lágrimas.

Para assistir o spin-off do documentário “Infiltrados: Venezuela”, clique aqui.

Banner de divulgação, perfil oficial Brasil Paralelo no Intagram.

Imagem destacada, fonte: farmvin, google imagens.

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